Nesta época de 1988/89, o sorteio da Taça UEFA voltou a ser madrasto, conforme a tradição: trouxe-nos o Bayer Leverkusen, vencedor da competição do ano anterior. À partida, não era um adversário nada fácil.

No entanto, o Belenenses tinha uma grande equipa (que, de resto, no fim dessa época conquistou a Taça de Portugal) e estava em grande forma (liderou o Campeonato Nacional nas primeiras jornadas). E na época anterior ficara em 3º lugar. O conceito de “quatro grandes”, interrompido com a nossa despromoção em 1982, começava a reafirmar-se.

Demonstrando o seu valor, acabámos por eliminar o Bayer Leverkusen, ganhando ambos os jogos da eliminatória por 1-0, primeiro na Alemanha (em 7 de Setembro) e depois no Restelo (na data que hoje assinalamos).

Na nossa equipa, pontificavam jogadores como Jorge Martins, José António, Sobrinho, Juanico, Jaime, Paulo Monteiro, Chico Faria e uma asa esquerda que faria inveja a (praticamente) qualquer equipa mundial: Zé Mário, Adão e Mladenov.

E foi precisamente numa jogada pelo lado esquerdo que surgiu o golo do nosso triunfo em casa do adversário, logo aos sete minutos: arrancada de Adão, cruzamento perfeito e magnífico cabeceamento de Mladenov. Um grande golo! E ainda outro golo poderíamos ter feito na primeira parte, em que fomos brilhantíssimos, quando uma autêntica “bomba” de Paulo Monteiro, desferida a cerca de trinta metros da baliza, esbarrou violentamente na trave.

Na segunda parte, foi aguentar, conseguindo o Belenenses conservar esta prestigiante vitória. A juntar à força da equipa alemão, note-se que o treinador do Bayer era Rinus Michaels, o genial holandês que, no início dos anos 70, ao serviço do Ajax e da selecção holandesa, inventou o conceito de “futebol total”, criando autênticas máquinas de bem jogar.

Por causa dos Jogos Olímpicos, foi grande o espaço para a 2ª mão. Mas, enfim, lá chegou o dia doze de Outubro 1988, para o jogo no nosso estádio. O jogo foi transmitido pela televisão, os bilhetes eram muitíssimo caros e, por isso, a assistência constituiu uma desilusão para nós: pouco mais de 15.000 pessoas (possivelmente umas 17.000). Mas, ainda assim, não faltou apoio e passámos a eliminatória, voltando a ganhar por 1-0, com golo de livre (de Adão) a cerca de 12 minutos do fim, que provocou uma tremenda e estrondosa explosão de alegria no Restelo. Foi um jogo terrivelmente disputado mas os últimos 10 minutos foram de autêntico delírio: por todo o estádio reverberava o grito “Belém!” Belém! Belém!”.

Ainda nos recordamos dos cânticos à saída, um ambiente mais jovem, mais confiante, quase direi, mais cosmopolita. O azul brilhava, refulgia!

No jornal “A Bola” de 13 de Outubro, Aurélio Março escreveu alguns belos parágrafos, referindo-se à vitória do Belenenses, e aos minutos derradeiros do 2º jogo, a seguir a termos chegado ao golo:

“O público, nesses minutos finais esqueceu o sofrimento que foi aquele ‘pressing’ dos alemães, a meio da segunda parte, antes da entrada de um jogador fresco, com toda a equipa a carregar sobre a grande área do Belenenses, até já nem se lembrava do bom futebol jogado pelos portugueses, daquele ‘sprint’ admirável de Jaime, a que faltou um pouquinho de força, de um outro lance de Mladenov, que já não foi capaz de bater o guarda-redes, nem se lembrava já do polémico lance de Carlos Ribeiro, aparentemente derrubado pelo guarda redes para um penalty – lá não me pareceu mas agora, aqui, na madrugada, vêm dizer-me que foi. Vê-se tudo na TV.

Em boa verdade, os últimos cinco minutos foram disputados em êxtase por uma superequipa do Belenenses, que já no Domingo jogara muito bem contra o Benfica, exibindo ontem, como há três dias atrás, uma condição fisica impecável, uma organização de jogo impossível de ultrapassar, uma concentração que não deixou aos alemães qualquer hipótese de aproveitar um erro.

Um público inebriante de alegria, da vitória, da sede e da memória do passado, quando o Belenenses discutia com o Benfica e o Sporting, mais tarde com o F.C.Porto, a supremacia do futebol português.

Que bela vitória a do Belenenses, que bem que jogou a equipa, como ela tenta chegar ao pedestal que já foi seu! Que bela história para os Belenenses contarem mais tarde!”.

E já agora, em declarações ao mesmo jornal, a seguir ao jogo, exclamava Mário Rosa Freire, então Presidente da Direcção: “O Belenenses está, sem dúvida, a viver um momento histórico, é o regresso do velho Belenenses! O nome do clube vai ecoar pela Europa fora! ”.

Mas a nossa carreira europeia não duraria muito. Tristemente, perante a satisfação (sim, satisfação!!!) de alguns sócios, sempre de horizontes pequeninos…

JMA + NG