Anaïs Verguet-Moniz é um nome conhecido de todos Os Belenenses. A defesa da nossa camisola já leva cerca de 16 anos, tendo passado pela natação e pelo triatlo, onde se sagrou Campeã Mundial de Juniores em 2005 e Campeã Europeia no ano seguinte, marcos que se juntam a vários títulos nacionais. Após uma curta interrupção, regressou ao seu Clube de sempre em 2013 para integrar a equipa de futebol feminino, considerando que vestir a camisola azul de Cruz de Cristo ao peito é uma “sensação única”.

Quais as tuas ligações ao Belenenses e como te tornaste adepta do nosso Clube?
Cheguei a Portugal em 1999, na altura, os meus pais fizeram-me sócia do Belenenses. Comecei por ser nadadora do Clube entre 1999 até 2004, entre 2004 e 2009 fui atleta do clube na modalidade de Triatlo. Voltei a representar e represento novamente o Belenenses desde finais de 2013 agora na modalidade de Futebol Feminino.
São cerca de 16 anos de ligações ao Belenenses e estou certa que desde muito cedo comecei a criar ligações afetivas e emocionais com o Clube. Primeiro, pelos anos em que estou ligada ao clube. Mesmo tendo estado afastada durante 3 anos, o meu clube do coração nunca deixou de ser o Clube de Futebol “Os Belenenses”. Para além de considerar todas as pessoas fulcrais neste meu percurso como atleta e adepta, destaco duas pessoas importantes as quais gostaria de recordar. Primeiro, o Engº Cabral Ferreira, que me deu uma lição de moral dias antes de me sagrar Campeã Europeia, a ele, devo-lhe este meu título. E a minha querida Ana Linheiro, que sempre seguiu os meus passos, mesmo estando a representar outro clube. Recordo ainda com alegria as minhas medalhas expostas naquela que considero a sala mais bonita do País, a sala dos troféus, recheada daquilo que é o nosso clube, conquistas em todas as modalidades. Esta é a magia do nosso Belenenses. Sem esquecer a frase que um dia ela sussurrou-me ao ouvido, momentos antes da finalíssima de Triatlo em Lisboa: “um dia Belenense, Belenense para sempre”. Não posso ser mais feliz quando tenho um clube que me diz tanto, e no qual me identifico, pela sua história, pela sua paixão, pelas pessoas, atletas, sócios, e simpatizantes que fizeram e fazem deste clube, um dos Grandes. Por fim, agradecer aos meus pais que tanto fizeram por mim e que muito reconheço o valor deles.

Para além de seres adepta e sócia do Belenenses, tens outros familiares que são igualmente sócios e adeptos. É uma família 100% belenenses?
A minha mãe sempre foi uma pessoa muito ligada ao Clube. Representou o Clube na modalidade de Triatlo, conquistando também um Título Europeu na categoria de Veteranos. A minha irmã, também foi atleta do Clube, tanto na natação como no Triatlo, conquistando também por diversas vezes medalhas a nível internacional. Por fim, posso dizer que temos ligações muito profundas com o clube, mas não posso dizer que somos uma família 100% Belenenses. Eu sim sei que sou uma apaixonada pelo Belenenses, e nunca deixarei de o ser.

Como foi o teu percurso como atleta ao serviço do Belenenses?
Nasci e vivi os meus primeiros dez anos em França, e desde muito cedo os meus pais incentivaram-me a praticar desporto. Quando cheguei a Portugal, os meus pais puseram-me na natação do Belenenses, devido à proximidade do clube com a nossa residência. Comecei as minhas primeiras braçadas no complexo das piscinas, na altura a minha treinadora era a Elena Kraeva. Lembro-me do meu primeiro treino como se fosse ontem, por ter marcado tanto o meu percurso enquanto desportista. Sabia que não tinha nível para acompanhar os meus colegas de treino, contudo, não desisti, e lutei muito, para chegar ao patamar deles. Ganhei algumas medalhas a nível nacional e regional, tanto individual como coletivamente. Aos 13 anos, mudei de treinador, e comecei a ser treinada pelo Slava Poliakov. Começava os meus dias com treinos às 6h da manhã, ia para a escola, às 17h estava no ginásio e por fim às 18h estava novamente dentro de água. Aos 15 anos, a saturação à natação levou-me a pensar seriamente em mudar de modalidade, pensei primeiramente em ir jogar à bola. Entretanto, a minha mãe e os meus treinadores de natação, motivaram-me para participar no triatlo de Oeiras. Assim fiz, a prova até correu bem, e depois da prova, fui convidada pela Federação de Triatlo para integrar o centro de alto rendimento na Cruz Quebrada em Setembro de 2004. Aceitei o desafio. Participei no meu primeiro campeonato da Europa em 2005 com 16 anos, fiz um excelente resultado para primeiro ano de Júnior, e coletivamente conquistámos a medalha de prata. Esta foi a minha primeira medalha no panorama internacional. Fui convocada para participar no Campeonato do Mundo no Japão em Setembro desse mesmo ano. Sabia que a concorrência iria ser bastante forte, medalhadas mundiais, continentais e ainda atletas com aspirações olímpicas estariam presentes num dos maiores eventos desportivos do mundo do Triatlo. Fiz a prova que poucos acreditavam que pudesse fazer, o meu pai foi o único a acreditar num título mundial. Lembro-me dos últimos 200 metros, com a meta na minha linha de mira, existiu uma mistura de emoções e lembro-me que uma delas foi, para além de estar a representar Portugal, também transportava comigo a Cruz de Cristo ao peito. A surpresa aconteceu também à chegada ao aeroporto, às 2 da manhã, com a presença de elementos ligados à direção do clube, que para mim foi mais um momento marcante e tocante que faz deste Clube uma paixão única. Para além do Título mundial, fui Campeã Europeia em 2006, terceira classificada no Campeonato da Europa de 2008, fui vice campeã ibero-americana em 2007, e ainda conquistei medalhas em provas internacionais. Fui por diversas vezes campeã nacional de triatlo. Hoje em dia a minha principal ambição é ser campeã do Campeonato Promoção de Futebol Feminino.

Começaste cedo e chegaste a atingir um título mundial de triatlo antes de te virares para o futebol. A saída do Belenenses, ainda que temporária, foi difícil?
Obviamente que foi uma decisão bastante difícil de tomar, mas não foi por isso que deixei de seguir a par e passo o meu clube. Voltei para o Belenenses em Dezembro de 2013, agora numa modalidade sem fato de banho, bicicleta ou ténis de corrida…mas sim uma bola e um par de chuteiras.

Qual a sensação de representar o clube do coração? Tem alguma sensação diferente? Mais forte?
Claramente que é uma sensação única, não tenho palavras para descrever o quão fantástico é representar este clube. A minha ligação com o Belenenses tem cerca de 16 anos, passei bons momentos, muito bons momentos, mas nem tudo foi um mar de rosas. Passei algumas dificuldades, tomei decisões bastante duras, mas que nunca deixaram que a ligação que tenho com o Belenenses fraquejasse. Hoje, orgulho-me de ser Belenense, e orgulho-me principalmente dos meus dois principais títulos, tanto o de Campeã Europeia, como o de Campeã Mundial, para além de terem sido conquistados pela seleção nacional também foram conquistados em representação do Clube de Futebol “Os Belenenses”. De realçar que o meu título de Campeã Mundial foi o primeiro para o Triatlo nacional, o que torna o feito mas relevante, por saber que o meu Clube ajudou-me e muito na conquista desta medalha.

E a responsabilidade? É maior?
O desporto ensinou-me a ser responsável em qualquer momento da minha vida. Claramente que sinto uma responsabilidade maior por ser o Belenenses, por querer tanto, e por querer o melhor para o Clube. Por vezes sinto necessidade de mostrar às minhas colegas de equipa que este não é um clube qualquer, mas sim, um clube com uma história invejável. Tanto para mim como para as minhas colegas de equipa a responsabilidade é igual, porque estamos todas a lutar para o mesmo objetivo, sermos campeãs, e irmos longe na Taça de Portugal.

Para terminar, como analisas o desempenho da nossa equipa de futebol feminino até ao momento? Estás optimista para 2015?
Temos uma equipa bastante forte este ano, estamos em primeiro lugar do campeonato de promoção, equivalente à segunda liga nacional masculina. As ambições são claras, o grupo quer ser campeão. Temos um jogo bastante importante este fim-de-semana, no Paio Pires, no qual, apenas a vitória interessa para conseguirmos uma liderança pontual mais confortável. Entramos agora em 2015, o otimismo continua presente. Vamos fazer tudo para sermos campeãs, e darmos a este clube o primeiro título no futebol feminino. Para além do nosso lugar no campeonato de promoção, continuamos na luta para uma possível presença no Jamor.
Gostaria de poder contar com o vosso apoio nos jogos em casa e fora, e sentirmos que os adeptos, sócios e simpatizantes estão a torcer para que o nosso Clube esteja presente na maior competição nacional de futebol feminino.