José Taira, Director Desportivo do Belenenses, vê sentido obrigatório para a equipa de futebol. Elogia o trabalho feito por todos no clube e acredita que no final da época a equipa estará a discutir o título da Liga 3. Inspira-se na sua carreira de jogador e deixa uma palavra aos adeptos: é por eles que todas as semanas a equipa dá tudo; e é com eles que um tsunami azul vai atacar a segunda fase do campeonato.

O Taira está envolvido com o projecto do futebol do Belenenses desde 2018. Esperava em Março de 2023 estar a discutir a subida à Liga 2?
Sim, esperava estar neste momento nos quatro primeiros a disputar a fase final, pois sei como estamos a trabalhar e a exigência que nos é imposta dia após dia. Estamos desde o início desta caminhada a não abdicar de nada, a não deixar migalhas para os outros, sabendo que há momentos que podem ser mais críticos do ponto de vista de resultados, mas isso jamais nos faz atirar a toalha ao chão. Pelo contrário, a forma rápida e incisiva como reagimos a esses momentos menos positivos é que vai determinar o nosso sucesso, temos que saber antecipar-nos às coisas.

Qual o segredo desta caminhada?
Como disse acima, não abdicamos de nada, no futebol ninguém oferece nada a ninguém, vejo na nossa realidade e até em ligas acima equipas sem pressão nenhuma que perdendo estão tranquilas, que por vezes até abdicam do jogo e não se passa nada, não têm massa adepta que lhes exija, aqui isso não pode vingar no seio do grupo, não é admissível. Com uma massa adepta que tem sido fantástica nesta caminhada não podemos equacionar baixar a guarda em nenhuma circunstância. O nosso ADN passa por seriedade, paciência e muito trabalho e destes pilares não abdicamos. Os jogadores sabem disso, têm isso muito claro, o nosso treinador sabe isso e fá-los crescer dia a dia.

Consegue eleger um momento como o mais importante neste caminho?
Há muitos, mas particularmente elejo o jogo em Alcochete pois a prestação da equipa e adeptos foi transcendental, uma equipa, uma equipa técnica e uma massa adepta como uma só, foi fantático. “Maestro Football Comunity” explica muito bem a importância dos adeptos, é para isso que nós devemos trabalhar.

 

“Felizmente temos um presidente que nos puxa para cima”

 

Houve algum em que tenha pensado desistir, ou sentido que tudo ia falhar?
Houve muitos momentos de desânimo e tristeza, mas felizmente temos um presidente que nos puxa para cima, tem uma energia enorme. O que nos preocupa, em certos momentos, não é propriamente o sentimento de falhar, mas sim o de defraudar quem acredita em nós e nos apoia jogo após jogo.

A segunda fase da Liga 3 começa com dois jogos em casa. O sorteio foi favorável?
Temos que encarar a fase final como se fossemos um rolo compressor, no campo a equipa tem e deve ser um tsunami azul, e na bancada um mar azul que nos deve apoiar do primeiro ao último minuto do último jogo. Só assim podemos cumprir os nosso objectivos.

Acredita que no final da época o Belenenses estará a celebrar a subida de divisão?
Acredito que se formos iguais a nós próprios e soubermos dominar todos os momentos do jogo podemos estar no bom caminho para podermos disputar o título de campeão da Liga 3, mas isto não é só puro futebol, é preciso ser assertivo, pragmático e ambicioso. Como jogador já subi três vezes de divisão e sei e conheço quais são as coisas que têm de estar reunidas no seio de um grupo para subir.

Em que consiste uma semana de trabalho de um diretor desportivo do Belenenses na Liga 3?
O trabalho é vasto, requer tempo e disponibilidade permanente. Desde logo tenho que garantir uma boa articulação entre vários sectores, nomeadamente o presidente, a equipa técnica, a equipa médica, o departamento de scouting, a nutrição, as questões relacionadas com o relvado e suas intervenções, a logística e o planeamento. De uma forma simples diria que a minha principal missão é garantir que todas as semanas os problemas que surgem em todas essas áreas são ultrapassados com sucesso, são questões muito sensíveis onde é preciso dar respostas contínuas no sentido de que a equipa técnica e os jogadores possam sentir-se confortáveis e focados unicamente nas suas tarefas técnicas, físicas e tácticas. No fundo, garantir que em todos os aspectos e em todas as áreas que gravitam à volta da equipa de futebol não há falhas. Claro que o mês de defeso logo a seguir ao término do campeonato é o mais exaustivo mas também o de maior prazer.

 

“Este clube não é para brincar!”

 

Ter chegado em quarto lugar à segunda fase significa que o Belenenses é menos favorito que outras equipas?
Não creio que se possa dizer isso. Não sou de estatísticas, mas os pontos que não obtivemos na fase regular tiveram somente a ver com os tais momentos do jogo que espero que nesta fase sejam totalmente dominados. Temos de ser sagazes, não jogamos para a estatística da FPF e para o puro futebol, jogo útil e estatísticas comerciais, jogamos para pontuar e para dar alegrias aos nossos adeptos. Este é um tema muito sério e que conta muito. Não quero passar o que passei e o que senti no último jogo contra o Moncarapachense na época transacta.

Não subir de divisão será um fracasso?
Quando em Setúbal comecei a receber mensagens de directores desportivos e presidentes de outras equipas da Liga 3 a dar os parabéns pelo feito de no primeiro ano de Liga 3 termos conseguido, a duas jornadas do fim, a passagem à fase final é que me dei conta verdadeiramente do que tínhamos conseguido. No entanto, esse é o primeiro feito e o primeiro objectivo desta época. Agora vamos ao segundo objectivo, subir de divisão.

Os reforços de Janeiro garantem a qualidade necessária para a desejada subida de divisão?
Os reforços de Janeiro foram enquadrados numa série de factores: serem de Lisboa, terem qualidade, conhecerem o jogo e fazerem elevar o potencial que já tínhamos em casa, esse foi o objetivo, aliado a serem bons homens e entenderem que quem vem para este clube não é para brincar, é sério… muito sério.

Subindo de divisão, como vê o futuro imediato do clube? Há condições para atacar a subida à I Liga logo no primeiro ano?
Essa resposta é muito difícil de responder pois tem a ver com o enquadramento orçamental e as condições que o clube terá que afinar para elevar o nível interno, e que passam pela necessidade de, subindo-se a uma liga profissional, termos também que profissionalizar uma série de departamentos. Sabemos que na Liga 2 estão equipas que estão há muitos anos a tentar subir, mas também acredito que nesta caminhada sempre procurámos soluções e não focarmo-nos nos problemas. A tradição do clube tem sido sempre a de fazer muito com pouco.

Enquanto jogador, o Taira vestiu a camisola do Belenenses e foi uma referência histórica do clube. Que recorda da sua passagem pelo clube enquanto jogador?
Fico com a subida de divisão e a última época, em que desfrutei de uma equipa que jogava muito e de olhos nos olhos com qualquer equipa em casa e fora, e é isso que procuro incutir no seio deste grupo.

Que mensagem quer deixar agora aos jogadores e aos adeptos?
Aos nossos jogadores digo-lhes que olhem olhos nos olhos contra qualquer equipa, como costumo dizer “ao inimigo nem água”. Aos adeptos que formem um mar azul de apoio nas bancadas que possa ser sentido no campo, que desfrutem do jogo como se fosse o último das suas vidas.

Qual a importância da equipa B no projecto do futebol do Belenenses?
É uma etapa fundamental entre os Sub-19 e a equipa A, um patamar onde os jovens jogadores têm oportunidade de continuarem a evoluir. Será importante que a equipa B vá subindo de divisão até um patamar competitivo mais forte. Tem também a importância de quem está na equipa B olhar para cima e querer e dever ter a ambição de fazer parte do projecto da equipa A e, para nós, é de uma utilidade grande pois sabemos que qualquer jogador da equipa B que é chamado a integrar treino ou jogo não defrauda porque são jovens com escola e com qualidade, a maioria deles vindos da nossa formação e com muitos anos de casa. A equipa B está muito bem orientada tal como está a equipa A.