O presidente Patrick Morais de Carvalho abriu a porta às perguntas e os sócios corresponderam ao desafio. Não havia assuntos proibidos, nem temas tabu. Poucas entrevistas vão tão fundo quanto esta: afinal, os entrevistadores são profundos conhecedores da realidade do Clube, e vivem-no intensamente.
Se os sócios querem saber, o presidente responde.
Muitas perguntas, mas também críticas, elogios, comentários, incentivos, desafios e pontos de vista sobre diferentes matérias chegaram às caixas de correio do Belenenses.
Houve a necessidade de se tentar organizar tudo em forma de entrevista, catalogando por temas mais de uma centena de questões recebidas.
A ideia foi que nenhuma questão ficasse por responder e o Presidente fez questão de ir fundo na maioria das respostas, por respeito aos associados, o que torna a entrevista bastante extensa. Uma entrevista de horas, em que fica visível um pensamento próprio e aprofundado sobre vários temas, que agora é partilhado com sócios e adeptos do Clube.
O formato escolhido para apresentar as respostas foi o escrito e sem filtrar perguntas. Todos têm resposta, mesmo quando as perguntas se cruzam com outras. Por uma questão de privacidade, decidiu-se omitir o autor de cada pergunta em concreto , embora se partilhe no final da mesma o nome de todos os sócios que participaram na iniciativa.
Os temas foram divididos de forma a manter lógica e facilidade de leitura. Aqui se começa pelo que é a mola real do Clube: o futebol.

ÍNDICE

1. Futebol, Equipa B, Liga Revelação, centro de estágio, centralização dos direitos televisivos, estrutura da SDUQ e relação SDUQ/Clube
2. Futebol de Formação (Sub-15 a Sub-19), Futebol Infantil (até Sub-14) e relvados sintéticos do Restelo
3. Organização de jogos, Passe 1919, política de bilheteira, marketing e sócios
4. Modalidades
5. Requalificação do Complexo do Restelo, Instalações e Alugueres
6. Marketing / Comunicação
7. Fúria Azul, Grupo da Grade, nova legislação e a posição do Clube
8. Outras temáticas

FUTEBOL

Qual o plano para levar a equipa de futebol à 1ª Liga? O futebol mudou muito nos últimos anos e sabemos que a questão do investimento externo é um tema complicado depois da experiência que tivemos. Qual é o nosso sonho? Ter uma equipa competitiva que luta para a Europa e estar nos 5 primeiros da primeira Liga ano após ano. Custa sempre perceber que o Clube, ano após ano, não tem receitas que permitam ter orçamentos competitivos. Uma vez que a proposta da direção foi de fazer uma SDUQ, com a aprovação dos sócios a pergunta é: quando e como teremos orçamentos que nos permitam sonhar a ter equipas fortes e competitivas sem qualquer investimento externo neste contexto em que todos ou quase todos os clubes têm? Sozinhos, não vejo solução. “Sacos de dinheiro ajudam a marcar golos e ganham jogos”…
O nosso desafio é financeiro e desportivo. Financeiramente, o desafio é o da sustentabilidade: temos de ter uma operação rentável que se pague a ela própria pois queremos evitar ao máximo acumular qualquer tipo de dívida na nossa sociedade desportiva. Desportivamente, queremos todos colocar o Belenenses na I Liga.
O Belenenses para já tem o plano de não se endividar e de com os seus recursos solidificar-se nos campeonatos profissionais, sabendo que 2023/24 é um ano de adaptação e que em 2024/25 já será possível ter um orçamento diferente, um pouco mais forte, contando apenas com os nossos recursos.
Isto porque num segundo ano consecutivo nos campeonatos profissionais as sociedades desportivas têm acesso a receitas que lhe estão vedadas no primeiro ano em que chegam às competições profissionais. Também no segundo ano o Clube não terá que despender os valores que neste primeiro ano se viu forçado a investir em melhorias de infraestruturas.
Os clubes / sociedades desportivas portugueses, para além daqueles quatro clubes que têm ido com regularidade às competições europeias, e mais uma ou duas honrosas exceções, estão asfixiados por dificuldades, o que os deixa dependentes dos caprichos de investidores estrangeiros. Muitos recorrem a investidores estrangeiros não por opção, mas por estarem em situações de extrema necessidade. Nós não queremos o Belenenses de novo nessa situação como aconteceu em 2012 com a venda à Codecity.
Para que isso não aconteça antes de mais é preciso a compreensão, a paciência, a resiliência e o apoio dos sócios, que são os donos do Clube. É preciso Resistir. Esta é de resto aquela que acho deve ser a nossa palavra de ordem: Resistência!
No futebol português vivemos numa realidade distorcida onde acontece, a título de exemplo, uma situação caricata de verificarmos que a própria Liga Portugal tem um orçamento de gestão (este ano são 26 milhões) que é 3/4 vezes superior ao maior orçamento da I Liga e 7/8 vezes superior aos orçamentos médios da Liga 2, e que mesmo na I Liga só existem 4 orçamentos acima do da Liga Portugal.
Com certeza que há mérito dos dirigentes da Liga Portugal e das suas Direções na obtenção dessas receitas, mas que é um modelo que nos deve deixar a pensar seriamente no tema não tenho dúvidas, até porque, como se sabe, sem clubes e sem sociedades desportivas não haveria Liga Portugal. Uma discussão que com certeza a seu tempo se fará no seio da própria Liga é o da redistribuição destas verbas que resultam das receitas da instituição.
Entendemos que para chegarmos à I Liga é imperioso o Clube encontrar um modelo de financiamento que lhe permita ter sustentadamente esse objetivo.
Os três modelos de financiamento que são conhecidos e que estão mais em voga passam hoje pela multipropriedade de clubes através de fundos; compras de clubes por outros clubes e compras por investidores maioritários, o Belenenses não se revê em nenhum.
Portanto, sobram os modelos assentes na banca, que nos parecem inatingíveis para o Belenenses e para a maioria dos clubes portugueses e o modelo de investidores minoritários.
Acreditamos que haja um modelo de financiamento disruptivo, diferente dos conhecidos e que pode passar por algumas situações que estamos a estudar e a analisar e que passam sempre por o Belenenses manter a maioria do capital da sua sociedade desportiva, ou até, preferencialmente, a totalidade desse capital. O que interessa sempre garantir é que o poder continue a radicar na assembleia geral de sócios que em cada momento elege os seus representantes para a sociedade desportiva.
Temos que ser disruptivos como o fomos em 2018 quando, contra tudo e contra todos e contra todas as opiniões dos “especialistas”, fomos para a última divisão, vendemos o capital que tínhamos na B SAD e vencemos em toda a linha desportiva e juridicamente. Éramos nós contra o Resto do mundo e vencemos. Isso é o Belenenses!
De resto, estamos abertos a parcerias estratégicas com clubes de várias latitudes e é também nisso que estamos a trabalhar.
Tudo isto casado com a necessidade de resistência que temos que ter para o Belenenses chegar à data da centralização dos direitos audiovisuais, seja ela em 2024/25 ou em 2027/28, com lugar nas competições profissionais.
Para esta resistência que falo é imperioso, como já disse, a união da massa associativa em torno da equipa, sabendo que as dificuldades e os espinhos vão ser muitos.
E é isso que sempre peço aos sócios do Belenenses, que o seu orgulho em ser Belenenses seja sempre o mesmo, a ganhar, a empatar ou a perder, seja a jogar uma Competição Europeia contra o Barcelona ou o Bayer Leverkusen, a ir a Trajouce jogar para o Campeonato Distrital ou a ir a Matosinhos jogar para a Liga 2.
Aos mesmos sócios a quem deixo uma mensagem de gratidão e de reconhecimento por todo o apoio que têm dado nos últimos 9 anos às minhas direções, às nossas equipas desportivas e a mim próprio.
Uma coisa é certa, no tempo certo, o Belenenses vai voltar à I Liga.

Como forma de se tentar ir melhorando o plantel, o que pensa da possibilidade de formulação de geminações protocolares com equipas de outros campeonatos preferencialmente de ligas europeias de ponta, como forma de se alargar a qualidade do nosso plantel, com certeza de manter uma estrutura básica do futebolista português?
A direção vê estas possibilidades com bons olhos. Aliás com a proibição do TPO pela FIFA (a impossibilidade de agentes, empresas e fundos deterem percentagens dos direitos económicos dos jogadores) acreditamos que é esse o caminho que deve ser seguido, através de parcerias com clubes (aos quais o TPO não está vedado) em que todas as partes possam sair beneficiadas.

Em que medida e de que forma, as parcerias com as marcas presentes no complexo do clube contribuem para a contabilidade da SDUQ?
A SDUQ logrou captar vários patrocinadores para esta época de 23/24 que evidentemente contribuem de forma muito relevante para o seu orçamento. Em muitos destes patrocínios conseguiu-se também que o patrocínio fosse estendido ao Clube e às suas equipas do futebol de formação e das modalidades. Esta foi uma época particularmente positiva nesta vertente das parcerias / patrocínios e o trabalho feito nesta área começa a ser recompensado.
Hoje o Belenenses tem um conjunto de empresas que são nossas parceiras e patrocinadoras e com quem desenvolvemos várias atividades para que os nossos interesses comuns sejam alcançados, falo da Recicle (ERP/Novo Verde), Hospital da Luz, Kuboo, BIQ, AIFE, Águas do Caramulo, Tecnilor, Performance Tech GPS, Circle, Izidoro, MTI, Remax Yes, Lyca, Matateu Petisqueira, Nova SBE, Auditiv e da Frapoluz. Queremos cada vez tê-los mais dentro do nosso Clube e queremos continuar a trabalhar para atrair mais parceiros para a nossa caminhada.

Foi tentado ou poderá ser uma opção no futuro criar parcerias com clubes estrangeiros das principais ligas europeias, um pouco similar como o Mafra tem implementado com o Midtjylland?
Parcerias com clubes estrangeiros e nacionais estão completamente em aberto, já uma situação idêntica à do Mafra recusamos liminarmente, na medida em que a SAD do Mafra foi adquirida por esse clube dinamarquês que entretanto anunciou que o Mafra é a sua Equipa B. É algo que respeitamos, mas que não aceitamos, nem queremos, para o Belenenses. O Belenenses, acredito, nunca será a Equipa B de nenhum clube, nem nacional, nem estrangeiro.

Será possível criar alguma parceria com grandes empresas a nível nacional ou internacional como por exemplo se vê muito no campeonato alemão onde até o nome da marca está presente no nome do estádio?
Esse cenário está em aberto. Muito tem sido conseguido, o próprio naming do Estádio tem sido apresentado a algumas multinacionais tratando-se de processos de longa maturação e que carecem de se ir estreitando cada vez mais as relações com os nossos parceiros.

O balanço geral do Futebol Sénior está de acordo com as suas expectativas?
Somos otimistas por natureza e acreditamos muito no carácter, no profissionalismo e na entrega dos nossos jogadores, da nossa equipa técnica e do nosso staff.
Este primeiro ano nos campeonatos profissionais trouxe-nos uma série de desafios que tivemos de ir ultrapassando com muitos sacrifícios e muita atitude positiva.
Passámos no início da época por um difícil e muito exigente processo de licenciamento da SDUQ e do nosso Estádio para as competições profissionais, que obrigou toda a nossa estrutura, na altura ainda amadora e voluntária, a um trabalho invisível que foi impressionante e que merece muitos agradecimentos por parte de todos os belenenses.
Neste particular merecem uma palavra especial a minha antiga companheira de direção Mafalda Fernandes e o meu antigo e atual companheiro de direção Pedro Lourenço pelo seu empenho, dedicação e mérito. Foram verdadeiramente incansáveis e uma ajuda determinante para que pudéssemos integrar a Liga 2.
Não nos podemos dissociar do contexto em que estamos inseridos. Uma parte considerável das receitas que tinhamos previstas para esta época desportiva e para a nossa equipa A de futebol tiveram de ser e continuam a ser canalizadas para o reforço e melhoria das infraestruturas, de acordo com o caderno de encargos e as exigências da Liga Portugal.
O que nos foi pedido pela Liga Portugal foi que de um dia para o outro criássemos no nosso Estádio infraestruturas de topo quando toda a gente sabe que os clubes que vêm dos campeonatos não-profissionais vivem para satisfazer as suas necessidades do dia-a-dia.
Concordo plenamente com as exigências da Liga Portugal mas os decisores do futebol profissional português, onde agora também nos incluímos, têm de assumir responsabilidades neste aspecto. Quem chega dos campeonatos não-profissionais tem de ter apoios financeiros da Liga Portugal, tem de ter linhas de apoio financeiro para investimentos capex e tem de ter períodos transitórios para colocar em prática as exigências infraestruturais.
Acredito que isto vai acontecer num futuro próximo.
Sobre a nossa performance desportiva; independentemente da desigualdade dos orçamentos, queremos mais, queremos mais pontos e acreditamos que temos um grupo com capacidade para nos garantir a estabilidade na Liga 2 neste primeiro ano de regresso aos campeonatos profissionais.
Estamos aqui com uma perspectiva de irmos jogo a jogo, sempre com o sentido nos 3 pontos, sempre muito focados e as contas vão-se fazendo.
Sentimos que neste momento podíamos ter mais 3 ou 4 pontos o que nos conferiria naturalmente maior tranquilidade e permitiria aos atletas expressarem melhor as suas qualidades mas a Liga 2 é uma maratona que ainda agora está no princípio e é um campeonato extremamente complicado em que o último pode ganhar ao primeiro facilmente.

A dada altura, numa entrevista, o Presidente disse algo do género: “podemos estar 2/3 anos na liga 3, que financeiramente seria suportável, mas que quando chegássemos à liga 2 teríamos que subir logo pois a liga 2 é financeiramente insuportável” (pode não ter sido por estas palavras, mas foi algo parecido). O que o fez mudar de discurso quando no seu discurso demostrou conhecimento de causa?
Essa afirmação tinha duas motivações, a primeira era claramente retirar pressão aos nossos jogadores da época passada, objectivo que penso ter sido alcançado; e a segunda, era no fundo dar a perceber que na Liga 3, com as receitas que o Belenenses consegue gerar mesmo que não fossemos o orçamento mais alto da Liga seríamos, nesse contexto competitivo, sempre candidatos à subida de divisão.
Na Liga 2, entretanto esta época houve alguma evolução ao nível dos custos e das receitas. Os custos de contexto baixaram ligeiramente relativamente a épocas anteriores e as receitas fixas subiram, principalmente no que diz respeito às verbas das apostas desportivas. Por outro lado, havendo a oportunidade da Centralização dos Direitos Audiovisuais poder ser antecipada para a próxima época o contexto dessa afirmação pode mudar radicalmente.
O que tenho a certeza é que na Liga 2, para subir de divisão, é preciso haver investimento e o Belenenses quando o fizer tem de o fazer pela certa. Este primeiro ano, de adaptação às competições profissionais, estamos a disputar a Liga 2 unicamente com as receitas que obtivemos dos direitos televisivos, das apostas desportivas, de prémios da Liga e de alguns patrocinadores que conseguimos juntar à nossa causa. O Clube não está a enviar um único cêntimo para a SDUQ. Foi esta a nossa decisão que é uma decisão que tem os seus riscos, mas acreditamos que vai trazer resultados positivos à nossa Instituição a médio e longo prazo.
Este ano assumidamente corremos riscos desportivos, mas não corremos riscos financeiros.
Julgo haver, este ano, muita gente a correr sérios riscos financeiros na Liga 2. Nós não queremos saber da casa dos outros mas não queremos estar nesse barco.
Isto é para nós uma maratona, nunca foi uma corrida de 100 metros. Vimos da sétima Divisão, somos corredores de fundo.
O Belenenses não se pode permitir passar 3 ou 4 anos a investir 6/7/8 milhões de euros para tentar subir. Quando os gastarmos terá de ser pela certa.
Que fique claro que não temos qualquer investidor maioritário, nem queremos ter, e não temos vontade de nos endividar nem o vamos fazer.
Portanto é preciso visão, pensamento estratégico, capacidade de gerir e planear o médio e longo prazo e não nos permitirmos navegar à vista ao sabor das ondas, felizmente encontrei um conjunto de colegas de direção muito valorosos, muito competentes e muito belenenses, que se revêem nesta visão de médio e longo prazo.

Qual o custo anual da equipa técnica principal?
Se pensarmos nas boas práticas de um orçamento de uma Sociedade Desportiva a carga salarial de atletas e equipa técnica não deve ultrapassar os 60% desse orçamento. Acreditamos nessa boa prática e é isso que praticamos.

Quais os motivos da saída do João Costa?
Foi entendido que era mais conveniente para o futuro do atleta encontrar um clube onde pudesse jogar com mais regularidade. O atleta não conseguiu encontrar esse espaço na Liga 2 mas encontrou-o, felizmente para ele, na Liga 3 que é de momento um patamar onde entendemos que pode ter sucesso.

O que se passa com o Fabão?
Não se passa nada. É atleta do Belenenses. Um atleta com valor, que chegou da Série D brasileira, oriundo da Portuguesa do Rio de Janeiro e que tem características interessantes para o futebol português. Teve uma lesão após a sua chegada, recuperou muito bem e agora tem de lutar com o André Serra, o Rui Correia e o Chima Akas por uma vaga no eixo central.

Porque só contamos com um defesa esquerdo no plantel principal?
No planeamento e tendo em conta as limitações orçamentais a nossa primeira opção para lateral esquerdo foi contratar o Saná Gomes, o que felizmente foi conseguido.
Depois queríamos ter outro jogador que pudesse jogar indistintamente à direita e à esquerda da defesa tendo a escolha recaído, de entre as opções que tinhamos, no Tiago Manso, um miúdo que integrou a nossa formação durante 7 anos, que foi bi-campeão da Liga Revelação pelo Estoril e que o ano passado disputou 35 jogos na Liga 2 pelo Trofense. Para além disso, promovemos o Tiago Carriço, da nossa equipa de Sub-19, um miúdo que claramente precisa de jogar no espaço dos Sub-19 mas que, se for preciso, não teremos qualquer dúvida em lançar a jogo.
Para já é este o nosso cenário mas, como se sabe, estes são cenários que estão sempre em aberto e em mutação. Estamos contentes com o que temos.

Do trabalho feito pelo Scouting do Clube e pela equipa técnica quantos jogadores conseguiu a SDUQ contratar dos jogadores indicados?
Não posso, nem devo, entrar em pormenores. O que posso dizer é que o mercado foi muito difícil para nós e dou muito mérito ao nosso diretor-desportivo Taira, ao nosso scouting e ao nosso técnico no trabalho efetuado. Um trabalho em condições muito complicadas, a lutar com fisgas contra canhões, com um desgaste muito grande. Não tenho dúvidas de que tendo em conta o nosso orçamento construímos o melhor plantel possível.
Nunca houve um investimento das sociedades desportivas da Liga 2 como aquele que se verifica esta época, temos 6/7 clubes na Liga 2 que têm orçamentos superiores a várias equipas da I Liga. Muita gente a apostar muito forte para subir de divisão este ano. E a questão é que não vai dar para todos. Por isso digo que isto se trata de uma maratona. Está muito difícil contratar jogadores. Não ponho em causa a mais-valia desses jogadores, mas o mercado está totalmente inflacionado e distorcido.
Esta época 2023/24, por aquilo que todos os Presidentes me dizem e por aquilo que foi a nossa experiência no defeso, o investimento atingiu o expoente máximo. Há claramente que se colocar um travão a este fenómeno apostando forte em tetos salariais. É o que se vê nas principais ligas europeias e Portugal não poderá ser exceção.

Dos reforços que chagaram esta época quem está acima das expectativas e quem está abaixo dessas expectativas?
Os balanços fazem-se no fim e não agora. Seria tremendamente injusto manifestar-me no sentido pedido. A época está no seu início e estas coisas são como acabam e não como começam. O que é certo é que todos estão permanentemente em avaliação.
Na construção do plantel ficámos com 12 jogadores da época passada da Liga 3, subimos o Pedro Carvalho e o Tiago Moninhas definitivamente da Equipa B e promovemos ainda um atleta Sub-19, que é o Tiago Carriço.
Fomos buscar o Danny e Rúben Pina à Liga 3; Cain Attard, Fabão, Saná Gomes, Chapi Romano e Moha Keita ao estrangeiro; Maxuel vindo de um contexto de Liga Revelação; pelo que só Rui Correia, Tiago Manso e o Dini vieram da Liga 2 e o Ricardo Matos de uma realidade de I Liga.
Chegaram jogadores de vários contextos em que o denominador comum para nós tem sempre que ser serem bons homens e com fome de vencer, que para nós é o mais importante.
Depois no futebol existe um fator aleatório que são os resultados que é a única coisa que nós não conseguimos controlar. Vamos ter momentos, e já tivemos, em que as coisas vão correr bem e outros em que vão correr menos bem ou até mal. Nesses momentos teremos de ter a capacidade de nos unirmos, esses momentos terão de ser momentos de reflexão e não de justificações. É esse o nosso princípio na vida que transportamos diariamente para o grupo.

O Presidente tem-se queixado que os adeptos assobiam a equipa e não estão contentes com o rendimento da equipa e que se expressam nas redes sociais contra atletas e contra o treinador. Acha que os sócios devem comer e calar? Acham que a equipa não rende e calam-se, é isso? É essa a visão que temos de democracia?
Os sócios do Belenenses são livres de se expressarem da maneira que entenderem penso é que devem respeitados os limites das ofensas pessoais.
Os sócios e os adeptos do Belenenses vêm com a nossa equipa ao colo desde a 7ª Divisão. Se este caminho pode ser apropriado por alguém é por todos eles. É deles! Vejo os nossos adeptos serem reconhecidos como um exemplo no futebol por este trajeto que fizemos.
O que eu fiz no vídeo que publicámos foi um apelo à maioria silenciosa que continue a apoiar; e um apelo à minoria ruidosa, que legitimamente se manifesta, principalmente nas redes sociais lidas pelos atletas e técnicos, que dê um tempo à equipa, que sejam pacientes, que apoiem, principalmente nos maus momentos da equipa.
Foi um apelo que eu fiz, não estou aqui para impor nada a ninguém.
O que disse e repito e deixo à consideração de todos é que espero sinceramente que esta ansiedade, esta falta de paciência da bancada, não volte a atirar o Clube para o abismo, porque isso seria tremendamente inglório para todos os que acreditaram neste caminho único e digno que estamos a fazer e na tremenda recuperação financeira que fomos fazendo nestes anos.
Os sócios e adeptos sabem que aqui todos temos um papel importante e que quando vencemos, vencemos todos, quando perdemos, perdemos todos. É assim que vejo este tema.

Continua a manter a confiança no treinador Bruno Dias e na sua equipa técnica?
Os presidentes, em regra, quando dão votos de confiança aos treinadores é para os despedirem a seguir. Portanto, não vejo as coisas por esse prisma. Trabalho em equipa com o nosso diretor desportivo Taira, o nosso secretário técnico Pedro Borges e a administração da SDUQ composta pelo Gonçalo Cid Peixeiro e o Douglas Gilman e temos critérios muito claros de avaliação do trabalho de uma equipa técnica e do seu líder principal.
Aqui falamos todos olhos nos olhos, todos dizem o que têm a dizer, sem filtros e ninguém se esconde, muito menos o Presidente.
Do ponto de vista objetivo, com todo o pragmatismo, deveríamos hoje ter mais 3 pontos do que aqueles que temos. E se tivessemos, em vez de estarmos em 15º lugar na tabela classificativa estaríamos em 8º lugar, dentro do programado a nível pontual para esta fase da temporada. Nesta fase tão prematura da época as equipas estão muito juntas e duas vitórias seguidas atiram as equipas para o topo da classificação, sendo que o oposto também é verdade.
Como se sabe os treinadores vivem na chamada ditadura dos resultados e esses acabam por ser o grande barómetro do seu trabalho. Mas a avaliação do trabalho de uma equipa técnica não se pode, nem deve, esgotar nesse ponto.
Conhecemos em profundidade o trabalho do Bruno Dias e da sua equipa, conhecemos bem os recursos que lhe disponibilizámos e percebemos o contexto em que estamos inseridos.
É alguém a quem reconhecemos princípios e valores, carácter, frontalidade no trato com o seu grupo de trabalho, um homem trabalhador e muito dedicado. Sentimos que os jogadores trabalham com alegria, que o grupo está focado, determinado e com vontade de fazer coisas positivas pelo seu treinador e pelo Clube. Enquanto observarmos e sentirmos isto o nosso treinador será o Bruno Dias e espero que tenha sucesso cumprindo o nosso objetivo comum para a presente época.

A EQUIPA B DE FUTEBOL NA 2ª DISTRITAL DA AF LISBOA

Qual o balanço da equipa B?
Que visão tem do projeto?
Qual o orçamento da equipa?
Como se relacionam as equipas A e B dada a distância competitiva e de realidades (profissional vs amador) entre as duas formações?
A equipa B é um projeto a médio/longo prazo, não é um projeto para o imediato. Devemos olhar para duas vertentes nesta questão da equipa B: a desportiva e a financeira.
Várias equipas nossas concorrentes nos campeonatos profissionais adotam também esta estratégia de terem equipas B o mais acima possível, por exemplo, Marítimo e Vitória de Guimarães têm as suas equipas B no Campeonato de Portugal, o Sporting na Liga 3, Porto e Benfica na Liga 2.
Outros, como nós, têm ainda as suas equipas B nos Campeonatos Distritais, como são os casos de Estoril, Leixões, Nacional, Santa Clara, Portimonense, Chaves, Rio Ave e Estrela da Amadora que tem equipa B e equipa C, ambas na Distrital de Lisboa. Todos querem chegar pelo menos ao Campeonato de Portugal mas é preciso fazer-se esse caminho.
Em termos desportivos, a nossa equipa B é um projeto estruturante para o edifício do nosso futebol, que começa nos escalões mais baixos da Formação e vai até à equipa A. Temos de projetar um ciclo de 3/4 anos e a ideia passa por colocar o mais rápido possível esta equipa nos campeonatos nacionais.
A ideia é termos a capacidade de absorver e segurar os jogadores mais talentosos da nossa formação numa antecâmara da equipa A, numa equipa B, num espaço competitivo onde possam ter 2/3 anos de maturação para crescer junto do nosso processo e das nossas ideias e poderem em simultâneo estar sempre a um pequeno passo da equipa A.
Esta equipa servirá também, assim que esteja posicionada mais acima, para darmos competição a jogadores da equipa A que estejam sem espaço ou que regressem de paragens. Servirá ainda para fomentarmos parcerias com clubes de outras latitudes. Para tudo isso é imperioso que esteja pelo menos no Campeonato de Portugal e idealmente na Liga 3. Quanto mais acima esta equipa estiver, melhor.
Ao Belenenses ninguém dá nada, nunca nos vão dar uma inscrição no Campeonato de Portugal ou na Liga 3 como fizeram com outros clubes. Se queremos ter uma equipa lá vamos ter que a conseguir guindar a esse patamar.
Para isso vai ser preciso tempo e algum investimento.
Aqui entra a vertente financeira.
O ano passado montámos esta equipa B, um ano zero, com jovens a quem agradecemos muito por terem acreditado na nossa visão, pois todos eles tinham convites para jogar algumas divisões acima e optaram por ficar no Belenenses.
Tivemos um orçamento na casa dos 35.000€/Ano, com 60% desse valor a ser canalizado para os atletas a quem basicamente pagávamos o passe para se poderem deslocar para os jogos e treinos e os restantes 40% a serem despendidos com a equipa técnica, a equipa médica e toda a logística adjacente à equipa, como inscrições, seguros, policiamento e outros itens.
Subimos de divisão, o que foi excelente para o Clube, e principalmente promovemos para a nossa equipa A o Pedro Carvalho e o Tiago Moninhas que este ano integram o plantel na Liga 2, fruto do seu trabalho e do destaque que conseguiram mostrar na equipa B e nos anos anteriores da formação.
Nesta época 23/24 a ideia será repetir o feito e subir ao mais alto patamar da AFL. O início do campeonato não está a ser nada fácil e vamos fazer tudo para inverter a situação pois consideramos importante subirmos novamente de divisão, por tudo o explicado acima.
Esta época mantivemos alguns dos nossos principais jogadores, recrutámos outros, mantivemos a mesma equipa técnica composta pelo Samuel Santos e Bernardo Ribolhos e fizemos regressar dois atletas experientes, o Botas e o Juan, numa lógica de acrescentarem experiência a um grupo muito jovem e simultaneamente integrarem profissionalmente o Clube noutras funções, nomeadamente na equipa da manutenção e na Loja Azul, dando assim a possibilidade de um futuro profissional a quem tanto ajudou o Belenenses nesta sua caminhada das cinco subidas.
O orçamento esta época subiu ligeiramente, para um valor próximo dos 45.000€/Ano, incluindo atletas (que continuam a receber apenas pequenas ajudas de custo), equipa técnica, equipa médica e toda a logística associada à equipa, sendo que, por exemplo, nos jogos fora o Clube não fornece transporte à equipa. Portanto, as condições estão muito longe de serem as ideais mas é nesse espírito de superação que esta equipa tem que se forjar.
Portanto, nestes dois primeiros anos a equipa B em termos orçamentais tem tido custos absolutamente residuais no universo do nosso futebol, que não daria para contratar um atleta diferenciado para a equipa A, e acreditamos que num futuro próximo vai ser um palco muito importante para nós e nos vai trazer importantes retornos desportivos e financeiros.

LIGA REVELAÇÃO SUB-23

O Belenenses poderia já este ano de 23/24 ter inscrito uma equipa na Liga Revelação Sub-23? Porque não foi essa a decisão?
A razão tem a ver com o clube não ter campos relvados ou algo mais?
Estando o Belenenses de regresso à Liga 2 teoricamente poderia ter inscrito uma equipa na Liga Revelação, mas isso não está no nosso horizonte.
Se fizermos o benchmarket dessa competição verificamos que apenas cinco equipas da Liga 2 têm equipa Sub-23, nomeadamente Torrense, Ac. Viseu, Santa Clara, Mafra e Leixões, e mesmo na I Liga temos sete clubes que não têm equipa Sub-23.
Por outro lado, tal como nós, muitas equipas da I Liga e Liga 2 optam por ter equipas B e até equipas C em divisões nacionais ou distritais.
Concretamente, o Belenenses não equaciona ter, para já, uma equipa na Liga Revelação Sub-23, por três ordens de razões:

  • Primeiro, porque acreditamos pouco no mérito dessa competição onde os jovens jogam sem pressão, sem subidas e sem descidas e não são colocados a jogar e ombrear com atletas mais velhos e experientes;
  • Segundo, porque determinados clubes (legitimamente) no sentido de saltar etapas têm colocado sistematicamente atletas de 16/17 anos a jogar essa competição; enquanto outros, têm optado (também legitimamente) por outro paradigma, colocando atletas de 22/23 anos a jogar. Há vários jogos em que determinadas equipas, por exemplo na presente época, se apresentam com uma base de atletas nascidos em 2005 e de 2006 que jogam com outras que apresentam bases de nascidos em 2002 e 2003. Ora isto é bom para as primeiras equipas e para os seus atletas, mas é muito negativo para as outras e para os seus atletas (embora estas últimas até possam ser campeões da competição e consigam promover e vender um ou outro atleta). No entanto, esta factualidade tem trazido uma distorção à competição que não é do nosso agrado.
  • Terceiro, uma equipa nesta competição implica um orçamento mínimo na casa dos 350.000€/Ano e implica também haver infraestruturas ao nível de campos relvados que, de momento, como é sabido, não temos. Muitas das equipas inscritas recorrem a expedientes (legítimos para esses clubes) para driblar estas dificuldades com os quais não nos identificamos.

CENTRO DE ESTÁGIO DO BELENENSES

O Presidente disse num recente post no facebook, devido às críticas do jogo com a U. Leiria, que iríamos ter desenvolvimentos nas infrastruturas, condições financeiras e organizacionais. Quais esses desenvolvimentos no médio / longo prazo? Centro de estágio no Complexo do Restelo?
Está prevista a criação de um centro de estágio para o Belenenses?
Há alguma perspectiva de parceria ou construção de uma academia fora da área metropolitana de Lisboa? Pergunto porque penso ser um ponto essencial para a sobrevivência do futebol do clube, visto que as nossas infraestruturas são insuficientes para o elevado número de atletas da formação, equipa principal e equipa B.
Estou de acordo com estas preocupações. A questão das infraestruturas desportivas é vital para o desenvolvimento do nosso Clube. Temos de ter a capacidade de encontrar um local fora da cidade de Lisboa onde o Clube possa a médio prazo ter uma infraestrutura de campos relvados e instalações de apoio que nos permitam crescer e garantir qualidade de treino à nossa formação e às nossas equipas A e B.
O que hoje fazemos, principalmente ao nível da nossa formação, com as infraestruturas desportivas que temos, é um autêntico milagre, só possível num Clube com a grandeza e a localização geográfica do Belenenses.
De resto é um dos grandes problemas do futebol em Portugal, e em especial na zona da Grande Lisboa, onde não há campos relvados naturais suficientes para tantas equipas.
Sou testemunha priviligiada dessa realidade pois não há semana nenhuma em que não receba telefonemas de clubes e dirigentes de clubes da região da Grande Lisboa a perguntarem se é possível fazerem um treino no campo principal do Restelo.
A nossa resposta é invariavelmente um “não” até porque nós próprios também temos a necessidade para fazer descansar o nosso relvado o que, quando acontece, também é um tormento para nós, encontrar essa alternativa.

CENTRALIZAÇÃO DOS DIREITOS TELEVISIVOS

Qual a sua opinião sobre este tema da Centralização dos direitos televisivos? Quando vai acontecer?
O decreto-lei que está em vigor determina que até ao final da época 2025/2026 a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga Portugal terão de apresentar uma proposta à Autoridade da Concorrência, que terá de se pronunciar. Isto para que, a partir da época 2027/2028, avance a chamada centralização dos direitos televisivos e multimédia.
Estes prazos podem ser antecipados, mas nunca ultrapassados.
Na minha opinião, devemos trabalhar todos na Liga Portugal para que seja possível antecipar-se a centralização pois cada ano que passa sem centralização é mais um ano de contribuição para a morte das nossas ligas profissionais e para a sua falta de competitividade.
A centralização dos direitos vai trazer muito maior competitividade às nossas ligas, vai permitir melhorar as infraestruturas dos estádios e vai ajudar tremendamente a que se atinja a sustentabilidade das sociedades desportivas e dos clubes.
Fora desta equação não podem ficar os adeptos e a Liga Portugal deverá dedicar toda a atenção a este aspecto, chegarmos ao coração dos adeptos vai ser fundamental.
A Liga Portugal em bom tempo criou a empresa Liga Centralização e é nesse fórum que se está discutir e a definir o modelo de comercialização. Terá de haver aqui um forte alinhamento e solidariedade de todas as sociedades desportivas das ligas profissionais pois todas têm de ter a noção, e parece-me que têm, de que este é um projeto verdadeiramente estruturante para o futebol português. Aliás não é “um” projeto é “o” projeto.
Não podemos continuar numa Liga onde existe hoje uma disparidade de 15 a 20 vezes entre o valor da sociedade desportiva que mais recebe e aquela que menos recebe, quer se fale de I Liga ou da Liga 2.
Outro dia ouvi alguém dizer que não pode haver uma competição saudável se os clubes que competem nessa competição estiverem doentes. Estou de acordo com esta análise, é preciso que os clubes possam gerir os seus orçamentos de forma mais sustentável e para isso a centralização dos direitos audiovisuais vai trazer muito mais equidade. O ponto é que é preciso haver muito mais equilíbrio entre os clubes para assim as competições serem muito mais interessantes sob todos os aspectos, desde logo na incerteza dos resultados que é um factor determinante para a captação de mais adeptos, mais espectadores e mais patrocinadores.
Agora também digo uma coisa: a centralização só vai ser a salvação do futebol português e das sociedades desportivas se, em paralelo, for adoptado um rígido regime de controlo financeiro que estabeleça entre outros pilares o dos tetos salariais. Tem de haver um teto que promova uma revisão em baixa dos valores que se poderão pagar a jogadores, técnicos, staffs e equipas secundárias. Aqui a roda já está inventada e devemos olhar para o modelo espanhol que é um modelo exequível e que é muito fácil de replicar em Portugal. Um modelo que tenha em conta os passivos acumulados das sociedades e que imponha a cada um o valor que poderá ser gasto em salários, também em função desses passivos e do seu controlo. Se isto não for feito podem fazer a centralização que quiserem que tudo ficará na mesma. Mas parece-me que hoje, a maioria dos presidentes com assento na Liga Portugal já tem uma sensibilidade grande para estas matérias e que será possível darem-se passos firmes nesta direção.

Onde entra o Belenenses nesta história da organização da Liga Portugal?
O Belenenses hoje tem assento nas AGs da Liga Portugal, eu próprio tenho assento na Cimeira dos Presidentes e participamos em várias reuniões setoriais sobre este e outros temas relevantes.
Temos a nossa palavra, o nosso conhecimento e a nossa experiência para aportar e não nos inibimos de participar ativamente nos processos. Estamos imbuídos de um forte espírito positivo e temos a noção exata da importância da marca Belenenses no contexto do futebol português e da Liga Portugal.
Esta questão da centralização é vital e há muito trabalho a fazer em colaboração com a entidade que vier a ganhar a corrida pelos direitos, pois para a nossa Liga ser vendável e o bolo poder crescer todos temos noção de que, a montante, é necessário termos um produto bem televisionado, bem filmado, com adeptos nas bancadas, com todas as condições técnicas para ser visualmente atrativo.
Contruirmos este produto vai exigir fortes investimentos nos Estádios e isso só se consegue com um parceiro forte, credível e com capacidade financeira na centralização. Acredito que, em conjunto com as sociedades desportivas, a Liga Centralização vai ser capaz de encontrar esse parceiro que invista em equity na própria sociedade, para esse dinheiro ser canalizado para as infraestruturas dos clubes e que paralelamente garanta um valor anual pelos direitos muito superior ao valor atual.

ESTRUTURA DO FUTEBOL SDUQ E RELAÇÃO SDUQ/ CLUBE

O Belenenses sempre pareceu sentir dificuldades com a profissionalização enquanto Clube. Não deveria ter o Belenenses uma direção da SDUQ assalariada que permitisse uma maior concentração naquilo que é a vida do Clube no dia-a-dia?
Pondera criar uma estrutura profissional para gerir o Clube e a SDUQ?
Neste momento, o Belenenses tem uma estrutura profissional na SDUQ, desde logo porque essa obrigação decorre diretamente dos Regulamentos da Competição da Liga Portugal que impõe a obrigatoriedade de que, pelo menos, haja um elemento na administração a tempo inteiro e em exclusividade, regra geral o seu Presidente; um diretor desportivo; um diretor de comunicação e um diretor de segurança.
Aquilo que fizemos foi estruturar-nos, criámos um departamento financeiro de controlo com um elemento e ainda temos na nossa estrutura profissional um secretário técnico e mais três elementos na organização e logística. Para além, evidentemente, do nosso departamento de scouting, de mais três elementos no departamento médico e de mais uma série de elementos que se juntam a nós essencialmente em dias de jogo.
Depois, junta-se o nosso staff técnico e o nosso grupo de jogadores o que faz com a estrutura já tenha uma dimensão considerável.
Contratámos também um diretor de marketing e comercial, que trabalha sob a alçada do nosso vice-presidente Douglas Gilman, um profissional que está a tempo inteiro no Clube, com objetivos muito definidos e de quem esperamos muito.
Para além disso, o Clube tem aumentado os recursos humanos na nossa equipa de manutenção e instalações, sendo de realçar aqui o papel fundamental do novo vice-presidente dessa área, o Comandante Carlos Jaime, que juntamente com o Eng. Carlos Marques, têm tido um papel preponderante nesta fase da vida do Clube.
Ou seja, não fazendo grande publicidade dessa circunstância o Clube e a SDUQ deram passos determinantes no último defeso rumo a uma cada vez maior profissionalização e formação dos seus recursos humanos. Agora também digo que não chega ser profissional no papel, é preciso mentalidade e cultura profissional.

O que faz o Bruno Paixão na nossa estrutura? Quanto custa? Porque é que não foi anunciada a sua entrada? Haverá noção, na direção, do mal que ele nos fez ao longo do seu percurso como árbitro?
A memória não pode, nem deve ser curta, por isso pergunto como é possivel ter o Sr. Bruno Paixão, como diretor de campo, e usar o nosso emblema?
Porque que o Bruno Paixão está dentro da estrutura do Belenenses, e se em 10 milhões de habitantes deste país não havia mais ninguém capaz de fazer a sua função. E ainda, se o presidente sabe o quão mal visto esta pessoa está aos olhos dos adeptos.
Qual o valor que o Bruno Paixão agrega ao clube?
Qual a razão da contratação de Bruno Paixão, e qual a sua função dentro da estrutura do nosso Futebol?
Trata-se de um colaborador externo da SDUQ, com uma função muito específica e cujo contributo tem sido muito positivo para a nossa estrutura da SDUQ / Clube adquirir ou readquirir determinadas práticas e conhecimentos fundamentais para uma correta organização dos jogos nos aspetos normativos e regulamentares, de boas práticas, priorizando e hierarquizando procedimentos, dando um contributo muito importante nesta fase do regresso às competições profissionais.
Nas épocas anteriores colaborou, nos mesmos moldes, com outros clubes da I Liga e já na época passada colaborou com o Belenenses na Liga 3, ajudando a preparar este regresso às competições profissionais.
Temos a noção que nos últimos anos, neste caminho das pedras desde a última divisão distrital, foi uma aventura memorável e que fizemos um trabalho excelente, com muita disponibilidade dos nossos dirigentes e colaboradores, mas num contexto digamos que mais amador e com menos normas regulamentares e especificações e que temos agora de readquirir esses processos.
É neste contexto que se enquadra esta colaboração com uma pessoa muito conhecedora do meio, dos regulamentos, da organização de jogo e de detetar aquilo que é mais prioritário e importante de cumprir e de resolver em momentos de alguma tensão e falta de organização, tendo uma atitude muito discreta e pedagógica no sentido de melhorarmos de jogo para jogo até adquirirmos novamente todos os automatismos necessários. Estamos muito satisfeitos com a sua colaboração, pontual e a tempo parcial, com um encargo muito reduzido para a SDUQ e que nos tem ajudado imenso.

Sobre a recém-criada SDUQ, quais as equipas que transitaram para a mesma? Pese embora a SDUQ seja detida a 100% do clube, pode clarificar se o futebol de formação e equipa B continuaram no seio do clube e se foi estabelecido algum protocolo que regule as relações entre as partes?
Trabalhámos num protocolo que regula as relações entre o Clube e a sua SDUQ em vários parâmetros, desde logo o futebol de formação que ficou parqueado no Clube, assim como definimos o uso das instalações e o uso da marca e dos símbolos do Clube pela SDUQ e pela nossa equipa de futebol.


ÍNDICE

1. Futebol, Equipa B, Liga Revelação, centro de estágio, centralização dos direitos televisivos, estrutura da SDUQ e relação SDUQ/Clube
2. Futebol de Formação (Sub-15 a Sub-19), Futebol Infantil (até Sub-14) e relvados sintéticos do Restelo
3. Organização de jogos, Passe 1919, política de bilheteira, marketing e sócios
4. Modalidades
5. Requalificação do Complexo do Restelo, Instalações e Alugueres
6. Marketing / Comunicação
7. Fúria Azul, Grupo da Grade, nova legislação e a posição do Clube
8. Outras temáticas

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