Depois de uma ausência de onze anos, o Belenenses tinha voltado às competições europeia. É já tradição saírem-nos adversários fortíssimos no sorteio, mesmo nas alturas em que o sorteio não era condicionado. E, desta feita, e pela terceira vez, nas sete participações que então se cumpriam, saiu-nos “na rifa” o poderoso Barcelona. E pela 3ª vez perdemos com azar, apenas por um golo no conjunto dos dois ou três jogos. Sim, uma vez foi preciso haver jogo de desempate, que se jogou em Barcelona.
Mas situemo-nos, então, em 1987. Estavam ainda por chegar reforços que se viriam a revelar muito importantes (nomeadamente, Zé Mário e Baidek) e tínhamos um certo receio da nossa performance defensiva, sobretudo no jogo da primeira mão, na Catalunha (que se disputou em 16 de Setembro). No entanto, aos 90m, o resultado continuava em 0-0, o que era excelente. Nos descontos, o pesadelo: sofremos dois golos! Era, outra vez. o nosso “fado”.
Apesar disso, mantínhamos uma grande esperança. Confiávamos na nossa capacidade atacante e o Barcelona mostrara debilidades. Contávamos os dias para o segundo jogo, decididos a ter uma grande noite europeia em que, pelo menos, não faltasse o nosso apoio, e fosse feita uma séria tentativa da equipa em virar a eliminatória.
E chegou a noite da segunda mão. O Restelo voltava a “vestir-se” de Europa, em trajes de gala. As ruas à volta do estádio estavam outras vez cheias de Beléns… como nos velhos tempos! A alegria pairava no ar. A assistência cifrou-se em 25.000 pessoas, entusiásticas. Estreámos a nova iluminação, de luxo (por acaso, falhara o ensaio da véspera; mas naquele dia, ali estava ela, esplendorosa). Uma grande parte de nós quase rebentava de renovado orgulho e mostrámos isso mesmo quando as equipas entraram em campo: “Belém! Belém! Belém!”. Lindo, arrebatador!
Aos cinco minutos, foi o delírio no Restelo: uma vedeta do Barça tentou dar “baile”, Mladenov tirou-lhe a bola, cruzou e Mapuata (que fora gozado como tosco pelos catalães) fez o 1-0.
Foi uma explosão estrondosa!. As bancadas dos sócios tremiam com saltos, literalmente! Gritámos até ficarmos roucos, agitando freneticamente bandeiras e cachecóis. Era imenso o calor do nosso entusiasmo… Depois, vieram 20 minutos alucinantes: Mapuata isolado falha, Chiquinho idem e um autêntico climax: o Guarda-Redes catalão encontrava-se adiantado, Mladenov fez um chapéu magistral a uns bons 40 metros (à meia volta!), a bola ia a entrar, o guardião blaugrana a recuar, a recuar… e em cima da linha salvou para canto! Seria um golo para ficar registado a letras de ouro! Tantas oportunidades perdidas…
A segunda-parte foi consumida com contínuas picardias (um jogador espanhol chegou a arrancar a bandeirinha das mãos do liner, por discordar de um lançamento!) mas nos últimos 10m voltámos à carga. Mesmo a acabar a partida, houve remate de Chiquinho à baliza do Barca, o guarda-redes não agarrou, José António voou para a recarga, era o golo (e empate na eliminatória)… mas por centímetros não chegou lá! Como na altura se disse, tivesse o nosso malogrado Capitão cabelo em vez da sua carequinha e tinha chegado à bola e ao golo! Foi por centímetros! Seria o 2-0 e o empate na eliminatória.
No final, vitória no jogo, derrota na eliminatória mas, de qualquer modo, uma noite inesquecível!
Já agora, foi também um prenúncio de um bom campeonato, com um 3º lugar (a nossa classificação mais vezes repetida) e o regresso ao pódio.
JMA