Caros sócios, adeptos e amigos do Belenenses,
O ano de 2022 foi um ano fantástico e histórico para o nosso clube.
A SEPARAÇÃO DEFINITIVA ENTRE CLUBE E SAD
2022 confirmou o acerto da decisão tomada em junho de 2018 pelos sócios, sob proposta da minha Direção, de inscrever a equipa sénior do clube na última divisão distrital.
Também confirmou que o indispensável apoio da nossa massa associativa tem uma força insuperável e um carisma único, demonstrado desde o primeiro momento e reiterado semanalmente em cada campo onde nos apresentámos com a Cruz de Cristo.
Assim, deixo uma palavra de muita gratidão para os sócios do Belenenses que acreditaram na nossa visão e validaram e apoiaram o caminho que apontámos.
Sem a sua crença este trajeto não teria sido possível e, hoje, o clube estaria refém para todo o sempre de terceiros que não sabem o que é ser Belenenses e, muito menos, representá-lo.
Este caminho, que denominei “das pedras”, tem sido profundamente enriquecedor para a nossa Instituição.
A razão pela qual o futebol é tão importante para tantos de nós é precisamente a experiência de associação que tem no seu âmago e o sentido de comunidade e de pertença que nos proporciona.
Para mim, como para a maioria dos sócios, o Belenenses vem do coração. Penso que foi este amor que salvou o nosso querido clube.
Recordo que foi com muita dor, mas com muito orgulho e determinação que, em Junho de 2018, inscrevemos o CFB na última divisão distrital da AFL – a 7a divisão.
Nessa altura, muitos “especialistas”, dentro e fora do clube, levantaram a sua voz no sentido de alertarem para o “ato suicida” e de “lesa Belenenses” que estávamos a praticar.
Segundo esses entendidos, o CFB seria atirado para um buraco sem fundo, andaria a desperdiçar recursos durante anos e jamais poderia voltar a competir nas competições profissionais em Portugal.
Juravam que era impossível um clube vender a totalidade da sua participação social na SAD que tivesse fundado e que a ligação entre ambas as entidades seria perpétua.
Mais: diziam que se algum dia estivéssemos à porta da Liga 2, teríamos de meter a viola no saco, pois a FPF e a Liga, os anjos e os demónios, os policias e os ladrões, os azuis e os pardos nos obrigariam a entregar tudo à BSAD e chegar a um acordo com a Codecity e as pessoas singulares que, no final, se apresentam como seus sócios.
Isto, claro, fora os milhões de euros que iríamos ser obrigados a pagar à SAD a título de indeminizações por tudo e mais um par de botas.
Seria o apocalipse.
Portanto, desde 2018, quando arrancámos com esta odisseia desportiva e jurídica, tivemos de andar com mais esta cruz às costas: a da incerteza, e das críticas e anátemas, também lançados por alguns “notáveis” belenenses.
Em 2022, quem tinha dúvidas sobre a legitimidade da nossa caminhada perdeu-as.
A nossa identidade única e indivisível e a nossa liberdade foram confirmadas e sucessivamente validadas por várias instâncias dos tribunais portugueses.
A nossa caminhada tornou-se também referência mundial na imprensa de vários países que foi visitando o Restelo, ano após ano e fomos granjeando simpatias e carinho em todos os quadrantes e em adeptos de todas as latitudes.
Em 2022, para o mundo, a sociedade civil, todos os clubes e SAD ́s deste país, todos os agentes e todos os adeptos do futebol e do desporto em geral acabaram-se as ilusões e as confusões, ficando claro, como água cristalina, que a separação entre Belenenses e aquela SAD ficou consumada.
No início da presente época desportiva, à imagem do que desde há muito acontecia com FPF, também a Liga de Clubes passou genericamente a referir-se à BSAD como BSAD.
Em 19 de dezembro de 2022, numa convocatória da sua Assembleia Geral, publicada no Portal da Justiça, a BSAD passou a usar a sua nova denominação social,
alterando de
“Os Belenenses” – Sociedade Desportiva de Futebol, SAD” para
“B SAD – Sociedade Desportiva de Futebol, SAD”.
Assim, aquilo que há muitos anos era uma realidade no coração de todos os sócios e adeptos do Belenenses passou, em 2022, definitivamente, a ser uma realidade também absorvida por todo o tecido desportivo e social do país.
A meu ver esta é a grande vitória do Belenenses dos últimos anos e porventura uma das maiores da sua história centenária.
Trata-se de uma conquista excecional de todos os sócios do Clube de Futebol “Os Belenenses” e, onde estejam, os Rapazes da Praia certamente terão orgulho de todos nós.
Poucos clubes teriam tido a capacidade de empreender uma odisseia desta dimensão e assumir-se como os pioneiros nesta questão nuclear do futebol português, intimamente ligada à interpretação e aplicação do Regime Jurídico das Sociedades Desportivas.
O TRAJETO DO FUTEBOL 2018-2022
Paralelamente, também o nosso trajeto desportivo tem sido aquele que foi projetado em junho de 2018: sermos o mais competentes possível
em cada contexto em que nos encontrarmos e irmos somando subidas de divisão.
De 2018 até hoje, foram 4 épocas sempre a subir.
Subimos já 4 divisões e seguimos hoje na Liga 3, à data de hoje, entre os 4 primeiros classificados e motivados para chegarmos ao final da primeira fase em posição de discutir a subida à Liga 2.
No futebol e no desporto em geral, como na vida, o sucesso não é um acidente. É trabalho duro, resiliência, sacrifício e acima de tudo muito amor por aquilo que se faz. Queremos muito ganhar e com qualidade. E se não chegar com qualidade, teremos que chegar com raça. Isso é inegociável.
É com este espírito – e com o apoio incondicional de sócios e adeptos que estamos hoje a um passo das Ligas Profissionais.
Pragmaticamente digo que melhor era impossível.
Por isso estamos todos de parabéns: as minhas diferentes direções, os jogadores, os três treinadores e equipas técnicas que tivemos neste percurso, todo o staff do futebol, os funcionários, os sócios e os adeptos que sempre acreditaram.
O FUTURO DO NOSSO FUTEBOL E A REVISÃO DA LEI DAS SADs
Agora, olhando para 2023 e para o futuro da nossa Instituição e do nosso futebol, gostaria que a Lei das Sociedades Desportivas voltasse a permitir a opção da participação direta dos clubes e das associações desportivas nas competições profissionais.
Não sendo isso possível, apenas vejo e preconizo dois caminhos:
– o primeiro, o clube constituir uma SDUQ – detida a 100% pelo CFB – e tentar pelos seus meios próprios chegar à Liga 1, caminho que será previsivelmente mais moroso e mais sofrido.
– o segundo, que passa pelo clube ser detentor de uma SAD em que seja sempre maioritário, com uma participação social que nunca seja inferior a 2/3, ou seja 66,66% do capital, estando sempre o poder radicado na Assembleia Geral de sócios do clube.
Penso que clubes da dimensão do nosso, com história, com identidade, com infraestruturas próprias, com sócios e adeptos espalhados por todo o lado, não podem nunca, em circunstância alguma, deixar de ser maioritários nas suas SAD ́s.
Podendo, todavia, acomodar um, dois, três acionistas de capital, com referências de idoneidade muito fortes, que possam aportar valor a uma SAD que se vai querer estável e vencedora e que ao mesmo tempo sirvam de veículo de fiscalização às direções que em cada momento façam a gestão da nossa futura SAD.
Acionistas esses que, a existirem, espero, possam já vir a ser escrutinados pela futura Autoridade Nacional de Fiscalização de Investidores e de Stakeholders do Futebol Português, entidade que acredito vai conhecer a luz do dia na Reforma do Regime Jurídico das Sociedades Desportivas que está para ser conhecida e que vai trazer seguramente mais idoneidade, mais transparência e maior fiscalização ao sector, ao lado de um quadro contraordenacional que ajude a afastar as maças podres.
Poderia haver ainda um terceiro caminho, ao qual revelo já que me oporei com todas as minhas forças e energia, que seria o CFB criar uma SAD e alienar a maioria do seu capital a terceiros – uma Codecity 2.
Os próximos tempos serão de reflexão de uma massa associativa que se quer esclarecida e opinativa sobre este tema estruturante do nosso clube.
O BELENENSES ECLÉTICO
Mas nem só de Futebol vive a nossa centenária Instituição, somos um clube eclético e assim teremos que continuar a ser, mantendo a nossa tradicional competitividade nas modalidades amadoras, ganhando muito mais vezes do que aquelas que perdemos, embora não a qualquer preço.
2022 foi um ano em que
no Rugby (379 atletas) se ganhou tudo o que havia para ganhar, um trabalho fantástico que saúdo na pessoa do André da Cunha;
no Andebol (129 atletas) conseguimos nos últimos três anos, duas participações europeias, o que orgulha todos os Belenenses;
no Voleibol (198 atletas) , no Basquetebol (250 atletas) e no Futsal (80 atletas) temos conseguido resultados muito honrosos;
na Natação (118 atletas) foi provavelmente a nossa melhor época de sempre, com 18 títulos nacionais seniores e a conquista de 180 medalhas, das quais 43 de ouro. Um trabalho notável, no ano em que desapareceu o nosso amigo e obreiro Filipe Coelho que deixa uma profunda marca de qualidade para o futuro;
no Atletismo (244 atletas) continuamos a crescer em número de atletas e a atingir resultados muito positivos em seniores e em Masters somos claramente uma grande referência nacional;
no Triatlo (44 atletas) lutámos contra várias adversidades ao longo do ano mas ainda assim conseguimos resultados bastante satisfatórios;
De realçar que todas estas modalidades, os seus atletas treinadores e secionistas, levam de forma digna o nome do nosso clube a todos os cantos do país, ao mesmo tempo que proporcionamos prática desportiva e um crescimento saudável a milhares de crianças que serão os belenenses de amanhã.
Poucos clubes em Portugal e no Mundo têm este valor imaterial dentro de portas e penso que no futuro este ecletismo deverá continuar a ser um vector fundamental da nossa identidade.
O FUTEBOL DE FORMAÇÃO
Temos também que continuar o trabalho de referência que vamos fazendo no nosso futebol de formação, que com poucos meios e insuficientes infraestruturas, tão bons resultados nos tem dado, quer ao nível da formação de homens e cidadãos virtuosos, quer ao nível da formação de atletas de elite que têm integrado o futebol profissional no Belenenses e um pouco por todo o lado.
Em 2022 contamos com 132 atletas nas nossas equipas de especialização (dos Sub 15 até à equipa B), com 233 atletas (até aos Sub 14) a que se somam ainda mais 392 atletas na nossa Escola de Futebol do Restelo.
Um número impressionante de 757 jovens atletas, alguns deles internacionais, que todos os dias treinam e jogam de cruz de cristo ao peito. Há que continuar este trabalho nos próximos anos com a probabilidade de retenção de talento a ser cada vez mais uma realidade à medida que as nossas equipas A e B forem subindo etapas.
A ESTABILIDADE ECONÓMICA; A REQUALIFICAÇÃO DO COMPLEXO E OS OUTROS PROJETOS E TEMAS EM CURSO
Em 2023,
Temos que continuar com os pés muito bem assentes no chão e continuar a nossa política de estabilidade económica que ficou bem evidente nas últimas contas aprovadas em AG e continuar também com a estratégia de garantia da nossa sustentabilidade financeira.
Temos que continuar a desenvolver o nosso plano de ação da requalificação do Complexo do Restelo que nos permita crescer sustentadamente, com objetivos claros e capazes de unir a massa associativa independentemente da Direção que a cada momento sirva o clube.
É obrigatório inaugurarmos a superfície comercial da Lidl; a nova Loja Azul do clube virada para a modernidade; e o novo posto de combustível da Repsol, numa operação que garantirá uma nova centralidade na zona ocidental da cidade de Lisboa.
Queremos também continuar a avançar com o processo camarário do licenciamento do projeto do Colégio British School of Lisbon e esperamos ser bem-sucedidos no concurso que recentemente lançámos para a parcela das Residências Seniores e dos dois novos campos de futebol do Restelo, um de relva sintética e outro de relva natural.
Temos que continuar ligados e atentos ao processo da Licença de jogo da sala de Bingo e a todas as suas derivadas, positivas e negativas, sendo certo que a Belbingo, que explora a concessão desde fevereiro de 2022, tem estado a funcionar, para já, com resultados ascendentes e que permitem ter algum otimismo para o futuro da concessão.
O ANO ELEITORAL
Por fim, lembrar que 2023 será ano eleitoral sendo obrigatório o clube e os seus sócios encontrarem no seu seio uma nova direção, que proteja ainda melhor o clube e tenha capacidade para continuar, todos os meses, a encontrar soluções para, antes de tudo o mais, continuar a cumprir todos os compromissos da Instituição.
Mas sempre com a certeza de que quase tudo é breve e provisório. Infinito, só o Belenenses.
Aquilo que é imortal não pode ser destruído e o Belenenses é um clube que teve princípio, mas nunca terá fim.
SAUDAÇÕES FINAIS
Dirijo-me aos nossos sócios, adeptos, atletas, técnicos, funcionários, colaboradores – elementos centrais da nossa mística e identidade coletiva;
A todos os meus colegas de órgãos sociais e em particular aos meus companheiros de direção – o nosso último reduto, sem eles nada do que fizemos nos últimos anos teria sido possível;
E nas pessoas do nosso símbolo Vicente Lucas, do nosso sócio nº 1, Humberto Azevedo e do nosso Presidente da AG, Dr. Pedro Pestana Bastos,
desejo a todos e às suas famílias um excelente 2023, com muita saúde, que vos traga tudo aquilo que ambicionam a nível pessoal, profissional e desportivo.
Vemo-nos no Estádio mais bonito do mundo, no dia 6 de janeiro, na receção ao Real Sport Clube, em mais um jogo da Liga 3.
Com a certeza de vencer e com uma saudação amiga e azul,
Patrick Morais de Carvalho