“O Belenenses terá um futuro seguro e positivo”

Passaram dez meses desde que tomou posse, se fosse hoje voltava a candidatar-se ao cargo de Presidente do Clube?
Quando vencemos as eleições, afirmei que presidir ao Belenenses era a maior honra da minha vida e hoje continuo a dizer exactamente o mesmo. É verdade que estes primeiros dez meses foram muito exigentes, mas também não é menos verdade que foram excepcionalmente gratificantes e motivadores. Desempenho o mandato que me foi conferido com um sentimento de grande orgulho e responsabilidade, acreditando que, juntamente com a minha equipa, estamos a dar passos sólidos no sentido de guiarmos o Clube até à sustentabilidade financeira e desportiva que nos permita olhar para os próximos anos e vislumbrar-mos um futuro seguro e positivo. No fundo somos os fiéis depositários da cultura, da identidade e das raízes da Instituição e temos a obrigação de ser dignos de todos os antigos belenenses que fizeram a história do Clube. Por tudo isto, a minha resposta é “sim”, voltaria a candidatar-me.

“Queremos gerar valor e reputação para o Clube” 

Mas o que é que o motiva para desempenhar estas funções?
Eu e a minha Direcção queremos fazer história no Clube, o que significa que queremos gerar valor e reputação para o Belenenses e para isso estamos conscientes de que temos, por um lado, que actuar com muita certeza, determinação e paixão na resolução dos dossiers mais complexos do Clube no sentido de assegurarmos a sustentabilidade futura do Clube e, por outro, sermos imaginativos no encontrar de soluções inovadoras que resolvam os problemas do dia-a dia. Em suma, fazer história é o combustível que nos alimenta no Belenenses.

Como é desempenhar um cargo onde se está muito exposto e sempre debaixo da mira da crítica?
Sobre o facto de estarmos sempre expostos à crítica, é uma consequência natural de quem assume este tipo de cargos, vozes discordantes vão existir sempre, viremos para a direita ou viremos para a esquerda, mas fui eleito para tomar decisões e é isso que faço. Aliás, para ser totalmente sincero consigo, tenho que lhe dizer que relativamente a mim já tenho idade suficiente para não me preocupar excessivamente com aquilo que os outros pensam a meu respeito, actuo sempre de acordo com a minha convicção e no caso concreto das minhas funções no clube, balizo sempre a minha prestação pelo cumprimento dos estatutos e por aquilo que me dita a minha consciência em cada momento. De resto é fácil: estarei cá enquanto os sócios quiserem e enquanto eu tiver forças e vontade para lutar contra as adversidades que teimam em andar de braço dado com o Clube, e sairei quando os sócios não quiserem ou quando eu não sentir essa motivação e, nesse momento, sairei pela porta por onde entrei, de cabeça levantada e sem qualquer drama.

No entanto também deve ser altamente reconfortante quando recebe elogios pela sua acção enquanto Presidente?
Sabe que, historicamente, nós no Belenenses passamos da euforia à depressão e da depressão à euforia a uma velocidade estonteante. Por isso lhe digo, outra vez, com a mesma sinceridade de há pouco, que faço o meu trabalho sem estar a pensar na crítica ou no elogio que daí pode advir. Alheio-me o mais possível desses soundbytes e vou tomando as decisões que entendo mais ajustadas para cada momento, com a certeza de que vamos deixar uma marca importante no Clube e que vamos fazer história pela positiva.

“Nos actuais corpos sociais do Clube há gente optimista e muito resiliente”

E sobre a sua equipa de trabalho? Está satisfeito com o rendimento de todos?
Posso dizer-lhe que estou muito satisfeito com a minha equipa e com o seu rendimento, e que tenho um grupo de belenenses ao meu lado que são gente optimista, honesta e com grande capacidade de resiliência, que é indispensável nestas funções. É evidente que todos os eleitos têm a sua vida profissional mas a maior parte deles chega, muitas vezes, a colocar o clube à frente das suas obrigações familiares e profissionais. Por isso, posso dizer-lhe com convicção que, no geral, formamos uma equipa coesa e solidária e que estamos todos cá com a única missão de servir o clube e de o administrar como se fosse a nossa própria casa, tomando decisões racionais e que sejam estruturantes para o futuro do clube.
Como em tudo na vida há sempre situações que se podem ajustar e melhorar e, nesse sentido, procedemos agora a um pequeno retoque na Direcção substituindo o Vice-Presidente José Miguel Soares, a quem quero agradecer todos os serviços que generosamente prestou ao clube durante este período, por um novo elemento que é o Arquitecto Pedro Lourenço, que passou a ser o responsável máximo pelas Modalidades de Pavilhão do clube.
Também no Conselho Fiscal, o Dr. Carlos Meira vai ser substituído em breve nas suas funções, embora continue também a colaborar noutras áreas do Clube.

“Não nos podemos deixar bloquear pela má herança recebida, prefiro pensar que o Clube tem enorme potencial e que é um gigante adormecido”

O Clube que recebeu era exactamente aquele com que contava?
Sempre entendi que uma das coisas com que era necessário romper relativamente ao passado recente do clube era alterar o discurso oficial, o discurso dos “coitadinhos”, pois essa postura condenaria gravemente o futuro do Belenenses, corroendo a auto-estima da massa associativa que se estava a afastar do clube. Por isso, prefiro procurar ter um discurso positivo e optimista não deixando de ser realista. A vida já me ensinou há muito que nada é fácil, mas também sei que poucas coisas são impossíveis de conseguir. Por isso, sinceramente, interessa-me muito pouco olhar para trás, embora, como é sabido por todos, o Clube em Novembro de 2014 se encontrasse mergulhado num mar de enormes dificuldades. A minha Direcção encontrou uma casa com os cofres completamente vazios e com dívidas de curto prazo de várias centenas de milhares de euros, o que quer dizer que tivemos que “inventar” soluções financeiras imediatas sob pena do Clube não poder prosseguir a sua actividade normal.
Esse foi o nosso ponto de partida. A partir daí, estamos a trabalhar dia e noite para voltar a colocar o Belenenses no lugar a que tem direito. Quando chegámos estávamos atados de pés e mãos, todas as semanas vamos desatando os nós que nos asfixiam.
Para além disso, como sabem, herdámos um PER que, para os sócios menos identificados com estes processos, gostaria de dizer que é um instrumento que veio substituir o antigo Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas e que visa ajudar a recuperação dos devedores que se encontram em situação económica difícil. A anterior Direcção decidiu recorrer a este procedimento com todas as vantagens (poucas no meu entender) e todas as desvantagens (muitas no meu entender) daí decorrentes, e agora o Clube é obrigado a trilhar este caminho, ou seja, a anterior Direcção foi-se embora mas deixou o clube amarrado ao passado.
Por isso, interessa não perder muito tempo a pensar na má herança recebida para não ficarmos bloqueados, e o que importa é não esquecer que o clube tem um enorme potencial, que é uma espécie de gigante adormecido e que temos que trabalhar afincadamente nos vários processos para encontramos um caminho seguro que nos permita regressar ao giro económico normal. Não é um caminho fácil mas, como costumo dizer à minha gente, se fosse fácil não estaríamos cá nós, estariam cá outros.

“Os constrangimentos na tesouraria são constantes, mas estamos optimistas e confiantes já para o curto prazo”

Percebe-se que as dificuldades financeiras são grandes. Como tem sido gerir a tesouraria do clube?
Nessa matéria, que é de enorme sensibilidade e melindre, o papel desempenhado pelo nosso Vice-Presidente Dr. Paulo Peters tem sido decisivo, dando-nos totais garantias de empenho e seriedade.
Posso dizer que começámos por implementar um modelo de gestão corrente de tesouraria de acordo com uma política de contenção de custos exigente, onde colocámos como prioridades o cumprimento das responsabilidades perante a Autoridade Tributária e a Segurança Social, os vencimentos dos empregados, as prestações e os impostos do PER e todos os FSE’s que, como se sabe, são de importância primordial para a atividade do Clube.
Em paralelo, trouxemos para dentro o controlo das contas das Escolinhas do futebol de formação e procedemos à renegociação de vários contratos de fornecimento de serviços, que nos permitiram uma significativa redução de custos. Gostaria também de dizer que esta Direcção decidiu que enquanto o clube navegar nos actuais problemas de tesouraria, nenhum dos seus dirigentes tem direito a receber quaisquer ajudas de custo, seja a que título for, o que quer dizer que, na prática, todos pagam para servir o clube.
Portanto, concluo dizendo que as dificuldades continuam a ser muitas, recorrentemente vão havendo alguns pequenos atrasos nos pagamentos, mas com uma gestão criteriosa temos conseguido ir resolvendo os problemas. O contexto é complicado até porque como é mais ao menos do domínio da massa associativa do clube, o nosso principal cliente não tem cumprido pontualmente com os pagamentos ao clube, o que nos causa constrangimentos enormes na tesouraria. Acreditamos, no entanto, que estamos a dar passos decisivos para que a dependência que temos relativamente a esse cliente se dilua, podendo olhar para o futuro com mais optimismo e confiança.