Uma semana depois da sua estreia num jogo particular com o F.C. Porto, Matateu vestiu a camisola do Belenenses pela primeira vez num jogo oficial, o de abertura do Campeonato de 1951/52. E começou de maneira auspiciosa: num jogo vibrante, com sucessivas alternâncias no marcador – e grande, embora sadia, rivalidade nas bancadas, segundo ouvi de quem estava lá –, Matateu assinou os dois últimos golos que nos deram a vitória por 4-3 sobre o Sporting. E para que tudo fosse perfeito neste jogo, ele teve lugar num dia de aniversário do nosso clube: como se fosse algo de predestinado, este encontro de dois Titâs, O Belenenses e Matateu!

No final do jogo, eufóricos e empolgados, os adeptos do Belenenses invadiram o terreno de jogo e carregaram Matateu em ombros (facto documentado na edição de «A Bola» de 24/09/1951, que reproduzimos: um inestimável testemunho…).

Disse-se, então, que fora a primeira vez que, em Portugal, homens de raça branca tinham carregado em triunfo um homem de raça preta, confirmando que o Belenenses era – e ainda é – um clube de virtudes.

Esta vitória e esta grande exibição de Matateu, foi ainda mais valorizada por ter sido obtida contra o melhor Sporting de sempre, no seu auge, com o grande Azevedo e os Cinco Violinos, a meio de quatro títulos consecutivos. Com efeito, o Sporting fora o Campeão da época anterior; voltou a ser campeão nesta temporada – embora em luta taco a taco com o Benfica, o F. C. Porto e o Belenenses, tendo o nosso clube estado 16 jornadas seguidas sem perder; e ainda ganhou os dois títulos seguintes. Mas, naquela tarde, em que comemorávamos o 32º aniversário, o Sporting teve que se vergar a Matateu e ao Belenenses.

A partir desse dia, Matateu construiu uma carreira fabulosa, rodeando-se de uma aura lendária, e tornando-se o jogador mais popular de Portugal durante uma década – aquele que todos os “miúdos” queriam “ser” nas suas jogatanas de rua, aquele cujo nome era dado a cães, gatos, papagaios, lojas e carros – como o “Mercedes Matateu”. Ele era o homem das fintas em meio palmo de terreno, o homens dos golos de ângulo impossível, o terror dos Guarda-Redes (que, muitas vezes, eram projectados baliza dentro com a bola, tal a força do remate), a alegria dos Belenenses (e, muitas vezes, dos portugueses, na Selecção Nacional), o único e incomparável… Matateu!

No futebol Português, ninguém jamais o ultrapassou ou igualou em capacidade de finta na grande área e em potência de remate (já com 60 anos, num jogo a brincar, no Canadá, uma bola, por si rematada, saiu ao lado da baliza e foi embater, num café distante, num senhor que teve de ser transportado para o hospital!). Nem houve nunca uma dupla de irmãos com o valor somado de Matateu e Vicente!

É nosso e é único: Matateu!

JMA