Ana Linheiro, que ainda há pouco partiu desta vida, foi uma das sólidas colunas do Belenenses, uma das grandes figuras do nosso clube. Com um breve intervalo de pouco mais de uma década, em que viveu longe de Lisboa, ela fez parte diariamente da vida do Belenenses durante mais de 70 anos, como atleta, como dirigente e, antes e depois de tudo, como alguém que amou extremosamente o clube e o conhecia como poucos.
Ao longo de todas essas décadas, ela viu períodos de glória e de decadência. Viu o passar de Direcções atrás de Direcções (algumas das quais integrou). Sentiu na alma as mudanças do Belenenses e do mundo à nossa volta. Tratava por tu (outras) glórias imensas do clube, gerações de campeões como ela própria. Nela estavam presentes todos os instintos básicos do belenensismo.
Como atleta, brilhou na Natação do Belenenses entre 1942 e 1945 (note-se a sua juventude de então: entre os 13 e os 16 anos!). Foi internacional. Foi 3 vezes Campeã Nacional e 6 vezes Campeã Regional. Deteve 3 Records absolutos (100 metros Livres, 100 metros Costas e 200 metros Costas) e mais 6 de categoria (Juniores e Principiantes em 100 metros livres e em 100m Costas; Principiantes em 200 metros Costas; Juniores em 200 metros Livres). Ganhou a Travessia da Póvoa e a Prova Paço d’Arcos – Cascais em 1943, ao tempo competições muito populares. Tivesse a sua carreira sido mais longa e decerto todas estas conquistas teriam sido muito ampliadas…
Casou com outra grande figura do Belenenses, João Pedro Mendes, praticante de Natação, Basquetebol e Râguebi, e também dirigente, precocemente falecido.
A partir da 2ª metade dos anos 60, Ana Linheiro iniciou a sua actividade de dirigente no Belenenses. Uma das primeiras Direcções que integrou – mais precisamente entre 1972 e 1975 –, e que em especial realçava, foi a presidida pelo Major Baptista da Silva, também recentemente falecido e distinguido com a Cruz de Ouro, que, curiosamente, nasceu no mesmo dia que ela, só que um ano antes (Cabe aqui porém referir que, nestes apontamentos, só raramente destacaremos dirigentes que não tenham sido também atletas do nosso clube, e, mesmo assim, só os que já faleceram há muito. Existem muitas fricções e poucos consensos no Belenenses…).
Na Junta Directiva que governou o clube de 1967 a 1969, foi Adjunta de Modalidades Amadoras (Ginástica, Atletismo e Natação); entre 1970 e 1971, foi Seccionista de Ginástica; de 1971 a 1974, Directora das Secções Femininas das Modalidades Amadoras; entre 1975 e 1977, Directora da Ginástica, do Ténis de Mesa, do Râguebi e do Xadrez; entre 1978 e 1981, Seccionista da Ginástica Rítmica de Competição; entre 1982 e 1991, Directora do Departamento Histórico Desportivo. Passou por elencos directivos liderados por 10 diferentes Presidentes, o que também revela a sua consensualidade.
No período de 1968 e 1972, desempenhou igualmente funções directivas na Federação Portuguesa de Ginástica.
A “menina dos seus olhos”, contudo, era o nosso museu e sala de troféus, que organizou e conservou com desvelo, mesmo quando se fazia acanhado o espaço para a grandeza das nossas conquistas, da nossa história sempre a ser acrescentada. Na dedicação de Ana Linheiro, reuniu-se a vida e a memória de todos os que encheram aqueles 2 pisos de milhares e milhares de troféus que são testemunhas indesmentíveis da grandeza do Belenenses. Enternecedoramente, a obra continua com Argentina Fonseca, a filha de Matateu e sobrinha de Vicente, pares de Ana Linheiro no Olimpo do Belenenses, perpetuando assim esta cadeia dourada.
Já nos últimos anos da sua vida, Ana Linheiro prestou mais um relevante serviço ao nosso clube, escrevendo dois livros sobre o Belenenses e um outro especificamente sobre a Natação azul.
Com toda a justiça, a nossa (de todos) querida Ana Linheiro foi elevada a sócia de mérito (1972) e, depois, a sócia honorária (1984) do Belenenses, tendo ainda sido distinguida com o Troféu Pepe em 1983. Também detém a Medalha de “Bons Serviços” da Federação Portuguesa de Ginástica.
JMA