Iniciando a sua actividade nesta data, o Futsal rapidamente – quase diríamos, imediatamente – conquistou um lugar no coração dos adeptos do Belenenses.

Para poder competir, foi necessário adquirir os direitos desportivos de outra qualidade, no caso, o Chelas. E, desse modo, começámos pela 3ª divisão. Seria difícil prognosticar, nessa altura, que menos de cinco anos depois, o Belenenses estaria a disputar a finalíssima de 3 jogos do campeonato nacional da 1ª Divisão… Mas já lá vamos.

A escalada até à 1ª divisão foi feita no mínimo de tempo que era possível, em duas épocas sucessivas, conquistando os títulos respectivos da 3ª e da 2ª divisão, no primeiro caso sem qualquer derrota. E ainda se garantiu a presença numa Final Four da Taça de Portugal.

A consolidação na 1ª divisão foi igualmente rápida. Logo nas duas primeiras épocas, o Belenenses ficou no grupo dos 8 primeiros (6º e 7º lugares, respectivamente), ou seja, dos apurados para o Play-off.

Em 2007/2008, já com Alípio Matos como treinador – sucedera, a meio da época anterior – a Manuel Jorge, que fizera todo o percurso anterior –, a parada subiu, e muito. Com a descoberta de jogadores brasileiros de excelente qualidade, a aposta em jogadores Portugueses que andavam pelas divisões secundárias mas que rapidamente “explodiram”, e a manutenção de alguns elementos, o Belenenses esteve praticamente na liderança do Campeonato. Foi afastado do 1º lugar da fase regular por circunstâncias anómalas: o caso Pedro Cary, um penalty marcado e desmarcado a 5 segundos do fim do último jogo, etc. No play-out, ultrapassámos o Instituto D. João V, o Freixieiro (que saudades!) e chegámos à final, contra o Benfica. Seria campeão quem primeiro ganhasse dois jogos. No Acácio Rosa, o Belenenses venceu o primeiro jogo, por 5-3. Estava quase… No entanto, no 2º jogo, a equipa teve um autêntico “apagão”, provavelmente pela inexperiência da grande maioria dos jogadores, e perdeu 6-0, para tristeza dos cerca de 250 belenenses presentes na Luz. Tristeza…mas cheia de alma! Muito desses foram ao hotel receber a equipa e manifestar o seu apoio para a finalíssima, no dia seguinte (na Luz, pois tínhamos perdido o 1º lugar na fase anterior, como já exposto). Nesse 3º jogo, com 1-1 no fim dos 40 minutos, houve lugar a prolongamento, de 10m. No intervalo deste, havia 2-2. Perdemos mesmo no fim. Faltou traquejo? Sim, talvez; mas também a estrelinha da sorte.

Mas o sonho de títulos persistia. No ano seguinte, a primeira fase do Campeonato foi magnificamente equilibrada entre Belenenses, Benfica, Freixieiro, Fundação J. Antunes e Sporting (não seriam melhores esses tempos?). Acabámos em 4º lugar. Antes do Play-off, fomos à final da Taça de Portugal mas perdemos (com o Benfica). No entanto, surgimos em grande plano no play-off do Campeonato. Deixámos para trás o Boticas (1/4 de final) e a Fundação J. Antunes (1/2 final). E estávamos de novo na decisão do Campeonato. Também novamente, o outro finalista era o Benfica. Desta vez, porém, era preciso ganhar 3 jogos para conquistar o título. Em caso do adversário, perdemos o primeiro e ganhámos o 2º. Podíamos decidir o Campeonato no Restelo. Essa hipótese ganhou mais força ao vencermos também o 3º jogo, por 4-3.

No dia seguinte, uma hora ou mais antes do jogo, quando as portas abriram, a bancada dos sócios do Pavilhão Acácio Rosa encheu imediatamente com os que há muito aguardavam em fila. Passou imediatamente a preencher-se o lado oposto. O recinto quase veio abaixo de aplausos e incentivos, arrepiantes, quando a nossa equipa assomou para aquecer e, depois, quando ambos os conjuntos entraram para o jogo. O começo foi de sonho. O Belenenses fez 1-0. Com uma facilidade surpreendente, chegou a 2-0 e logo a seguir a 3-0. Atordoado, o nosso adversário também já chegara ao limite de faltas. Tudo parecia azul. Depois…foi o que se sabe. Deixámos o Benfica empatar até ao intervalo. Sem Alípio Matos no banco, expulso no jogo anterior, faltou uma voz de comando a recomendar calma, quando tínhamos o título na mão. O empate persistiu longamente. Depois, já na segunda-metade-da-segunda-parte, uma perda de bola infeliz pôs-nos em desvantagem. Falhámos um livre de 10 metros. Não havia expulsões para o adversário. O Belenenses quase não tinha banco, com treinadores, adjuntos e vários jogadores a serem expulsos durante estes 4 jogos (a que acreseceu a infeliz lesão de Jardel). A derrota foi um duro golpe. Mas havia ainda o 5º jogo, “a negra”, novamente em casa do Benfica. Ao intervalo perdíamos 2-0. Parecíamos arrumados. No entanto, com muita alma, a nossa equipa reduziu a meio da 2ª parte e chegou ao empate a pouco mais de um minuto do fim. Pela 2ª vez consecutiva, íamos ao prolongamento da finalíssima! E pela 2ª vez perdíamos: 4-3, foi o resultado final.

Recomeçar, contra a adversidade, contra o fado, …é esse destino do Belenenses. Na época 2009/2010, continuávamos em busca de títulos. Mas parecia que a fatalidade não nos deixava. Perdemos (por 1-0) a Supertaça – outra vez com o Benfica! –, num jogo totalmente equilibrado que a sorte decidiu. Liderámos todo o campeonato, só uma vez fomos derrotados, à antepenúltima jornada, mas perdemos o 1ºlugar, em Pombal, a um minuto do fim, na última jornada. Era demais!

Pela 3ª ou 4a vez, adeptos invadiram um treino para incentivar a equipa e mostrar que estavam com ela. Faltavam 2 ou 3 dias para nova final da Taça de Portugal – e novamente com o Benfica. Desta vez, enfim, ganhámos. Foi um nem merecido prémio. Dedicámos um artigo anterior a essa conquista, pelo que aqui sobre ela não nos alargaremos. No Campeonato, caímos nas 1/2 finais, debaixo do assédio de clubes com maior poderio financeiro a grande parte dos nossos jogadores.

Nestes termos, do núcleo duro dos 3 anos anteriores, só Marcão e Jardel permaneceram. Reconstruiu-se a equipa, com dificuldades, e com um orçamento de risco, face ao apoio financeiro zero que o Clube, em colapso nesse âmbito, passou a dar. Metade da época 2010/2011 foi de alto nível, novamente com muitas jornadas de liderança do Campeonato. A segunda parte foi penosa. As receitas não chegavam, tentou-se reduzir despesas, excessivas, mas era o fim de uma era. Ficámos nos 1/4 de Final da Taça de Portugal e do Play-off do Campeonato.

A modalidade esteve para acabar. In extremis, foi possível continuar. Desportivamente, começou mal, pareceu endireitar-se, mas acabou pessimamente, contra todas as expectativas, numa despromoção.

De novo, era preciso recomeçar, reconquistar. A assim aconteceu. Logo na época seguinte, regressou-se à 1ª divisão. Depois, em 2013/2014, com uma aposta fortíssima na formação e na juventude, fez-se não só um Campeonato tranquilo, como até se chegou ao Play-off. A ensombrar a época, e melhores perspectivas futuras, ficou porém um novo drama: a morte de Carlos Moutinho, ao terminar de um jogo. O Belenenses é paixão, luta e sofrimento…

JMA