Natural de Portimão, 37 anos, Nuno Tavares é treinador da equipa de basquetebol do Belenenses. Destaca-se no seu curriculo a passagem pelo basquetebol norte-americano, onde integrou a equipa técnica dos High Point Cougars, da Carolina do Norte, Liceu Cristão de Trinity e Universidade de Northwood, ambas no Texas. Fez ainda parte do Comité Organizativo de um dos mais prestigiados campos mundiais de prospecção de jogadores: o de Treviso, Itália. Em Portugal foi Campeão Regional de Sub-18 e Sub-20 ao serviço do Portimonense e foi responsável, em 2009/2010, por todo o scouting da equipa do Centro de Alto Rendimento do Jamor e Seleção Nacional de sub-18 Masculina.

Comecemos por uma generalidade: como é que está o basquetebol em Portugal? Chegam todos os anos notícias de desistências nas ligas principais, sentes alguma perda de visibilidade da modalidade?
Quero começar por agradecer a entrevista, pois é mais uma via de chegarmos aos sócios e simpatizantes do Belenenses.
Claramente existem melhores condições agora do que há 20 anos atrás, mais pavilhões, treinadores/árbitros e outros agentes mais qualificados, as novas tecnologias levam a informação a todo o lado rapidamente. No entanto penso que deve haver uma remodelação profunda na maneira como se vê a modalidade, começando pelas bases, desenvolvendo e fazendo crescer o minibasquete para números bem superiores ao que temos, criando um sistema misto (à semelhança de Espanha) onde a modalidade tem grande influência nas escolas e, finalmente, olhando para o top da pirâmide de uma forma mais profissional, com custos e orçamentos realistas ao cêntimo, não se vivendo acima das possibilidades, criando regras e plataformas que tornem os clubes mais equilibrados e competitivos.

O basquetebol do Belenenses, para quem vê de fora, parece fazer um trabalho notável ao nível do fomento da prática desportiva. Há muitas crianças a praticar desporto, sente-se organização e entusiasmo, como é que olhas para este projecto numa perspectiva mais global?
Este projecto entrou numa fase nova, uma fase onde existe um plano muito bem definido para os próximos 5 anos, desde o minibasquete aos seniores, tanto a nível de captação de jogadores como do trabalho técnico e táctico que queremos fazer com cada escalão. É importante também rodearmo-nos de pessoas motivadas, qualificadas e que tenham o perfil que encaixe no plano definido. Durante este caminho iremos deparar-nos com obstáculos e cometer erros, mas se soubermos para onde queremos ir, o que aparece pelo meio de negativo torna-se mais fácil de ultrapassar. Não tenho dúvidas que daqui a 5 anos o basquetebol de Belenenses será uma referência tanto a nível da modalidade como a nível de estrutura desportiva.

E qual é a sensação de representar um grande clube como o Belenenses? Sentes uma responsabilidade maior? Os atletas sentem o peso da camisola?
Sem dúvida que o Belenenses é um clube diferente dos outros todos, tem uma “grandeza” especial, no entanto também sentimos que estamos a começar uma nova cultura de clube/modalidade que, por força de circunstâncias do passado, se perdeu. O tal peso da camisola, cultura de clube, do amor pela Cruz de Cristo tem que ser cultivada e passada de geração para geração, escalão para escalão, neste momento estamos todos a trabalhar para que esse “peso da camisola” seja encarado como um orgulho, um privilégio e uma honra.

O Belenenses fez uma grande 1ª Fase no Campeonato Nacional. Correu tudo dentro das tuas expectativas?
Sim, correu. Depois da época passada, estruturámos esta 1ª fase de modo diferente, pensando na 2ª fase e usando a 1ª fase para evoluirmos e estarmos mais sólidos para o que aí vem.
Esta equipa de seniores treina 8 vezes por semana, sendo que esta época abdicamos de 1 treino de campo para introduzirmos 2 treinos semanais destinados à condição física, e isso notou-se em alguns momentos da 1ª fase onde a equipa estava cansada, o que estava previsto acontecer, mas sabendo que iremos chegar melhor preparados à 2ª fase.

E como estamos de objectivos para o que resta de temporada, agora que já se conhecem os adversários da fase decisiva? Há notícia de que algumas equipas se estão a reforçar muito, estás optimista? A Proliga é uma possibilidade?
Os objectivos para esta época foram comunicados aos jogadores no primeiro treino em Setembro: fazer mais um jogo do que na época passada, ou seja, marcar presença no jogo de subida à Proliga. Sabemos quem são os adversários, já os vimos várias vezes, já jogámos contra alguns deles, temos a obrigação de ser muito competitivos e fazer melhor do que na época passada, pois a exigência será sempre máxima neste clube. Se existem equipas que se estão a reforçar isso indica-nos que o nosso trabalho está a ser observado com muita atenção.
Sobre a subida à Proliga gostaria de dizer que, pelo que já fizemos na época passada, pelo que já fizemos esta época, sabemos que a Proliga é onde merecemos estar, logo é uma possibilidade real.

Queres deixar uma última palavra aos adeptos do Belenenses?
Quero dizer aos sócios e adeptos do Belenenses que nos apoiem, que marquem presença nos nossos jogos da segunda fase. Mostrem a força azul que sempre foi uma das grandes forças das modalidade quando joga em casa, que no passado enchia o Pavilhão Acácio Rosa. Este clube é especial pela força dos seus sócios e adeptos, e são eles que fazem o Belenenses ser o que é, logo, todos temos que estar nisto juntos, dentro e fora do campo.