Foi um dos dias mais tristes da história do Belenenses…
Para se perceber o assunto aqui abordado, é necessário sintetizar a informação relativa ao modo como nos foram concedidos os terrenos das Salésias – a título precário –, a obra magnífica e pioneira que ali realizou o Belenenses, o modo como fomos intimados a sair, a pedreira que nos foi facultada como local para edificar o Restelo, o nosso belo estádio construído com tanto sacrifício, e o modo como o Belenenses, incapaz de fazer face às dívidas contraídas para a construção, aos pagamentos a que estava obrigado diante da Câmara Municipal de Lisboa e à atitude draconiana desta (novamente em contraste com a generosidade para com outros emblemas), se viu obrigado a abrir mão da sua casa.
Quando foi fundado, num poético banco de jardim em não menos poética noite de luar, junto à estátua de Afonso de Albuquerque, na Praça do Império, o Clube de Futebol Os Belenenses foi recebido com desdém e hostilidade. Não se esperava que “os rapazes da praia”, do então humilde bairro de Belém, pudessem singrar. Durariam poucos meses, pensou-se e proclamou-se.
Mas, a golpes de valor e de audácia, o Belenenses resistiu a todas as campanhas e más-vontades. Afirmou-se e começou a conquistar vitórias, tornando-se grande e poderoso e fazendo soar campainhas de alarme.
Os primeiros jogos foram feito no campo do Pau do Fio, em frente da nossa modesta sede de então. Mas tivemos que deixar aquele espaço e fomos obrigados a procurar um novo recinto, continuando a afrontar obstáculos e rostos duros e fechados.
Finalmente, em 15 de Dezembro de 1926, pelo Decreto nº 12.823, o Governo fez constar:
“Considerando que ao Governo da República não pode ser alheio o interesse pela causa desportiva do país;
Considerando que o Clube de Futebol ‘Os Belenenses’ por várias vezes tem pedido a cedência de terrenos anexos ao Asilo Nun’Alvares para ali instalar o seu campo desportivo;
Considerando que em nada o referido asilo é prejudicado por tal cedência:
Em nome da Nação, o Governo da República Portuguesa, sob proposta do Ministro das Finanças, decreta para valer como lei o seguinte:
Artigo 1º: É cedida a título precário ao Clube de Futebol ‘Os Belenenses’, com sede na Rua Vieira Portuense, nº 48- 1º, em Belém, desta cidade de Lisboa, uma faixa de terrenos, constante da planta anexa ao processo arquivado na respectiva Repartição, para nela serem instalados a sede e o campo de desporto do referido clube.
Artigo 2º: Reverterá para a posse do referido Asilo a referida faixa de terreno, com todas as benfeitorias ali feitas, e sem indemnização, quando deixar de ser utilizada para o fim a que agora é destinada.
Artigo 3º: O Clube de Futebol “Os Belenenses” entregará ao Asilo Nun’Álvares a percentagem de 6 por cento sobre a receita bruta de todos os desafios de futebol ou festas desportivas, ali realizadas, bem como a receita líquida duma festa desportiva anual.
Artigo 4º: Fica revogada a legislação em contrário.”
Obviamente, os destaques são nossos. Destinam-se a que não se passe em claro realidades sem as quais é impossível fazer justiça ao Belenenses:
* Construiu-se todo o excelente património das Salésias à custa do esforço do clube e não de subsídios, subsídios e mais subsídios. Não recebemos de graça, como tantos outros…
* Durante anos a fio, o Belenenses contribuiu muito relevantemente para uma obra social.
* Enquanto outros clubes, designadamente os dois outros grandes de Lisboa, ao deixarem os seus campos, onde tinham feito obra muito inferior à realizada pelo Belenenses, receberam dinheiros públicos (em alguns casos, mais do que uma vez!), nós nada recebemos pelos terrenos das Salésias e, sobretudo, pelo que aí erguemos.
E no entanto, a obra que o Belenenses fez nas Salésias não tinha comparação com a de qualquer outro clube Português. Estava a “anos-luz” de distância. Era o melhor complexo desportivo do país! Foi o primeiro campo a ser arrelvado, o primeiro a ter uma bancada coberta, o primeiro a ter bancadas de cimento, o primeiro a ter um campo de treinos complementar… a que ainda acresciam pistas de atletismo / ciclismo, recinto para modalidades, um ginásio e instalações condignas. Por algum motivo, foi a casa da Selecção Nacional durante vários anos.
Depois dos anos de ouro em que foi 3 vezes campeão de Portugal, entre outras conquistas relevantes, o Belenenses viu alguns jogadores fundamentais terminarem a sua carreira. Mas não foi essa a única razão de relativo menor fulgor da parte final da década de 1930 (continuávamos a lutar por títulos mas não chegávamos ao objectivo final). Deveu-se, em muito, aos grandes investimentos feitos nas Salésias, no Estádio já então baptizado ”José Manuel Soares ‘Pepe’”, em homenagem ao nosso grande jogador precocemente falecido – com apenas 23 anos.
Mas com a década de 40, regressaram os títulos. A Taça de Portugal em 1941/2, os campeonatos de Lisboa de 142/43 e 1945/46 e, enfim, o Campeonato Nacional de 1945/1946.
Coincidência…ou talvez não, foi justamente poucos meses depois de conquistarmos o Campeonato Nacional, que o Belenenses foi intimado a deixar as Salésias, porque, afirmava a Câmara, aquele espaço ia ser incluído num plano de urbanização – o qual, 68 anos passados, nunca viu a luz do dia…
Sendo obrigado a deixar as Salésias, o Belenenses partiu, de mãos a abanar, para um novo e colossal esforço: a construção de um novo estádio e restantes instalações, agora na zona do Restelo.
Mas o que era então o Restelo, que alguns julgam e afirmam que era um local luxuoso (zona de embaixadas, por exemplo), como hoje? Vamos dar a palavra a quem viveu os factos. No caso, a Acácio Rosa. Descrevendo uma reunião na Câmara em 1949, em que esteve presente como dirigente do clube, escreveu ele: “Apontaram-nos em Belém uma mancha toda a negro na planta da cidade de Lisboa, uma pedreira a que a Câmara não sabia que destino dar”.
Assim, o Belenenses foi transformar a pedreira e o sítio desolado que era o Restelo; foi abrir caminho à sua evolução para o belo espaço urbanístico que é hoje, e de que beneficiam os que, não obstante, no seu autocentramento egoísta, não se importam de pôr o clube em cheque, impedindo o aproveitamento do espaço; foi permitir que terrenos nas zonas adjacentes fossem notados, fossem valorizados, fossem, enfim, constituir zonas consideradas privilegiadas, permitindo à Câmara realizar negócios extremamente lucrativos com a sua venda. É esta a verdade!
(E, já agora, até por comparação com outros recintos, o Belenenses construiu o seu estádio de acordo com elevados e magníficos padrões estéticos, inclusivamente no seu enquadramento, os quais lhe conferem uma beleza única – uma autêntica jóia! Em recentes melhoramentos, manteve os mesmos altos padrões. De modo que o Belenenses deveria ser um exemplo a apontar, em vez de um alvo a atingir. Sobretudo por aqueles que lhe devem o facto de existir a tal zona “de grande qualidade” – que, outrora, foi uma pedreira, uma mancha negra, algo a que não se sabia o que fazer!)
Mas, para esse esforço de construir o Restelo, mobilizou e exauriu o Belenenses todos os seus recursos, apesar da dedicação de tantos e tantos sócios. E isto, repetimos, depois de notificado para abandonar, de mãos vazias, tudo quanto de excelente e pioneiro já construíra nas Salésias, e sem apoios estatais ou autárquicos, como depois se generalizaria. E para que não pareça que estamos a inventar, cabe aqui citar palavras do Ministro das Obras Públicas, aquando da inauguração do Estádio do Restelo, em 1956: “Será oportuno lembrar que se trata, não da primeira mas, sim, da segunda grande realização do Belenenses em matéria de instalações desportivas. A primeira foi a do velho campo das Salésias (…) a sua construção fez furor na época e representou, sem dúvida, um enorme esforço, pois foi executada quando o Estado ainda não concedia os valiosos subsídios que mais tarde veio a atribuir a realizações dessa natureza”. Pois é! Quando lembramos as dádivas e mordomias recebidas por vários outros clubes (e cada vez mais), é difícil não ter um sentimento de revolta, porque não concorremos NUNCA em igualdade de circunstâncias!
Para poder construir a sua nova casa, partindo do zero, e num terreno cheio de dificuldades (foram tremendo os gastos de dinamitagem), o Belenenses teve que vender jogadores ou que deixar de adquirir alguns dos mais valiosos para reforçar a sua competitividade; e, repetidamente, durante anos, os seus sócios e adeptos fizeram contribuições sucessivas (em dinheiro ou em géneros) para juntar fundos – como veremos em outra ocasião. Enfim, depois de incontáveis lutas e canseiras, foi o Estádio do Restelo inaugurado em 23 de Setembro de 1956, na data do 37º aniversário do clube, como contaremos oportunamente.
No entanto, devido a todos os meios que mobilizara para construir sucessivas instalações, que além do mais, permitem anualmente a prática desportiva a milhares de jovens, ficou o Belenenses não só obstaculizado para competir de posse das mesmas armas com os seus rivais maiores, como progressivamente endividado, em especial para com a Câmara de Lisboa.
Não podendo usar os expedientes, pressões e regalias que actualmente se generalizaram, teve o Belenenses que acordar com a Câmara – que, entretanto, resolvera os problemas de outros clubes…–, o “resgate” do estádio, o que se formalizou nesta data. Ou seja, vítima de uma exigência quase sem paralelo no desporto português (ressalve-se um caso, também antigo de grave lesão do Salgueiros), ficou sem a propriedade do estádio que com tanto carinho e esforço construíra. Durante quase nove anos, de 1961 a 1970, tinha que pagar quantias astronómicas para o poder utilizar. Haviam, até, contadores a marcar…. E, cúmulo das humilhações e desventuras por que teve de passar, viu os seus troféus despejados, encaixotados na rua, tratados com desprezo como se fossem as armas de um vilão – e não os signos visíveis de um esforço e de uma dedicação dignos, honrados e gloriosos de gerações de belenenses! (Só recuperou algo do que perdera, com a concessão do direito de superfície, depois de uma campanha enorme, que só no Brasil, pela mão do grande belenenses que foi o recém-falecido Salustiniano Lopes, que aqui homenageamos, recolheu mais de 50 mil assinaturas).
Antes da assinatura do inevitável, houve Assembleia-Geral histórica na vida do Belenenses, efectuada em 12 de Junho deste mesmo ano de 1961, e que cabe aqui lembrar.
Eram horas dramáticas do clube, vividas com paixão e intensidade hoje inimagináveis.
Milhares de sócios acorreram à Casa da Beira, no que a imprensa classificou de “extraordinária manifestação de vitalidade de um grande clube”! E era!
Naquela data, a sala foi pequena para receber os milhares de sócios: apertaram-se até quase ao sufoco, lotaram as escadarias, inundaram a rua. A AG teve, por isso, que ser adiada, vindo a ter lugar no Pavilhão dos Desportos.
Acácio Rosa, como de costume era contundente e empolgante. Ele inflamou a assistência quando, levado em ombros até ao microfone (não havia espaço para passar), iniciou a sua intervenção com esta bela frase: “Nós formamos um clube modesto, nascido na praia, que 25 anos passados, éramos o clube mais progressivo de Portugal”. Uma trovoada de aplausos não o deixou concluir…
Outra intervenção empolgante – antes de adiada a AG – foi a de Manuel Ramos (outro grande “pastel”), que se deslocara propositadamente do Porto: “Eu confio nos destinos do clube, porque em Lisboa, no Porto onde vivo, em todo o território de Portugal, no continente ou no Ultramar, há corações como o meu”; “Um membro do Governo declarou, na inauguração do Estádio do Restelo, que o Belenenses merecia aquele estádio. Eu pergunto: então, agora, já não merece?”. E a sala trovejou de aplausos. Infelizmente, já nada havia a fazer…
Mas continuamos a coligir informação importante para se perceber aquilo que se passou na data hoje referida. No seu livro “Factos, Nomes e Números – História do Clube de Futebol Os Belenenses; 2º Volume: 1960 a 23 de Setembro de 1984”, escreveu Acácio Rosa, de modo bastante esclarecedor:
“1 – Em escrituras públicas celebradas entre a Câmara Municipal de Lisboa e o Clube de Futebol «Os Belenenses» (escrituras de 1952, 1956 e 1957) ficaram consignados os seguintes princípios fundamentais:
a ) concessão dada pela Câmara para a utilização dos terrenos a título precário, pelo prazo de 25 anos;
b ) regresso dos terrenos à plena posse da Câmara, no termo da concessão, com todas as construções, parques e jardins neles implantados sem direito, por parte do Clube, a qualquer indemnização:
c ) resgate, pela Câmara, da concessão, a todo o tempo, mediante indemnização ao Clube;
d ) pagamento pelo Clube à Câmara de uma renda mensal de 83.304$70 de Janeiro de 1958 a Dezembro desse ano e a partir de Janeiro de 1959 até 1979 de uma renda mensal de 149.874$70;
e ) pagamento da percentagem de 10 % pelo Clube à Câmara sobre todas as explorações não desportivas realizadas no Estádio;
f ) na falta de pagamento da renda, dentro dos prazos estabelecidos, (de 1 a 8 de cada mês), o direito da Câmara à posse plena do Estádio sem pagamento de qualquer indemnização ao Clube.
(…)
“Iniciado em 1958 o pagamento da renda à Câmara (nesse ano, 83 304$70 por mês, como já se referiu) verificou-se a impossibilidade de o Clube suportar tal encargo. Pagaram-se os primeiros quatro meses. E nada mais.
Daí ter a direcção presidida pelo Dr. Santos Pinto, depois de consciencioso e detalhado exame à situação do Clube, tomado a iniciativa de, em fins de 1958, propor à Câmara a suspensão das rendas ou o resgate do Estádio e o seu subsequente arrendamento. As direcções que se lhe seguiram chegaram à mesma conclusão e renovaram por isso junto da Câmara aquela proposta.
Entretanto, o Clube caminhava a passos agigantados para a agonia, esmagado com as dívidas, juros (muitas centenas de contos por ano), reformas de letras, etc., etc. Tudo se desarticulava. Na própria actividade desportiva se reflectiam em grande os efeitos da crise financeira. As portas mantinham-se abertas ao sacrifício de cinco ou seis dezenas de dedicados consócios que assumiram perante os bancos responsabilidades da ordem dos oito mil contos, comprometendo, muitos deles, tudo quanto tinham e até o que não tinham, além dos embaraços que esses compromissos acarretavam às suas próprias actividades profissionais. Não havia, assim, alternativa.
A dificuldade estava, no entanto, em convencer a Câmara de que só o resgate do Estádio e o seu arrendamento posterior ao Clube o podia salvar do desastre.
Disposta a Câmara a encarar o resgate, comunicou por intermédio do seu presidente ao Clube, em 8 de Fevereiro, essa sua disposição, acentuando logo que o Estádio ficaria em puro regime municipal e indicando a seguinte condição basilar: pagar o Clube, antes do resgate, todas as rendas em dívida, acrescidas dos respectivos juros de mora.
Esta condição impunha ao Clube a grave dificuldade de arranjar mais de 5 mil contos (nessa altura) para liquidar, antes do resgate, o que devia ao município. A indemnização nesse momento proposta pela Câmara deixava, apenas, o saldo líquido de cinco mil e quinhentos contos, já que à própria indemnização tinha de se ir buscar o que se pedisse emprestado para pagar, antecipadamente, as rendas.
As condições postas eram severíssimas. Não quis por isso a direcção prosseguir nas negociações sem ouvir o Conselho Geral, no qual têm assento muitos dos belenenses que mais ajudaram a enraizar e engrandecer o Clube. Por unanimidade e em votação nominal deu aquele alto órgão em reunião de 16 de Fevereiro parecer no sentido de não haver outra saída para as nossas dificuldades, concedendo todo o apoio à direcção e aconselhando-a a prosseguir nas negociações.
Em 29 de Junho de 1961, em sessão pública deliberou a Câmara resgatar o Estádio. Na tarde desse mesmo dia foi celebrada a respectiva escritura.
Foi com profundo desgosto, com a alma enlutada, que se assinou a escritura do resgate, sem a garantia do arrendamento, mesmo parcial, do belo estádio que nas suas entranhas guarda o suor honrado de milhares de Belenenses. Nesse acto não foi preferida uma só palavra!…”
(…)
A Direcção e os demais corpos gerentes, bem como outros prezados e distintos consócios, tudo fizeram, absolutamente tudo, para obterem da Câmara o arrendamento do Estádio.
Recordaram-se-lhe as condições em que abandonámos as Salésias – ainda hoje campo bastante para as nossas necessidades; alegou-se que o Restelo foi produto de esforços indescritíveis e de sacrifícios sobre-humanos de milhares de belenenses ricos, pobres e remediados; que a implementação do Estádio naquele local contribuiu decisivamente para a urbanização e valorização daquela zona da cidade; que o Belenenses é instituição reconhecida pelo Governo de utilidade pública, em atenção aos relevantes serviços prestados ao País; que o Belenenses sofreria rude golpe nos seus pergaminhos se não ficasse arrendatário do Estádio.
Tudo isso e muito mais se disse, se expôs, se recomendou e nos pareceu mais do que bastante a justificar o arrendamento.
A Câmara, no entanto, foi sempre dizendo não poder conceber o resgate sem pôr o Estádio em regime de pura municipalização. Em face disto, limitá-mo-nos depois a pedir para que só a parte arrelvada, com as suas bancadas e anexos fosse objecto de arrendamento, ficando então em regime municipal todos os demais campos e rings.
Esta proposta não obteve, igualmente, aprovação.
Por fim já só se pediu que ao menos fosse arrendado a sala das Taças e as suas dependências onde funcionam os depósitos de material, o posto médico e rouparia. Pediu-se isto por todas as vias, mas também não fomos atendidos. Mais: a Câmara fez questão de as Taças serem retiradas do Estádio e subordinou o deferimento desse requerimento à condição de tudo o que era do Clube, incluindo as Taças, ser retirado previamente do Estádio”.
No relatório da Direcção de 1961, consumada a perda, escreviam-se estas belas palavras: “Pagaram-se honrosamente as dívidas, pela 2ª vez nos levaram as nossas instalações, conseguidas com muito suor e os sacrifícios de muitos anos de toda a família belenenses”.
E, assim, entrámos no calvário da década de 60. Enquanto outros clubes aproveitavam as competições europeias para dar um passo em frente, o Belenenses, em comparação, viu a sua força reduzida, abrindo-se um fosso, embora bem menor que o actual. Começava a luta pela sobrevivência… São mais de 50 anos a resistir e a iludir aqueles que, tantas vezes desde então, nos deram como mortos e acabados.
Reduziu-se, sim, a capacidade relativa do Belenenses. Mas a honra, essa, não a tínhamos perdido; a noção da grandeza do clube, essa, não se havia esfumado. No acto de assinatura do resgate, os nossos dirigentes, repete-se, não proferiram uma só palavra! E Acácio Rosa, na época, sintetizava tudo, nestas palavras em entrevista ao jornal “A Bola”: “Que se divirtam muito! Que lhes faça muito bom proveito, senhores vereadores [da CML], são os votos do imortal Clube de Futebol os Belenenses”. “Sim, o clube fez uma cessão de direitos à Câmara, mas não negociou a honra nem a dignidade”.
JMA