Desde há uns anos a esta parte, nas competições europeias de Andebol, as equipas Portuguesa, incluindo o Belenenses, conseguem bater-se mais ou menos de igual para igual com praticamente todas as equipas. Mas nem sempre foi assim. Fora, a derrota era certo e, mesmo nos jogos em Portugal, um desaire por números equilibrados já era considerado muito honroso. Belenenses e Sporting foram os primeiros a quebrar essa sina; e, nos jogos Fora, coube ao Belenenses conseguir a primeira vitória lusitana.

Na eliminatória da Taça dos Campeões Europeus a que hoje nos referimos, o Belenenses, que era bicampeão nacional, defrontou os franceses do Racing de Strasbourg.

Na primeira mão, no recém-estreado Pavilhão do Restelo (hoje, “Acácio Rosa”), o Belenenses, com uma exibição espectacular, bateu um adversário de um país com um nível andebolístico muito superior. Siderados, os franceses protestaram, com sucesso, o jogo, invocando um problema das tabelas no Pavilhão. O jogo e a vantagem que obtivéramos foram anulados; e os gauleses pensaram que, na 2ª mão, conseguiram eliminar-nos. Os seus desejos saíram frustrados, como veremos dentro de dias.

Mas, como tantos vezes aconteceu ao longo da histórica – e mais a mais, numa modalidade que, no nosso clube, tem tanta mística como o Andebol – a Alma Belenenses ergueu-se e, num jogo heróico, vencemos os gauleses, no seu próprio reduto, por 16-14.

A nossa equipa alinhou com: Carlos Silva; Manuel Sousa, Ferreira, José Manuel, Espadinha, Branco Lopes, Franco e Hernâni. Fica um destaque para Espadinha, autor de 7 golos, e um histórico do andebol belenense e português (como o foram José Manuel, Hernâni, Franco, António Ferreira e Carlos Silva, embora este tenha também actuado no Sporting).

Tornou-se, assim, o Belenenses a primeira equipa portuguesa a vencer fora nas competições europeias de Andebol.

Na sequência do grande triunfo europeu do Belenenses, o nosso consócio Homero Serpa escreveu um oportuno protesto pela omissão de congratulações oficiais ao nosso clube, em contraste com exemplos recentes de outro clube… Transcrevemos esse texto:

“Quando o Benfica, campeão nacional de futebol, eliminou a equipa moscovita do Tropedo na primeira eliminatória da Taça dos Campeões Europeus, o sr. Ministro, Dr. Sottomayor Cardia, enviou à equipa um telegrama de felicitações.

Entretanto, esqueceu o F.C. do Porto, que, por sua vez, tinha ultrapassado a primeira eliminatória da Taça dos Vencedores da Taça.

Voltou o sr. Ministro a cometer a mesma gafe em relação ao Belenenses, brilhante representante de Portugal na Taça dos Clubes Campeões Europeus de Andebol.

Realmente, jogadores que não recebem ordenado, nem prémios de jogo, que não têm ‘luvas’ e, no entanto, se batem, com o maior entusiasmo e determinação, pelo prestígio do desporto português, ultrapassando, com muito mérito, as limitações que impedem de ir mais longe, não mereceram de qualquer entidade (Director-Geral, Secretário de Estado, Ministro, etc., etc.) uma simples palavra de estímulo.

Que os belenenses, vítimas de manobras antidesportivas congeminadas na Basiléia, até mereciam.

Porquê? Por que motivo suas excelências, tão prontas a felicitar o Benfica (que mereceu o telegrama enviado, isso não está em discussão), se fecham num mutismo susceptível de especulações?

Mistério indecifrável ou questão politicamente insondável que classifica portugueses em filhos e enteados?

Mas o democrático ministro mais os seus directos e categorizados auxiliares em assuntos do desporto estão-se nas tintas para as explicações. ‘Azuis’ do Norte e do Sul cometeram o crime de eliminar equipas da Alemanha e da França e ainda queriam felicitações?

Era o que faltava!”.

JMA