FUTEBOL DE FORMAÇÃO – SUB-15 A SUB-19
Como antevê este ano a participação dos Sub-15, Sub-17 e Sub-19 nos respectivos campeonatos nacionais? Há matéria-prima para fazer melhor que o ano passado?
O sucesso da formação no futebol não se mede exclusivamente pelo número de vitórias e de derrotas. É verdade que muitos treinadores e estruturas formam “para ganhar” mas eu defendo que se deve formar “a ganhar” que é uma subtileza no discurso que faz toda a diferença.
É evidente que não se forma ninguém a perder jogos consecutivamente mas entendo que o mais importante é formar homens, cidadãos virtuosos, e depois conseguir também elevar alguns para o alto rendimento.
Se olharmos para os 9 anos em que estou no Clube, nas nossas equipas de Sub-19, Sub-17 e Sub- 15, disputámos 734 jogos oficiais em campeonatos nacionais, dos quais ganhámos 379 (52%), empatámos 134 (18 %) o que significa que perdemos 30% dos jogos oficiais. Portanto, em cada 10 jogos disputados perdemos apenas 3.
Quer isto dizer que estamos a ganhar muito. Mas poderia ser isto considerado sucesso se não projetássemos jogadores para a alta-roda? Eu acho que não.
Ao longo destes 9 anos projetamos muitos jogadores para o futebol profissional.
Muitos chegaram à I Liga e a ligas europeias de primeira linha e estão a fazer ótimas carreiras, uns que estiveram muitos anos connosco, outros que tiveram passagens mais curtas connosco mas de muito impacto.
Fico muito feliz por assistir ao sucesso desses jogadores, como fico feliz por termos projetado outros como grandes homens que hoje são licenciados e estão no mercado de trabalho nas mais variadas profissões e outros que não se licenciaram mas encontraram o seu caminho em várias áreas profissionais.
Mas se falarmos nos que chegaram ao sucesso no futebol distingo aqueles que nos acompanharam de muito perto na nossa escalada destas cinco subidas de divisão, com muitos jogos realizados na caminhada e que passaram pela nossa formação: Tomás Foles, Afonso Simão, Alex Figueiredo, Duarte Henriques, Miguel Matos, João Trabulo, Francisco Sénica, Rogério Varela, Benny Ribolhos, David Brazão, Rivaldo Semedo, Miguel Oliveira e João Santos.
Depois, dos outros que atingiram patamares elevados e que se mantêm na crista da onda destaco o Oleg Reabciuk, um miúdo que jogou, depois de sair daqui, no FC Porto, Olympiakos e que está agora no Spartak de Moscovo, um jovem que é considerado hoje o melhor jogador da Moldávia, capitão da sua seleção nacional, e que temos muito orgulho nele. Destaco ainda o Nuno Santos, o Telmo Arcanjo e o Tomás Ribeiro, os três hoje na I Liga, no Vitória SC; o Pedro Amador no Moreirense; o Tomás Domingos no Marítimo; o Heriberto e o Francisco Lemos no Estoril; o Leandro Sanca no Chaves; o Isaac no Casa Pia; o Nilton Varela e o Braima no FC Porto; o Benny no Torreense; todos eles na I Liga ou na Liga 2 em Portugal. Posso mencionar ainda o Pedro Marques hoje no Appolon Limassol, o Dálcio no APOEL e o Serginho no Viborg. Depois temos histórias fantásticas como a do André Franco que hoje é quase um indiscutível no FC Porto e que também temos muito gosto que tenha estado connosco uma época e meia e que é um miúdo que tem uma história pessoal incrível e que uso muitas vezes como exemplo para os nossos jovens ou o Marian Huja, um miúdo português, apesar do nome, que esteve connosco 6 épocas, que negociamos a sua saída para o Watford e que depois de se profissionalizar na Dinamarca, se sagrou campeão da Roménia o ano passado e que neste defeso esteve a um passo do Dínamo de Kiev, acabou por ter uma lesão grave e foi com grande satisfação que vi que este fim de semana voltou a jogar no campeão romeno tendo inclusive marcado um golo importante para o seu clube. Um grande defesa central que acredito ainda vai subir mais na sua carreira. Todos estes atletas nos enchem de orgulho.
Para além destes, dezenas e dezenas, que andam na Liga Revelação, na Liga 3 e no Campeonato de Portugal com o carimbo da nossa formação e que acredito que alguns ainda se possam projetar mais no futuro e falar ainda do Rodrigo Mendes que saiu para o Torino, de Itália, no inicio desta época recebendo o Clube uma compensação pela saída e mantendo uma participação importante nos seus direitos económicos e o João Gonçalinho que cedemos por empréstimo ao Génova com uma opção de compra fixada, mantendo sempre o Belenenses uma participação nos seus direitos económicos. Jovens em quem acreditamos e assim paulatinamente o Clube vai criando bases de encaixes financeiros presentes e futuros.
Sendo evidente que o ideal é irmos tendo sempre a capacidade de segurarmos este talento o mais tempo possível e não dando para todos, que é impossível, que para alguns seja possível jogarem e valorizarem-se na nossa primeira equipa. Haja estabilidade desportiva e paciência para essa aposta poder resultar.
Para terminar falar daqueles que estão hoje na nossa primeira equipa, o Pedro Carvalho e o Moninhas, em quem confiámos muito e acredito possam ter muito sucesso nas suas carreiras e outros que integram o plantel principal e também passaram anos na nossa formação no passado, como o Rúben Pina, o Ricardo Matos, o Tiago Manso e o Miguel Tavares.
Nos últimos anos qual o jogador da nossa formação que mais o entusiasmou?
Pelo que enumerei na resposta anterior é muito difícil responder com um nome.
Que jogadores destaca atualmente no nosso futebol de formação?
O nosso paradigma a olhar para a nossa formação terá de mudar.
Até 2018/19, os nossos melhores jovens saíam da nossa formação ou para a BSAD ou para outras equipas concorrentes sem que nada pudéssemos fazer.
A partir de 2018/19, fizemos uma equipa sénior e fomos para a última distrital e andamos até 2020/21 nos campeonatos distritais. Nesse período que coincidiu também com a aparição das equipas Sub-23 foi muito complicado segurarmos algum dos nossos melhores juniores.
Em 2021/22 e 2022/23, no Campeonato de Portugal e na Liga 3, muito pressionados por termos de subir de divisão seria muito complicado algum dos nossos juniores subirem a sénior e poderem ter espaço imediato na nossa equipa.
Atualmente já quase todos queriam ficar connosco na subida a sénior, contrariamente ao sucedido nos anos anteriores que queriam todos sair, mas nós, em consciência, vemos que não estavam preparados para integrarem de imediato a nossa equipa A e não tínhamos outro patamar competitivo de transição para lhes oferecer (nem equipa B competitiva, nem equipa Sub-23).
Os melhores, que não cabiam na nossa equipa A, continuaram a ser assediados por equipas Sub-23 e muitos foram atrás desse sonho. Pensamos que não estão certos, mas por outro lado todos os caminhos são possíveis para se chegar ao sucesso que depende de muitos fatores, alguns totalmente aleatórios.
Ainda na época passada, dos nossos juniores de último ano, entendemos que nenhum estaria preparado para integrar o plantel da equipa A, mas dirigimos o convite a dois deles para fazerem a pré-época. Acabaram por ir esses dois e mais outros quatro miúdos para equipas Sub-23 pois não quiseram ficar na nossa equipa B que compete nas competições distritais. Ter paciência e saber esperar pela oportunidade é uma virtude e uma estratégia acertada, mas hoje os miúdos vivem rodeados pelos agentes, pelos pais, pelos amigos e não conseguem esperar pois a gestão de expectativas à sua volta é uma pressão tremenda para eles.
A partir de agora entendemos que temos de olhar para a nossa formação de outro ângulo, pois agora aqueles que são os nossos melhores jogadores da formação se quisermos ficar com eles essa possibilidade está em cima da mesa. Não é fácil entrarem diretos num plantel de equipa A mas alguns poderão ter essa possibilidade.
A médio prazo queremos ter a tal equipa B posicionada no Campeonato de Portugal para podermos ficar mais tempo com a maioria dos nossos juniores. Até lá ficarão aqueles que convidarmos para essa equipa e quiserem ficar, mesmo em contexto distrital, e poderão ficar aqueles que entendermos que têm transfer para a equipa A.
Neste momento, temos sinalizados pelo nosso scouting dos seniores e da formação um conjunto de cerca de 30 atletas das nossas equipas de Sub-15, Sub-16, Sub-17 e Sub-19 que monitorizamos mensalmente e que acreditamos que deste lote pode haver alguns com transfer, com capacidade para a médio prazo poderem aspirar a integrar a nossa equipa A.
Uma coisa é certa, este departamento de Futebol de Formação tem sido nos últimos anos uma magnífica fonte de receita para o Clube, que tem recebido centenas de milhares de euros a título de valores de vendas de direitos desportivos, direitos de formação e mecanismos de solidariedade, para além do rendimento desportivo que nos deram todos aqueles atletas que nos ajudaram muito nestas cinco subidas de divisão consecutivas.
Como explicam a contratação do Sousa para treinador de juniores, quando todos sabemos que ele foi um acérrimo defensor da BSAD?
Não acha que o clube devia ter espinha dorsal para manter afastadas da sua estrutura pessoas que nos fizeram mal no passado? Não por vingança, mas por coerência.
O Sousa já foi nosso treinador de juniores tendo realizado um trabalho muito positivo e é alguém competente, que tem uma vincada personalidade, e que nos explicou que no âmbito da sua atividade profissional trabalhou numa entidade onde havia instruções expressas da Liga Portugal para que todos os profissionais da casa se dirigissem à então SAD como “Belenenses SAD”.
Nesta fase, o nosso departamento de Futebol de Formação entendeu que ele seria uma mais-valia evidente para a nossa equipa de Sub-19, onde diga-se de passagem, está a fazer um trabalho de excelente nível e acreditamos que nos vai ajudar muito a potenciar atletas para a nossa equipa A.
FUTEBOL INFANTIL – ATÉ SUB-14
Como está a situação contratual entre a empresa Blue Dream e o clube? É para continuar?
A Bluedream, liderada pelo Prof. João Raimundo, tem como se sabe uma relação com o Clube desde 2013 e que está direcionada para o futebol infantil, mais concretamente do escalão de petizes até aos sub-14.
Tem sido uma relação muito positiva para ambas as entidades, pois do ponto de vista desportivo passámos de um universo de 70 atletas inscritos nesses escalões em 2013, para cerca de 700 atletas inscritos em 2023.
Dessa quantidade de miúdos, nasce depois a qualidade que tem potenciado as nossas equipas dos Sub-15 até aos Sub-19, que tantos frutos desportivos e financeiros têm dado ao Clube.
Do ponto de vista financeiro, tem sido também interessante para o Clube pois desta operação do futebol infantil o Clube retira um rendimento anual financeiro importante, até aos Sub-14, que partilha com a Bluedream.
E retira outra contrapartida, mais significativa que a anterior, que são os valores referentes a direitos de formação e os mecanismos de solidariedade que são exclusivamente, a 100% do Clube, pois embora a BD tivesse, por via do contrato de 2013, direito a uma pequena percentagem desses valores sempre abdicou deles e em 10 anos nunca recebeu um único cêntimo desses valores.
Tem sido uma relação construída com bases muito sólidas e assente no profundo conhecimento que o Prof. João Raimundo tem do futebol de formação e do futebol em geral, nas suas mais diversas vertentes, traduzindo-se em centenas de ações de formação por si protagonizadas passando o seu saber a uma equipa vasta e multidisciplinar que conosco trabalha na área da formação.
Posto isto, o CFB tem todo o interesse em renovar o contrato com a BD, que termina em junho de 2024, em moldes semelhantes aos que se verificam atualmente.
Temos três elementos da nossa atual direção encarregues dessa negociação com a BD e uma eventual renovação do contrato passará por uma contrapartida por essa renovação que implicará a instalação de pisos sintéticos novos nos Campos 3 e Vicente Lucas, por renovação dos balneários do Campo 3 e por um investimento em reforço de iluminação nesses campos, tudo a expensas da Bluedream.
Estas renovações dos pisos sintéticos são fundamentais para o desenvolvimento do nosso futebol de formação pois quem acompanha de perto a nossa realidade sabe que o Campo 3 é sucessivamente interditado pela AFL pois o piso encontra-se em muito mau estado e é ciclicamente alvo de muitas críticas por parte de encarregados de educação e de clubes adversários.
Assim que hajam mais novidades elas serão anunciadas esperando a direção do Clube chegar a bom porto nesta negociação.
RELVADOS SINTÉTICOS DO RESTELO
O Belenenses é um clube que aposta declaradamente na formação, contudo carece de infraestruturas adequadas para o desenvolvimento dos jovens jogadores. Dado o atraso no projeto de requalificação das parcelas onde estão inseridos os campos de treinos, está a ser ponderada a substituição dos relvados sintéticos do Complexo do Restelo, que apresentam um manifesto desgaste, para superfícies de última geração e que possam ser reaproveitadas nos futuros campos?
Sim. A resposta foi dada na pergunta anterior. Caso cheguemos a bom porto nas negociações com a BlueDream será colocado um novo sintético no Campo 3 durante a presente temporada e no verão de 2024 será substituído o sintético do Campo Vicente Lucas. Teremos depois que olhar com muita atenção para o Campo 2 que também já apresenta sinais evidentes de muito desgaste.
ÍNDICE
1. Futebol, Equipa B, Liga Revelação, centro de estágio, centralização dos direitos televisivos, estrutura da SDUQ e relação SDUQ/Clube
2. Futebol de Formação (Sub-15 a Sub-19), Futebol Infantil (até Sub-14) e relvados sintéticos do Restelo
3. Organização de jogos, Passe 1919, política de bilheteira, marketing e sócios
4. Modalidades
5. Requalificação do Complexo do Restelo, Instalações e Alugueres
6. Marketing / Comunicação
7. Fúria Azul, Grupo da Grade, nova legislação e a posição do Clube
8. Outras temáticas
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