Nuno Ferreira regressou ao Belenenses no início da temporada 2016/17 para conduzir os azuis na sua estreia na nova Liga Feminina Allianz. A uma jornada do final da primeira volta, o técnico falou com os canais de comunicação do Belenenses sobre a primeira fase do Liga e da Taça de Portugal, abordou a invulgar onda de lesões que tem afectado a equipa e deixou a sua visão sobre a evolução do futebol feminino em Portugal. Satisfeito com a chamada regular de atletas do Belenenses às selecções nacionais, mostrou-se confiante quanto ao cumprimento dos objectivos deixando aos adeptos o desafio de se unirem em torno do apoio à equipa.
Regressaste este ano ao Restelo para comandar a equipa na nova Liga Feminina numa aposta do presidente do CFB. Qual foi a sensação de voltar e o que te foi pedido em termos de objectivos?
Foi um misto de surpresa e satisfação. Não esperava voltar ao CFB tão cedo, numa conversa muito positiva com o presidente Patrick e o director João Lopes, fizemos o balanço das épocas anteriores e do que precisava ser feito para o futuro, tudo isso suscitou em mim o desejo de regressar. No entanto não foi uma decisão fácil de tomar, porque tinha acabado de conquistar o Campeonato Nacional da 2ª Divisão e a Taça de Honra de Lisboa com o CAC da Pontinha, mas o futebol é assim mesmo, é feito de oportunidades, e todos sabem que tenho muitas raízes familiares no CFB, seria quase impossível dizer que não.
Os objectivos estabelecidos para esta temporada visam assegurar a manutenção na Liga Allianz e tentar ir o mais longe possível na Taça de Portugal.
A nova Liga Allianz representa um desafio grande para uma equipa com muita qualidade mas que é muito jovem. Qual o balanço que nesta altura podemos fazer da 1ª volta do campeonato?
A realidade é mesmo essa, é uma equipa muito jovem, temos atletas de 15, 16, 17 anos a jogar e a competir contra atletas internacionais e muito experientes neste campeonato. A Liga Allianz é muito competitiva, bastante exigente, as equipas que nela habitam têm muita experiência e anos de rodagem. Apenas 2, 3 jogadoras do nosso plantel já jogaram nesta liga e estão identificadas com o nível de exigência da mesma. Estamos num processo de maturação. Os resultados estão longe do pretendido, por vezes temos sofrido pesadas derrotas com equipas que têm planteis recheados de jogadoras internacionais A e até mesmo atletas de outras nacionalidades que foram contratadas pelos seus clubes.
Neste momento apenas dependemos de nós para conseguirmos os nossos objectivos, o calendário na segunda volta permite-nos estar optimistas uma vez que iremos receber no Restelo muitos dos nossos concorrentes directos na luta pela manutenção.
Sabíamos desde o início das dificuldades, infelizmente ainda não podemos concorrer com o poderio orçamental que outras equipas como o SCP e o SC Braga apresentam. No campo desportivo, equipas como o campeão nacional Futebol Benfica, Valadares, A dos Francos, Albergaria e Vilaverdense mantiveram e reforçaram muito bem os seus planteis.
Acresceu uma terrível onda de lesões, com jogos em que a equipa chegou a apresentar dez atletas lesionadas. Como estão as coisas neste plano?
Infelizmente estamos ainda longe de um cenário animador. Temos muitas jogadoras lesionadas.
A Rafaela Ventura lesionou-se num exercício do Exército, foi operada ao joelho; a Margarida Battleyfont lesionou-se no jogo com o Viseu, operada ao joelho; a Catarina Pereira lesionou-se no jogo com o A dos Francos, operada ao joelho; a Rita Barreto, lesionou-se no jogo com o Braga, irá ser operada ao joelho; a Raquel Bentinho Oliveira lesionou-se no jogo com o Boavista; irá ser operada ao joelho. A Flávia dos Santos lesionou-se no jogo com o Estoril, ao que tudo indica irá regressar muito em breve; a Joana Marques anda com problemas no joelho e não tem sido presença regular na equipa; a Diana Bernardino ainda não recuperou totalmente de uma lesão antiga; a Jessica Alves lesionou-se no jogo com o A dos Francos, problemas no joelho, ao que tudo indica irá regressar muito em breve; a Jéssica Garra apresenta um problema no menisco e não sabemos ainda para quando a recuperação; a juntar a tudo isto, perdemos a Sónia Castanheira, Guarda-Redes, que ingressou na GNR e não pode competir nesta fase [está na recruta], e outra das nossas Guarda-Redes, a jovem Carolina Vilão, após o jogo com o A dos Francos, ao sair da nossa secção caiu das escadas e sofreu uma entorse.
Ando no futebol há muitos anos e posso dizer que nunca vivi nada assim.
Não acredito em bruxas, nem no azar, mas no balneário falamos muito sobre esta onda de lesões que assolaram a equipa. O plantel neste momento está muito reduzido, os jogos da Liga Allianz requerem muita intensidade, as jogadoras operacionais estão a fazer um esforço suplementar para cobrir as ausências das lesionadas, estão a superar os limites para dignificar o clube. Infelizmente, muitas das lesionadas já não poderão jogar mais esta época uma vez que os prazos de recuperação são muito longos.
Há quem entenda que a 2ª volta da Liga apresenta um calendário mais favorável, sobretudo porque recebemos no Restelo muitos dos adversários directos. Vês a coisa dessa forma e estás confiante quanto aos objectivos?
Acredito que iremos cumprir os objectivos, mesmo sabendo que não estamos na máxima força, muito longe disso. Temos actualmente 9 pontos, acredito que iremos dobrar estes 9 pontos e iremos fazer mais do que isso. Falta o jogo com o Vilaverdense para terminar a primeira volta. Estamos dentro do possível a retocar o plantel, a tentar recuperar algumas lesionadas, o calendário na segunda volta dá-nos alento e esperança numa boa prestação.
Estamos a tentar reforçar a equipa com a entrada de jogadoras novas, mas o mercado é muito curto e nesta fase encontrar uma boa jogadora disponível é muito difícil.
De qualquer forma, estamos a trabalhar em arranjar soluções com o plantel disponível que temos, tenho a certeza que com o plantel todo disponível teríamos o dobro dos pontos e não estaríamos nesta situação de sufoco. Mas o grupo de trabalho muito em breve irá dar uma resposta muito positiva.
Em paralelo, a equipa mantém-se na Taça de Portugal, prova onde jogará no Restelo a 4ª eliminatória depois de vencer em Gaia num campo muito difícil. Até onde podemos ir?
Iremos disputar no dia 22 Janeiro no Restelo os oitavos-de-final com o Ouriense, acreditamos muito que podemos passar esta eliminatória. Chegar às meias-finais seria superar todas as expectativas, chegar à final um sonho, vencer a final seria o céu. Para já tentar vencer o Ouriense, depois veremos…
Sabemos que é com grande alegria que vês atletas do Belenenses a serem chamadas às selecções nacionais. Temos aqui grandes promessas do futebol feminino português?
Para mim, enquanto treinador, não existe maior satisfação do que ver atletas a chegar ao patamar mais alto. Fico feliz pela Catarina Pereira, pela Carolina Vilão, pela Inês Salvador e agora pela Ana Rita Soares, atletas do clube, por estarem no espaço Selecção Nacional. Acredito que em breve as gémeas Balão irão voltar a ser chamadas também. Estas meninas de 15, 16, 17 anos são sem dúvida grandes promessas do futebol feminino português. São meninas que já têm títulos na carreira, foram campeãs nacionais da 2ª divisão na época passada, são meninas que estão a competir na Liga Allianz, jogam todas as semanas contra as melhores jogadoras portuguesas, treinam muito bem, estão num ambiente favorável que lhes permite evoluir. Elas tinham idade para jogar no campeonato nacional de juniores, futebol de 9, aliás tiveram propostas de outros clubes para o fazer, mas optaram por rumar para o Belenenses para jogarem na Liga Allianz, porque beneficiam disso mesmo e os frutos da sua aposta estão à vista, chamadas às selecções nacionais jovens e evolução natural ao competirem no nível maior no futebol português. Tem de constar no ADN do Belenenses, deste modo o clube faz-se representar ao mais alto nível nas selecções jovens e no futuro próximo na selecção principal. Por agora este objectivo está cumprido.
A selecção nacional feminina alcançou o acesso ao Euro pela primeira vez, no mesmo ano em que a FPF lançou a Liga Allianz. As sementes parecem estar lançadas, como vês o futuro do futebol português no feminino?
Já o fiz publicamente e volto a fazê-lo, toda a estrutura técnica da FPF, atletas e clubes estão de parabéns pelo apuramento para o EURO, foi sem duvida um trabalho de excelência a qualificação.
Em relação à Liga Allianz, é um tema muito complexo com diferentes leituras e diferentes posições.
Analisando sobre a perspectiva da jogadora, sem dúvida que trouxe muitos benefícios para as atletas, algumas delas estão inseridas em contextos e condições de trabalho que nunca tinham vivido, excepto em espaço de selecção nacional.
Por outro lado, os clubes que sempre apostaram na modalidade de um momento para o outro ficaram privados de muitos dos seus activos, jogadoras, porque viram-nas partir para outros clubes com maior orçamento e maior reputação, o que é normal no futebol e no mercado de trabalho, e mesmo aqueles que conseguiram manter os seus planteis, na próxima época e com o mercado livre, acredito que haverá ainda mais mobilidade.
Nesta fase, não me compete dizer se foi decisão acertada ou não da FPF. Muito já foi falado e discutido. Existem pessoas mais qualificadas para opinarem sobre este assunto.
Analisando em poucas palavras o desenvolvimento competitivo desta liga, entendo que está a ser jogada a duas velocidades: SC Braga, Futebol Benfica, Valadares e Sporting CP muito rápidos e quase todas as outras em ritmo mais moderado.
Em vésperas do arranque da 2ª metade da temporada, que mensagem queres deixar aos sócios e adeptos do Belenenses?
Sabemos que não estão satisfeitos connosco, alguns resultados têm sido demasiado embaraçosos para todos e em nada têm dignificado o clube. As jogadoras são as que sofrem mais com as derrotas que por vezes não conseguimos evitar.
Sabemos que ainda não temos uma equipa à Belenenses, estamos a construi-la para as épocas vindouras.
Aqueles que acompanham os jogos, sabem das nossas dificuldades quando defrontamos equipas mais experientes e com outros argumentos, no entanto também sabem que as nossas meninas nunca baixam os braços e que jogam sempre com força, união e querer durante 90 minutos.
Estamos muito feridos com as muitas lesões que assolam o plantel, no entanto peço em nome de toda a equipa que não desistam de nós, que nos apoiem nos jogos em casa.
Nesta segunda volta iremos receber muitas equipas que têm os nossos objectivos, precisamos da ajuda de todos para manter o Belenenses na Liga Allianz e continuar em prova na taça de Portugal.