O Belenenses da década de 50 procurava afanosamente um título. Da equipa Campeã em 1946, só restaram, até meio da década de 50, Serafim e Feliciano. Mas, entretanto, chegavam os imensos Matateu e Vicente (ambos graças a esse formidável belenense que foi Francisco Soares da Cunha), mais tarde, também, Yaúca; da Argentina vieram Di Pace, Perez e Benitez (este, ao que parece, o melhor de todos, mas inutilizado por lesões); emergiam jogadores como José Pereira, Castela, Figueiredo, Pires, Carlos Silva e Dimas…

O campeonatos escapou-se-nos a 4 minutos do fim, em 1955, num revés da fortuna; escapou-se-nos em 1959, com muita intervenção de arbitragens; até em 51/52, chegamos a estar muito perto do título…

Mas a década não acabaria sem algumas alegrias desportivas. Em 1959, vencemos a Taça de Honra, com grande brilho, criando grandes expectativas para o Campeonato; este não correu tão bem como se sonhava, ficando o Belenenses em 3º lugar, mas indo na última jornada à Luz quebrar a invencibilidade do campeão Benfica.

Na Taça de Portugal, as coisas vieram a correr auspiciosamente na época de 59/60.

Na primeira eliminatória, saiu-nos o Atlético, rival sempre difícil. Ultrapassámos, contudo, a equipa de Alcântara com segurança, vencendo por 3-0 no Restelo e por 3-2 na Tapadinha.

Nos 1/16 de final, defrontámo-nos com o Lusitano de Évora, que então se encontrava na Primeira Divisão. Também este adversário foi deixado para trás, com vitórias no Restelo, por 3-1, e em Évora, por 4-1.

Nos 1/8 de final, superámos o Sp. de Braga, com dois triunfos por 1-0. Seguimos em frente, pois, como previa Alves dos Santos na edição de “A Bola” de 26 de Março de 1960 (ver imagem)

Vieram os 1/4 de final e a tarefa foi relativamente fácil, com triunfos por 6-0 e 3-0 sobre o Sporting Clube de Portugal (de Lourenço Marques).

Nas meias-finais, estavam, pois, os Quatro Grandes. Defrontavam-se, por um lado, Benfica e Sporting e, por outro, Belenenses e F.C.Porto.

Para o Campeonato, o Belenenses (3º, como vimos), superara o F.C.Porto (4º) nos dois jogos: 1-0 no Restelo e 3-2 nas Antas. Mas, tínhamos, sem dúvida, um adversário difícil pela frente.

No entanto, o jogo da 1ª mão, nas Antas, constituiu uma grande jornada para o Belenenses, que ali ganhou, espectacular e categoricamente, por 3-1. Pudemos, assim, gerir a vantagem no Restelo, dando-nos até ao luxo de perder por 1-0.

Em 26 de Junho ficaram, pois, apurados os dois finalistas – Belenenses e Sporting – que se defrontariam a 3 de Julho. Era a 3ª vez que se defrontavam na final da Taça de Portugal, levando até então vantagem os “leões”, com 2 vitórias. Repare-se, contudo, que “A Bola”, na antevisão do jogo, considerava juntamente com a Taça de Portugal os Campeonatos de Portugal; e, assim, era o 5º confronto em finais, com os sportinguistas a liderarem por 3-1 em vitórias. Em qualquer das contagens a diferença iria ser reduzida.

No jogo das expectativas, havia um grande equilíbrio. O favoritismo repartia-se quase por igual.

O Estádio Nacional transbordou de público e os jornais assinalaram a presença impressionante da massa de adeptos do Belenenses – metade dos 50.000 espectadores presentes – e o facto de se ter posto fim ao mito de que o Jamor só enchia em jogos da Selecção ou em confrontos Benfica-Sporting: naquela tarde, o estádio encheu totalmente.

O Onze do Belenenses que subiu ao relvado foi o seguinte: José Pereira; Rosendo e Moreira; Vicente, Pires e Castro; Yaúca, Carvalho, Tonho, Matateu e Estevão. O treinador era Otto Glória.

A equipa Azul entrou a dominar o jogo. Do relato do jornal “A Bola” do dia seguinte, reproduzimos: “Ainda a primeira dezena de minutos mão se havia escoado e já o Belenenses perdera duas excelentes oportunidades, numa das quais, a segunda, o remate de Tonho levou a bola a bater na trave, enquanto uma parte do público, como que impelido por mola eléctrica, se erguia sobre o granito dos assentos, soltando um grito, que devia ser de júbilo e se transformou em brado de desalento.

Contra a corrente do jogo, porém, antes dos 20 minutos, o Sporting adiantou-se no marcador, com um golo de Diego.

Logo no minuto seguinte, Tonho perdeu soberana oportunidade de empatar.

A conjugação destes dois lances perturbou a nossa equipa, passando o Sporting a jogar melhor. No entanto, o Belenenses não se desuniu, voltou à carga e ao comando das operações e, ao minuto 32, chegou ao empate. Na sequência de um livre marcado por Rosendo, Yaúca rematou, o guarda redes do Sporting defendeu para a frente e, oportuno, Carvalho surgiu a apontar o golo.

A partir daí e até ao intervalo, o Belenenses continuou a dominar e, em duas ocasiões, esteve muito perto de marcar.

Na 2ª parte, foi a vez do Sporting entrar melhor. Mas, aos 62 minutos, foi o Belenenses a surpreender o seu adversário, fazendo o 2-1: jogada de Estevão, primeiro remate de Yaúca e, na recarga, Matateu a atirar para o fundo da baliza.

Daí até ao fim do encontro, o Belenenses patenteou uma superioridade que tornou incontestável o triunfo.

Assim, o capitão Vicente foi receber o troféu e a festa foi Azul, no belo espaço do Jamor, naquele final de tarde. Era um prémio mais que merecido para vários jogadores míticos do Belenenses e do Futebol Português – Basta destacar, por exemplo, os nomes de Matateu, Vicente e José Pereira.

Com esta vitória, os triunfos nas edições até então disputadas da Taça de Portugal estavam assim distribuídos:

Benfica – 10
Sporting – 5
F.C.Porto – 2
Belenenses – 2
Académica – 1

Se, entretanto, considerássemos juntamente com as Taças de Portugal os Campeonatos de Portugal, então, os números seriam estes:

Benfica – 13
Sporting – 9
F.C.Porto – 6
Belenenses – 5
Olhanense – 1
Marítimo – 1
Carcavelinhos – 1
Académica – 1


JMA