No dia em que se assinala a produção de efeitos da denúncia do Protocolo existente entre o Clube de Futebol “Os Belenenses” e a Os Belenenses Futebol SAD, o presidente do clube Patrick Morais de Carvalho deixou através da rede social Facebook uma mensagem aos associados, adeptos e a todo o país desportivo que de seguida se transcreve.

Caros amigos Belenenses,

às 00h00 deste 1 de julho de 2018 e após sete longos meses em que o CF Belenenses tudo fez para estabelecer pontes de aproximação à SAD que fundou em 1999 e da qual se tem visto violentamente afastado no dia a dia, desde que em 2012 se concretizou a venda da maioria do capital social à empresa Codecity Sports Management, extinguiu-se oficialmente o Protocolo que regulava a relação entre Clube e SAD.

Nesta hora importa lembrar que desde novembro de 2017, logo após decisão do Tribunal Arbitral considerar válida a resolução do Acordo Parassocial, de forma unilateral, pela empresa Codecity – momento no qual o CF Belenenses deixou de ter possibilidade contratual de readquirir os 51 por cento de acções na posse da referida empresa – o clube viu-se confrontando com uma mudança de paradigma: por um lado passava a ter mera participação de 10 por cento numa empresa cujo controlo jamais poderia recuperar, por outro estava preso a compromissos que não defendiam os seus interesses e a uma entidade que nunca quis ouvir a voz dos seus associados.

Ainda assim, e porque do lado da Codecity chegavam manifestações públicas de que haveria total disponibilidade para negociar novo Acordo, o clube comunicou intenção de fazê-lo, estendendo a proposta à negociação de um novo Protocolo, documento que regula os termos em que a actividade da SAD fica associada à actividade do CF Belenenses e trata entre outros aspectos
– das regras de utilização do relvado do Estádio do Restelo pela SAD,
– da proibição de o CF Belenenses inscrever uma equipa de futebol sénior
– e da autorização para que a SAD possa usar os símbolos, sinais distintivos e marca Belenenses que pertence ao CF Belenenses pelo registo da marca nacional nº 324751, para além de vários outros aspectos relevantes.

De Novembro de 2017 até hoje o CF Belenenses não obteve mais do que uma primeira resposta a desvalorizar a urgência de uma negociação e uma segunda resposta que nem admitia a possibilidade de negociar – os documentos são públicos e estão publicados no nosso site.

Insistimos até ao fim.

Ao todo enviámos cinco cartas a manifestar vontade e necessidade de negociar, elementos da comissão nomeada em AG pelo clube fizeram contactos vários.
Perdemos todos, não por não conseguirmos um acordo, mas por falta de comparência da SAD e dos responsáveis da Codecity, sempre solícitos a publicamente se pronunciarem nas páginas dos jornais e nos ecrãs das Tvs, mas sempre ignorando os apelos ao diálogo que os sócios do CF Belenenses lhes fizeram chegar de várias formas e por várias vias.

O adeus foi consumado no mesmo dia e à mesma hora que no Pavilhão Acácio Rosa os sócios votavam por esmagadora maioria (97,4%) o início da Requalificação do Complexo Desportivo, aplaudindo uma proposta que
– dará ao Clube a capacidade financeira de enfrentar os próximos tempos;
– de libertar-se de uma sufocante dívida ao Banif/Oitante superior a 5 milhões de euros;
– de levantar uma penhora tantas vezes arremessada pelos inimigos do CF Belenenses
– e ainda de abrir caminho à Requalificação das outras parcelas do nosso Estádio.

O adeus surgiu por uma voz bem conhecida, que anunciou o adeus da nossa equipa de futebol profissional – aquela que fundámos, aquela que na nossa história, com o suor dos nossos avós e pais, soubemos fazer a quarta maior potência futebolística de Portugal.

Donos de 51 por cento das acções da nossa SAD, jamais conversaram com o CF Belenenses, pegaram na equipa e fugiram para jogarem no concelho de Oeiras.

Não há um único Belenense feliz com este desfecho, que, como tenho dito, nos deixa o coração a sangrar.

Arrisco-me dizer que em toda a história quase centenária do CF Belenenses o ataque que esta empresa privada fez ao nosso Património Histórico e Afectivo é o maior ataque alguma vez feito ao nosso clube. Algo que só é possível devido a uma total falta de amor ao nosso emblema, à nossa história, à honra de grandes Belenenses.

Disse-vos, caros amigos, na AG do último dia 28, que ainda não era a hora de dizer o que me vai na alma.

Esse momento aproxima-se a passos largos, e, embora acreditando que é facilmente perceptível o desgosto que sinto, e no qual sei estar acompanhado por todos os que são Belenenses, também não será ainda hoje e aqui que o farei.

Em breve, todos nós, Belenenses, teremos de conversar, reflectir sobre o rumo que teremos de seguir. Tomar decisões para enfrentar a tempestade a que nos lançaram.

Quero dizer-vos neste momento de profunda dor e indignação que não temos razões para desesperar.

O CF Belenenses tem quase 100 anos de história, de uma história feita de luta, de uma luta a adversidades que quase sempre lhe foram impostas de fora, como por exemplo a saída das Salésias, por troca com uma pedreira. Desse desafio erigimos o mais belo estádio do nosso país.

Se hoje o CF Belenenses está vivo e tem razões para acreditar num futuro azul cor de céu, como canta o nosso Pedro Barroso, tal só é possível graças ao esforço e dedicação de todos os dirigentes que, dando sempre o seu melhor, nos trouxeram até aqui.

A nossa equipa de futebol foi-nos roubada perante o silêncio cúmplice de uma lei das SAD que não protege os clubes fundadores, que não lhes dá voz no dia a dia da gestão do que criaram com suor e lágrimas de várias gerações.

A tempestade é enorme, pode até ser assustadora, mas como no passado temos um caminho e sabemos quem somos.

Somos o Clube de Futebol “Os Belenenses”.

Somos um Grande Clube de Portugal, reconhecido na Europa e no Mundo.

Temos um plano, temos hoje uma situação financeira que nos permite olhar o futuro com maior segurança, temos futebol de formação com certificação de qualidade da FPF – fomos uma das primeiras 11 entidades a consegui-lo em Portugal – e temos confiança no nosso emblema e no amor de todos os sócios.

Quero hoje dizer a todos os sócios do Belenenses, a todos os que não o sendo estão connosco, que estou emocionado com todas as manifestações de apoio que tenho recebido na sequência deste vil ataque.

Sinto-me forte e honrado por ser o Presidente do CF Belenenses neste momento histórico. E sinto-me forte e honrado porque sei que não será esta tempestade que nos fará naufragar.

Nos próximos dias, a Direcção a que presido dará explicações detalhadas sobre a forma como o CF Belenenses vai superar com elevação e sucesso este triste momento histórico.

Até lá, importa no entanto garantir que o CF Belenenses terá a sua equipa de futebol sénior e que, refundando-se, muito em breve estará de volta ao seu lugar natural, entre os maiores do nosso futebol, estruturado, sem dívidas, forte no seu movimento associativo.

Até lá, deixo a todos duas frases que me inspiram, de dois dos muitos Grandes Belenenses que fizeram a nossa história tão azul!

“O BELENENSES É UM CLUBE DO POVO… E PARA O POVO”

“Quando há dois anos este clube se debatia numa dolorosa agonia muito poucos, senão raros, acreditavam que fosse possível sacudir o véu da descrença que o envolvia e tirá-lo da situação de débil eco das suas glórias passadas.
Lentamente, numa entrega total de todas as horas, a massa associativa deste Clube começou a acreditar nela própria e a tomar consciência de que a tarefa a realizar não podia, por forma alguma, pertencer a alguns mas a todos.
Entregou-se, totalmente, à renovação colectiva e soube, estoicamente, suportar contrariedades, fazer sacrifícios de toda a ordem, mas sem nunca deixar de ter a exacta noção de que o seu calvário teria de durar longo e penoso tempo, pois o êxito só poderia resultar de preserverança na luta.
E o observador mais desapaixonado vem verificando que o nosso Clube melhorou em todos os aspectos, quer económicos quer desportivos.”

Juiz Gouveia da Veiga, Presidente do CFB, 28 de Maio de 1969

“O Belenenses escolheu a verdade. Destruiu num golpe de sinceridade, talvez com o coração a sangrar, as grades douradas da prisão convencional em que vivia. (…) A triste realidade foi posta a Portugal inteiro como exemplo de humildade, como caminho a percorrer. Mas jamais o Belenenses, que foi primeiro em muitos passos da vida desportiva portuguesa, foi mais digno de ostentar o título de clube grande, como agora”.

Homero Serpa, 1967, in A Bola