Durante a campanha eleitoral prometeu avançar com a constituição de uma equipa de telemarketing para actualizar a base de dados do Clube e aumentar o número de sócios efectivos e com quotas em dia. Em que ponto está o projecto e qual o resultado que se pretende alcançar com o mesmo?
O projecto associado à equipa de telemarketing está já a ser desenvolvido neste momento.
Em primeiro lugar, importa actualizar a base de dados e pretende-se uma fidelização maior dos sócios, nomeadamente com a adesão ao débito directo. De seguida, irão ser desenvolvidas campanhas para os sócios com mais de um, dois e cinco anos de quotas em atraso, sendo muito importante neste contexto o trabalho da referida equipa de telemarketing.
Estamos também, neste momento, a operacionalizar a nova funcionalidade “Sócio na Hora” com levantamento do cartão na secretaria ou pagamento de uma taxa de envio do cartão em correio registado.

Como podem os sócios ajudar a captar mais sócios?
Esta semana vi um Boletim mensal do Belenenses de 1943 em que se dizia qualquer coisa do género “não basta que uma Direcção trabalhe, não basta que alguns sócios mais em evidência trabalhem, é preciso que todos os belenenses trabalhem. E o mínimo que se poderá exigir de trabalho a cada belenense é que proponha um novo associado, pois só assim conseguiremos reconduzir o Clube ao lugar que já ocupou e deve ocupar”. Isto foi dito em 1943 e pode, por maioria de razão, dizer-se em 2021.
O que posso portanto dizer é que em complemento com as campanhas de angariação e recuperação de sócios que estão a ser desenvolvidas, existe algo que qualquer sócio pode e deve fazer, em qualquer momento, que é identificar ex-sócios, adeptos e simpatizantes do nosso Clube e tentar convencê-los a serem sócios, explicando a importância que isso tem para nós, em vários aspectos: financeiros, associativos e desportivos.
Existe esse contributo que qualquer associado pode fazer de livre e espontânea vontade, em benefício do Clube.
Eu tenho o maior respeito quando algum sócio se aproxima de mim e me diz: “Sabe, fiz mais um sócio para o nosso Clube!”. Acontece algumas vezes, vejo orgulho nos olhos de quem me dirige essas palavras e espero que vejam o respeito que lhes tenho no meu olhar.

Como fazer para recuperar sócios, algo tão importante para um clube com a grandeza do Belenenses?
Estamos a trabalhar com afinco numa nova campanha de sócios que terá, na minha opinião, de andar de mão dada com a escalada da nossa equipa de futebol sénior até aos campeonatos profissionais.

Quantos sócios tem o Belenenses ao dia de hoje? Quantos perdeu com a pandemia?
Em Outubro de 2020 tinhamos 8745 sócios dos quais estavam em condições de votar, efectivos com quotas em dia, cerca de 2400 sócios, situação que se manteve estável até Dezembro de 2020. Desde essa altura e especialmente com este novo confinamento a partir de Janeiro deste ano, com o encerramento dos serviços, houve uma natural quebra no pagamento de quotas de 2021, algo que será certamente corrigido quando voltarmos a desconfinar e pudermos ter novamente os serviços a funcionar de forma presencial. A idade de muitos dos nossos associados faz com que o pagamento presencial seja privilegiado em comparação com outros métodos de pagamento que temos ou que estamos a implementar.

Dado o contexto, não é possível a secretaria emitir referências multibanco para o pagamento de quotas? Nem quero imaginar o estrangulamento da tesouraria que se deve estar a sentir e era importante que todos pudessem, na medida do possível, contribuir.
Esta questão está a ser equacionada e avaliada para se perceber o impacto real que poderia ter, quer do lado dos sócios, quer do lado do Clube. Mas aproveito para dizer que estão já disponíveis as possibilidades de pagamento por via de transferência bancária e de débito directo, uma velha aspiração da massa associativa.

Qual a importância da participação dos sócios na tomada de decisões do Clube?
É fundamental. Basta lembrar que a validação deste caminho da nossa equipa de futebol, de ir à 6ª divisão e fazer todo o caminho de regresso ao escalão maior do nosso futebol, foi fortemente suportada e deliberada pelos sócios nas diversas assembleias gerais deliberativas.
Sem o apoio dos sócios este caminho não seria possível , a sua vontade é para nós determinante e não posso deixar de fazer aqui um enorme elogio ao nosso movimento associativo, e lamentar que os nossos sócios estejam impedidos de acompanhar as nossas equipas na bancada dos estádios e pavilhões neste último ano, algo que é claramente desmotivador para todos: sócios, adeptos, atletas e dirigentes. 

Pode haver alguma campanha de angariação de sócios para o CFB em jornais ou na tv, talvez a ser feita num mesmo dia ou semana?
Para já e sendo realista temos de aproveitar os nossos canais de comunicação para espalharmos essa informação, aproveitando simultaneamente a nossa base de dados, que vai ser actualizada, para fazermos contactos mais directos e pessoais.

Um clube precisa de uma ligação forte à sua comunidade – precisa de estar presente – e sinto que o Belenenses anda há largos anos longe da sua. Salvo raras excepções, como foi o cortejo até às Salésias, raramente o clube tem tido representação visível e consequente nas ruas, escolas, mercados, cafés, etc, dos bairros de Belém, Ajuda, Restelo… O Clube tem algum tipo de planos a este respeito?
O Clube tem nos últimos anos desenvolvido parcerias e trabalhado com algumas escolas em determinadas modalidades de pavilhão (andebol, basquetebol e voleibol), como forma de dar a conhecer a modalidade e de a apresentar como uma actividade extracurricular e de possível captação de jovens atletas para os nossos escalões de formação.
Algo que neste último ano foi interrompido, fruto da situação pandémica.
No entanto, estas iniciativas têm formatos e expressões diferentes de secção para secção, para além de terem pouca visibilidade junto dos associados. Diria que uma gestão mais coordenada dessas iniciativas e parcerias poderia dar-lhes maior eficácia, em benefício da dimensão desportiva mas também associativa do Clube.
Temos também parcerias com várias escolas e juntas de freguesia na componente da cedência de espaços para actividades desportivas.
Existe trabalho importante desenvolvido nesta área, mas normalmente trata-se de um trabalho invisível feito pelos nossos directores e seccionistas, com o apoio da Direcção.

A revista Belenenses digital “Camisola Azul” é para continuar?
Trata-se de um projecto autónomo do Clube da autoria do sócio Rui Vasco Silva, que é um dos dirigentes do nosso basquetebol para além de colaborar com o Clube noutros pelouros.
Penso tratar-se de uma opinião unânime dizer-se que se trata de um trabalho absolutamente invulgar e fantástico, realizado de forma voluntária e totalmente independente pelo Rui Vasco.
Trata-se de um projecto editorial que honra a nossa instituição, do qual sou leitor fiel de cada uma das edições, e entendo até que existem muitas estruturas editoriais profissionais que não conseguem fazer um trabalho daquela qualidade, nem nada que se pareça.
Parece até difícil acreditar que aquilo é feito por uma única pessoa, mas é mesmo assim.
A continuidade da revista depende única e exclusivamente do seu autor, e o mesmo sabe que naquilo que o Clube puder colaborar dirá sempre presente. A este e a outros projectos que se perceba que engrandecem a nossa história e a nossa vida associativa.

Onde encontram forças a Direcção e os directores e seccionistas do Clube para numa pandemia que se arrasta há um ano continuarem a lutar pelo clube?
Não é de facto uma situação fácil pois o aspecto que mais une e motiva tanto os associados como o conjunto da Direcção, directores e seccionistas – a actividade desportiva das nossas equipas – encontra-se total ou parcialmente interrompido desde Março de 2020, com as equipas a competirem de forma intermitente e sem público nas bancadas do Estádio e do Pavilhão.
Mas, pese embora todas as contingências, não podemos permitir-nos perder o foco e aqui ninguém atira a toalha ao chão. Os dirigentes, os técnicos, os atletas, os sócios e os trabalhadores do Clube são muito especiais e isso nota-se bem nestes momentos.

Já vai na sua 3ª Direcção à frente dos destinos do Clube. Está satisfeito com o desempenho dos seus actuais colegas de Direccão? Que acha que esperam os sócios do clube deste seu terceiro mandato?
Quando me candidatei em Outubro de 2020 reflecti sobre o que esperavam realmente os sócios do Belenenses da candidatura vencedora, que necessidades deviam satisfazer os dirigentes que saíssem vencedores desse acto eleitoral.
Da minha reflexão concluí que os sócios queriam:

1º Ganhar! Que criássemos uma equipa de futebol sénior vencedora, uma equipa que ganhasse a maioria esmagadora dos jogos disputados nesta realidade e que nos levasse rapidamente ao Campeonato de Portugal e depois às ligas profissionais, com o grande objectivo de devolvermos o Belenenses à Primeira Liga do futebol português, o nosso lugar por direito próprio e onde muita falta fazemos a todo o edifício do futebol nacional.
2º Que fossemos resilientes no sentido de conseguirmos ultrapassar a crise originada pela pandemia, mantendo o Clube vivo e, de preferência, mantendo a áurea de Clube sério, íntegro e cumpridor com toda a gente, na senda do que tem sido nosso apanágio nos últimos anos.
3º Que garantíssemos um Belenenses uno e indivisível, afastando-se de vez de toda e qualquer ligação à SAD da Codecity – a B SAD – eliminando-se a ligação tóxica àquela entidade, que tão mal fez e ainda continua a fazer à sanidade mental de todos os Belenenses.
4º Que continuássemos o nosso modelo ligado ao ecletismo, com equipas competitivas dentro daquilo que são as possibilidades do Clube, com os pés assentes no chão e sem a tentação de, aparecendo eventuais resultados desportivos menos conseguidos, se entrar em loucuras financeiras sem rede.

No fundo, que fosse evitado aquilo que durante alguns anos foi prática comum, não só no Belenenses mas em muitos outros clubes e que passava por um comportamento típico de muitos dirigentes que, quando confrontados com resultados desportivos negativos nas modalidades, ou no futebol, desatavam a contratar “como se não houvesse amanhã” e “quem viesse a seguir que pagasse a conta ou apagasse as luzes”.
Como sabem, com as minhas direcções, independentemente das pressões e dos gritos que houver, não podem contar connosco para isso. O Clube é gerido de dentro para fora e não de fora para dentro.
Para se conseguir tudo o que consta destes 4 pontos, não duvidem que o Clube tem de ser conduzido com mão dura, com excelência nas decisões, com o objectivo de se obterem as receitas necessárias – sim, o dinheiro não cai das árvores – para se formarem equipas competitivas e montar uma organização compatível com a realidade e a dimensão do Clube.
Desse ponto de vista a minha Direcção actual, sem desprimor para as duas anteriores que eram também boas direcções, é claramente a mais unida e aquela onde existe um ambiente de trabalho mais saudável, onde claramente todos remam para o mesmo lado e onde ninguém tem agenda própria ou coloca os seus pequenos interesses egoístas acima dos interesses da Instituição. Estou muito contente com a prestação e o empenho de todos.

Como reage à Petição que corre denominada “15 minutos à Belém – A História apenas ao Clube pertence” que defende que as marcas e os símbolos do Clube apenas ao Clube de Futebol “Os Belenenses” pertence? Depois da grande vitória de Outubro de 2020, o que pudermos, nós os Sócios, fazer para apoiar e ajudar a Direção a enfrentar os problemas que existam no âmbito das relações com a SAD, tendo sempre em vista o propósito de salvaguardar a dignidade, o prestígio e o património do nosso grande Clube desportivo?
Para mim enquanto presidente é por um lado comovente assistir a estes movimentos espontâneos de amor ao Clube por parte dos sócios e adeptos e, por outro, dá-me mais força, a mim e à Direcção, para continuarmos firmes na defesa da nossa história, da nossa identidade colectiva e daqueles que entendemos serem os direitos basilares do nosso Clube.
Esta luta da defesa da nossa identidade e da nossa unicidade é um movimento colectivo, de todos os Belenenses, de todos os seus sócios e adeptos. É verdade que é a Direcção que corporiza esta missão de uma forma mais efectiva mas só com grande união entre todos é possível ao clube garantir o futuro uno e indivisível a que tem inalienável direito.
Todo o caminho realizado até aqui foi sufragado por várias assembleias gerais, ordinárias e eleitorais, pelo que o caminho é de todos e todos têm o seu lugar nesta caminhada. Chegados aqui, e se a Direcção tem o seu papel, tem o seu campo de actuação bem definido e tem responsabilidades acrescidas, nomeadamente de protecção do património material e imaterial do Clube, o movimento associativo tem outro papel que tem desempenhado de forma muito positiva e que tem sido fundamental na preservação do que é ser Belenenses, um papel que não pode ser diminuído por ninguém de bom-senso.
Os sócios têm de ter sempre presente que todas as brechas detectadas entre a Direcção e a massa associativa são aproveitadas contra o clube por quem nos quer mal. Temos a noção de que a posição institucional que somos levados a ter, em muitos destes assuntos, tem uma ponderação, uma racionalidade e um distanciamento diferente da que teríamos como sócios anónimos, que seria mais emocional, espontânea e apaixonada. E muitas vezes o que é dito em Assembleia Geral ou escrito em redes sociais por dirigentes do Clube, ou até mesmo por sócios, é aproveitado pelos nossos adversários para, em tribunal, procurarem tirar vantagem sobre o Clube, prejudicando-o. Todos sabemos que existe uma entidade que é a B SAD que nos ataca constantemente, que quer mal ao Clube e que tudo faz pelos mais diversos meios para lhe criar o maior dano. Enquanto esta realidade factual persistir, todo o cuidado é pouco e a união entre os sócios é fundamental.
Isto dito, e pareceu-me importante sublinhá-lo, podemos e devemos discordar e criticar construtivamente. Concluo dizendo que me revejo enquanto sócio no teor da petição pública que vi ter sido lançada por sócios do Clube, e naturalmente todas as formas legítimas e civilizadas de evidenciar o ponto de vista do Belenenses  são de apoiar e de aplaudir, cada um com o seu papel.

Sente que com as eleições de Outubro de 2020 finalmente se conseguiu ter paz no Belenenses?
O clube é um clube democrático e popular. O Belenenses precisa de estabilidade e unidade, não unanimidade, mas unidade. E o que temos dado ao clube é estabilidade. O Belenenses em 100 anos de história teve 44 presidentes, dos quais 25 estiveram em funções apenas durante um ano ou menos do que isso. Isso acontecia porque o Belenenses é um clube difícil e porque às vezes a vontade de desistir e o sentimento de injustiça por parte dos dirigentes, que tudo dão ao clube e pouco ou nada recebem em troca, é grande. O mal do Belenenses sempre foi a falta de estabilidade governativa. Nós estamos, desde 2014,  a dar essa  estabilidade e solidez ao clube, não somos pessoas de fugir nas adversidades, nem de entrar em grandes euforias quando as coisas correm bem.
Agora, quando fala em paz, essa é difícil de se atingir essencialmente pelos conflitos latentes na nossa Instituição desde 2012 com a B SAD e que terão de uma maneira ou de outra de conhecer um fim.
De resto, como Clube grande que somos, temos críticos, que vão existir sempre e pelas mais diversas razões. Críticos porque a Direcção fez ou porque a Direcção não fez, porque virou à direita ou porque virou à direita.  Nunca confundo a crítica séria que respeito totalmente, com o alívio do azedume, do revanchismo, da pequena “vendetta” e das inseguranças e frustrações de alguns. É difícil levar-se a sério aqueles que quando o Clube ganha e as coisas correm bem se escondem e são incapazes de uma palavra de incentivo ou de satisfação, e que ao mais pequeno percalço logo se posicionam como os paladinos da competência e das grandes ideias visionárias.
Se há coisas que os livros de História ensinam é que o tempo de guerra revela quem é quem, aparecem os melhores de nós e os piores de nós.
Faz parte da vida e quem verdadeiramente lidera e tem espírito de liderança aprende a conviver com isso tranquilamente.

 

// Leia a entrevista na íntegra:

  1. Desporto em Portugal
  2. Futebol
  3. Futebol de Formação
  4. Finanças, Marketing e Comercial
  5. Requalificação do Complexo desportivo
  6. Instalações
  7. Sócios e Associativismo
  8. Loja Azul
  9. B SAD
  10. Modalidades
  11. Bingo
  12. BelémTV e suportes digitais
  13. Revisão dos Estatutos