No fim dos anos quarenta e na década de cinquenta, antes de se iniciarem as competições europeias de clubes, a Taça Latina, em que participavam representantes de Portugal, Espanha, França e Itália, gozou de grande popularidade.

Ao longo dos anos em que se realizou, Benfica, Sporting e, neste ano de 1955, o Belenenses, foram os representantes de Portugal.

A tarefa com que a nossa equipa se iria deparar, não era nada fácil. Bastava ver os nomes dos adversários: o Real Madrid, o Milan e o Stade de Reims. Os dois primeiros nomes dispensam apresentações. Quanto ao clube francês, foi finalista da 1ª edição da Taça dos Campeões, em 1956 (meses depois, perderia no Restelo por 2-0…), o que repetiria 2 anos depois. Acrescia a isto o estado moral da nossa equipa, certamente ainda afectada pela perda do Campeonato desse ano, a 4 minutos do fim.

No primeira jogo, disputado nesta data em Paris, o Belenenses defrontou-se com o Real Madrid. Era o sexto encontro entre as duas equipas, que tiveram tão fortes ligações. Apesar de só um dos cinco encontros anteriores se ter disputado em Portugal, tendo os outros tido lugar em Espanha, havia uma igualdade entre as duas formações, com duas vitórias para cada uma (e, claro, um empate).

Infelizmente, neste jogo, o Real Madrid passou-nos para a frente, ganhando por 2-0, com golos marcados aos 14 e 60 minutos.

No entanto, o Belenenses fez um excelente jogo: atacou mais do que o seu adversário, chegou em vários períodos a ter 10 jogadores (!!!) no meio campo madrileno e dispôs de várias oportunidades para marcar, inclusive antes dos espanhóis. Di Pace e Dimas atiraram mesmo, cada um deles, uma bola ao poste; e, noutra jogada, a bola andou a saltitar em frente do risco de baliza…

Matateu pôs a cabeça em água aos defensores do Real Madrid, acabando por ser vitoriado pelo público. O Belenenses poi derrotado mas Matateu triunfou em Paris. É pena que o árbitro não tenha estado à altura: deixou passar muitas faltas em claro; e não puniu disciplinarmente a dureza dos espanhóis. Esta chegou ao ponto de Matateu ter que sair a sangrar abundantemente de campo, levado em braços, depois de sofrer uma entrada brutalíssimas. Só vários minutos depois pôde reentrar em campo.

Registemos a constituição da nossa equipa: José Pereira; Pires e Serafim; Carlos Silva, Figueiredo e Vicente; Dimas, Di Pace, Perez, Matateu e Tito.

No dia seguinte, o Belenenses disputou 3º lugar da competição com o também poderoso Milão.

Em termos de posse de bola e de domínio territorial, o Belenenses jogou melhor. A iniciativa foi quase sempre da nossa equipa. Para o efeito, reconheça-se, terá contribuído o facto de, igualmente na véspera, O Milão ter sido forçado a um prolongamento, o que o levou a abdicar de 5 ou 6 dos seus titulares (nós alinhámos com o mesmo Onze do dia anterior, opção decerto discutível; também nós entrámos, pois, debilitados, embora por outra razão). Acrescia ainda a simpatia do público parisiense, conquistada no jogo com o Real Madrid. A exibição do Belenenses e, sobretudo, de Matateu, a dureza dos espanhóis e a má arbitragem que nos desfavoreceu, a tal conduzira. Mas, para a história, fica sobretudo o resultado, e esse foi-nos desfavorável, desta vez por 3-1.

Não foi um grande jogo, naturalmente, devido à sobrecarga de 2 jogos em dias seguidos. De qualquer forma, foi pena as inúmeras oportunidades desperdiçadas pela nossa equipa, bem como um golo mal anulado, que, na altura, deixaria o jogo empatado 1-1. Segundo o jornal “A Bola”, o melhor jogador azul foi Vicente. Quanto a Matateu, jogou bastante combalido pela dureza de que foi vítima na véspera. Não obstante, o seu génio deixou um lastro de fama e, além disso, recebeu um enorme elogio de um grande senhor do futebol mundial, Helénio Herrera – esse mesmo, que dois anos depois viria treinar o Belenenses.

O Milão aos 16m, fez 1-0. Dez minutos depois, houve o tal golo mal anulado ao Belenenses. Aos 75m, os italianos aumentaram para 2-0. Aos 77m, por intermédio de Matateu, que acorreu a uma bola atirada ao poste por Dimas, o Belenenses reduziu para 2-1. Renascia a esperança. No entanto, aos 83 minutos, a partida ficou sentenciada, com o Milão a marcar com remate de longe, beneficiando de José Pereira se ter encadeado com a iluminação artificial, coisa a que não se estava habituado em Portugal.

JMA