O site oficial do Clube foi conhecer as opiniões de Sérgio Ramos, treinador principal da secção de basquetebol, sobre múltiplos aspectos da vida da secção e da modalidade. É precisamente o resultado dessa conversa que agora se publica, sob a forma de entrevista.

De notar que a secção de basquetebol vive nesta temporada 2017/2018 um momento de crescimento importante no número de atletas e equipas (contando com dois novos escalões – Sub-13M e Sub-16F – bem como equipas “B” nos escalões masculinos de Sub-14 e Sub-16. No que respeita à equipa sénior masculina, que compete no campeonato da Proliga, o Belenenses é actual 2º classificado da zona Sul, com hipóteses reais de apuramento para o Grupo A na segunda fase da competição.

Entrevista

Sérgio, esta é a tua segunda temporada como treinador principal do basquetebol do Belenenses. Agora que observas e sentes o Clube a partir de dentro, como vês o Belenenses e o seu futuro?

O basquetebol do Belenenses tem evoluído e melhorado em pequenas coisas, mas precisa ainda de uma mudança estrutural importante. Ainda temos muitos passos a dar para que o basquetebol melhore e se trabalhe da forma que, na minha perspectiva, se deve trabalhar, tanto ao nível da formação como ao nível da equipa sénior. Refiro-me a mais tempos disponíveis no pavilhão, melhores horários de treino e melhores condições para os atletas.

A temporada passada terá sido de adaptação ao Clube já que vens de realidades profissionais e no Belenenses nem tu és profissional nem as tuas equipas (de atletas e treinadores) são profissionais… Como tem sido a adaptação às condições que o Belenenses oferece ao basquetebol?

Creio que temos aqui duas questões distintas, às quais temos tentado dar resposta. No que se refere à formação, creio que a melhoria do clube passa por uma melhoria da formação dos treinadores e pela melhoria das condições de trabalho que proporcionamos aos treinadores. Temos reformulado a equipa de treinadores do Clube mas penso que apenas melhorando as condições podemos continuar a evoluir neste aspecto. Refiro-me aos horários de treino, aos espaços de treino, ao material de treino. Só assim conseguiremos projectar o futuro e trabalhar numa perspectiva de longo prazo. Só reunindo estas condições podemos esperar que os nossos jogadores, nomeadamente os mais jovens, possam evoluir e ter espaço na equipa sénior. Estaremos atentos a quem tem qualidade para que possa ter a oportunidade de integrar a equipa sénior.

No que se refere à equipa sénior, importa realçar que a realidade da Proliga não é fácil. Sem aliciantes financeiros que possam atrair bons jogadores não é fácil construir uma equipa com capacidade de lutar por lugares cimeiros. No entanto temos procurado melhorar as condições de trabalho para além de condições não financeiras que oferecemos aos jogadores, nomeadamente no que respeita a departamento médico, melhores espaços e horários, o que ainda não conseguimos totalmente, e melhores treinadores porque sem bons treinadores não se fazem melhores jogadores.  Obviamente que para dar um salto qualitativo maior precisamos de outros apoios, nomeadamente apoios financeiros, mas no contexto actual fazemos o melhor que podemos com os meios à nossa disposição.

Com 10 jornadas cumpridas na 1ª fase do campeonato da Proliga somos segundos classificados (em igualdade com o Ginásio) e temos hipóteses reais de nos qualificarmos para o grupo A na segunda-fase. Também passámos a fase de grupos do Troféu António Pratas e, na Taça, caímos na 2ª eliminatória da 2ª fase, frente ao Imortal. Que balanço fazes do desempenho da equipa sénior na presente temporada?

Penso que o balanço, apesar de ser positivo, poderia ser melhor. Ao nível do que é o trabalho diário e semanal da equipa penso que poderíamos ter feito melhor. É verdade que temos sofrido muitos condicionalismos, nomeadamente lesões, muitas dificuldades no que se refere a jogadores, que por vezes não conseguem compatibilizar totalmente o basquetebol com a sua vida familiar ou profissional, e outras vezes por alguma falta de compromisso com a equipa. Estas circunstâncias influenciam naturalmente o trabalho diário da equipa, que por vezes apresenta níveis de assiduidade baixa aos treinos. A verdade é que não temos trabalhado como deveria trabalhar uma equipa que pretende lutar por lugares cimeiros da competição, e isso prejudica a nossa evolução.

Se no início da época pensássemos que à 10ª jornada estaríamos em segundo lugar da zona sul com seis vitórias e a lutar pelos acesso ao Grupo A da 2ª fase é possível que fosse um cenário satisfatório. Todavia, conhecendo a equipa e as suas potencialidades creio que poderíamos fazer mais e melhor, incluindo no que se refere a resultados. A verdade é que na minha perspectiva estamos aquém das nossas possibilidades porque não estamos a conseguir trabalhar com a assiduidade e regularidade necessárias. Assim, nesta fase da temporada, e apesar da nossa posição na classificação da Proliga, fico com um sabor amargo por saber que se tivéssemos trabalhado mais poderíamos estar melhor.

O presente campeonato da Proliga tem-se revelado muito equilibrado e, com excepção do Imortal que está invicto na prova, todas as equipas parecem capazes de vencer (ou perder) qualquer jogo. Faltando 4 jogos para terminarmos a 1ª fase, e tendo em conta que jogaremos contra adversários directos na luta pelo apuramento, quais são os aspectos fundamentais para a nossa equipa poder superar o equilíbrio da prova e garantir as vitórias necessárias?

É verdade que tem havido um grande equilíbrio entre todas as equipas. Tirando um ou outro jogo com resultado desnivelado a verdade é que todos os jogos têm sido equilibrados e decididos nos últimos segundos, em pequenos pormenores, em detalhes, em capacidade de luta e de competição nos momentos essenciais do jogo. Eu penso que o que resta da primeira fase vai passar muito por aí. Temos quatro jogos contra quatro boas equipas, três das quais concorrentes directos no objectivo da qualificação – refiro-me ao Estoril, Ginásio e Académica, já que o Imortal está garantido no Grupo A -, e o Belenenses tem que dar uma resposta à altura. Se queremos estar entre os melhores temos que ganhar, é tão simples quanto isto. Antevejo jogos equilibrados e difíceis, decididos em detalhes, sendo que a preparação que fizermos será essencial para o sucesso.

Este ano temos tido algum público no Acácio Rosa durante os jogos da Proliga e por vezes sente-se que a equipa responde em campo à força que vem das bancadas. De que forma vês esta relação entre a equipa e os adeptos no nosso pavilhão?

Sim, em alguns jogos temos tido mais gente, com um ambiente diferente, o que acaba por se reflectir no modo como jogamos. É claro que os jogadores preferem jogar com público nas bancadas, para um pavilhão cheio, e por isso é importante que os adeptos participem neste esforço, que se envolvam, que venham ver a equipa e que se construa uma relação dos sócios e dos adeptos do Belenenses com a sua equipa de basquetebol (que neste momento não existe, salvo num ou noutro jogo).

Relativamente à Proliga: o que pensas sobre o actual modelo competitivo da prova?

Eu penso que neste momento a Proliga está a perder qualidade e que esta realidade pode estar de alguma forma relacionada com o modelo da competição. Penso que a Proliga se poderia disputar numa única série nacional logo desde o início, talvez com doze equipas, à semelhança do que se passa na Liga. Seria eventualmente uma forma de melhorar a competitividade da prova e garantir-lhe um carácter nacional logo desde a primeira jornada. Também penso que a questão dos estrangeiros deveria ser reponderada, procurando aproximar as regras relacionadas com jogadores estrangeiros àquelas que vigoram na Liga. Neste momento há na Proliga equipas muito jovens (nomeadamente as “B”) e outras que incluem jogadores mais veteranos, o que de certa forma representa um fosso geracional pelo meio. Penso que nos últimos anos a qualidade da Proliga não melhorou pelo que se calhar uma resposta possível poderia ser a criação de uma série única de âmbito nacional com a possibilidade das equipas aumentarem o número de estrangeiros.

Por falar em estrangeiros, somos uma equipa sem estrangeiros que manteve vários jogadores da temporada passada e que se reforçou em algumas posições com jogadores experientes, com provas dadas na Proliga. Por outro lado, o número de jogadores do plantel principal oriundos da nossa formação é ainda reduzido. Acreditas que no futuro poderemos reforçar o grupo dos jogadores vindos dos Sub-18 que chegam à equipa principal?

Todo o trabalho de formação deve ser perspectivado no sentido de fornecer jogadores à equipa sénior. Este é um trabalho que demora vários anos e terá que se desenvolvido numa perspectiva de longo prazo, tendo em conta que formar um jogador de basquetebol demora nunca menos de oito a dez anos. Obviamente que as condições com que trabalhamos não são as ideais e isso atrasa este processo de formação de jogadores capazes de chegar ao nível que desejamos para a nossa equipa principal, mas neste momento já temos jogadores Sub-18 a treinar regularmente com a equipa sénior e a minha ideia é que esses jogadores possam no futuro integrar a equipa. Agora, tudo depende da vontade e do empenho deles, da forma como trabalharem porque não faz sentido integrar jogadores da formação apenas porque são da formação. O clube deve esforçar-se por melhorar as condições que oferece aos jogadores da formação e estes devem responder com trabalho, de forma a poderem ambicionar ter um lugar na equipa principal.

Para além de técnico principal do Clube também fazes algum trabalho de coordenação dos escalões de formação. Como tens acompanhado este crescimento do basquetebol do Belenenses em número de atletas e equipas?

Eu sou e não sou coordenador, porque se por um lado vou falando com os treinadores por outro lado não tenho possibilidade de fazer um real trabalho de coordenação, que implica estar mais presente, ver treinos, assistir a mais jogos, dar mais feedback aos treinadores. Esta impossibilidade prende-se com a minha indisponibilidade, já que tenho outros compromissos profissionais, para além das exigências relacionadas com a equipa sénior. Dito isto, tenho procurado acompanhar ao máximo os jogos da nossa formação, tenho procurado dar feedback sobre aspectos positivos e outros que creio que deverão mudar, ainda que de forma não tão regular como gostaria. Seja como for é verdade que temos vindo a aumentar o número de atletas e de equipas, e neste momento falta-nos sobretudo melhorar as condições de treino, o número de horas de treino, melhores horários de treino e, claro, melhores espaços. As coisas têm melhorado aos poucos, de forma consolidada. Pequenos passos mas no sentido certo. A dinâmica da secção também melhorou, incluindo com a participação de mais pais na vida da secção e da modalidade no Clube.