Entre 2007 e 2011, o Belenenses teve equipas fortíssimas em Futsal, que se elevaram a plano de grande destaque. Tal incluiu, nessas quatro épocas, a liderança do Campeonato Nacional durante várias dezenas de jornadas (mais jornadas do que qualquer outro clube); a presença em duas finalíssimas, do mesmo Campeonato Nacional, discutindo o título até ao último segundo do jogo derradeiro; a ida a três finais da Taça de Portugal (e mais a uma Final Four); a disputa de duas Supertaças.

Tudo isso constituiu motivo de orgulho para os adeptos azuis e representou grande relevo mediático para o clube. Apesar disso, em vários casos, ficou a frustração de não se terem conquistado provas para que evidenciámos merecimento, o que se deveu a vários motivos: infelicidade pura, arbitragens e decisões disciplinares muito desfavoráveis e discutíveis, mérito de adversários…um pouco de tudo. “Tanta foi a vontade e a tormenta!” – e, sem dúvida, justificava-se um pouco mais de estrelinha. Só neste dia, enfim, tudo foi perfeito.

E, no entanto, parecia que novamente uma espécie de fatalismo se abatia sobre o Belenenses. Na semana anterior, a um minuto do fim da última jornada da 1ª Fase do Campeonato Nacional, a nossa equipa tinha perdido o 1º lugar, que detivera durante quase toda a prova. Foi em Pombal, frente ao Instituto D. João V. Ninguém podia negar o brilhantismo de uma carreira em que o nosso conjunto registou 20 vitórias, 5 empates e apenas 1 derrota; mas tratou-se de um golpe duro, ao deixarmos essa posição privilegiada para, na 2ª fase, atacarmos o título que novamente perseguíamos.

A meio da semana, muitos adeptos azuis voltaram a comparecer num treino, interrompendo-o para aplaudir e incentivar o grupo de trabalho e para mostrar que nele continuavam a confiar. Foi mais um momento de grande comoção de todas as partes.

A final desta Taça de Portugal teve lugar no Entroncamento, sendo o Benfica o nosso adversário. Ali estiveram presentes largas centenas de adeptos do Belenenses, em ambiente de grande intensidade clubística. A dádiva de um sócio permitiu distribuir figuras de grande porte com a imagem dos “conquistadores” – os jogadores que vestiam a nossa camisola –, dando mais força à nossa bancada.

O jogo foi equilibrado e intenso, como todos os confrontos entre os dois emblemas nesta fase. Foi, entretanto, o Benfica o primeiro a marcar, chegando ao intervalo a ganhar por 1-0. Sentíamos apreensão e nervosismo naturais.

O recomeço trouxe um Belenenses cada vez mais pressionante, criando oportunidades que faziam adivinhar um golo que, porém, nos ia fugindo desesperantemente. Até que, a meio deste tempo, surgiu enfim o golo do empate, prémio já mais que justificado.

A explosão de Azul no pavilhão foi imensa, e os adeptos galvanizaram-se no apoio à equipa, que, por sua vez, olhou bem de frente para a vitória. Seria desta?

O tempo parecia “correr” para o final dos 40 minutos, a que, em caso de empate, se seguiria um prolongamento. Os nervos estavam em franja… E veio o momento mágico! A equipa do Belenenses recupera uma bola, sai em contra-ataque, há dois, três toques, pode ser golo… e é mesmo!!!

Foi o delírio no pavilhão, entre jogadores, técnicos, responsáveis e público azul! Todos nos precipitámos numa massa de abraços e saltos de alegria! Indescritível! Faltavam cinco segundos para o final – o triunfo não nos podia escapar!

Escoaram-se esses segundos restantes, e veio a festa definitiva. Vencêramos por 2-1 e o troféu era nosso. O treinador Alípio Matos, comovidíssimo, teve um gesto inesquecível, que disse tudo, levando a mão ao coração e dedicando a vitória aos adeptos. O Nuno Lopes, o Luís Silva e outros trabalhadores incansáveis do Futsal viviam a alegria e a comoção de um triunfo tão gostoso e merecido. Os adeptos, enlouquecidos de felicidade, cantavam a plenos pulmões “Belém! Belém! Belém!” e “A Taça é nossa!” (entre outros clamores).

A frase com que um texto de há muitas décadas atrás comentava o gesto de Eduardo Azevedo (Pai de Humberto Azevedo, o nosso sócio nº 1) a lançar um pombo que levava notícias do-Belém-para-Belém, teve neste dia pleno cabimento: “Quando Belém acaba um jogo, há sempre lágrimas”. E houve tantas, e de tanto júbilo, nesse final de tarde!

A festa continuou nos autocarros e viaturas de adeptos azuis e teve novo apogeu no Restelo, à chegada da equipa. Junto ao monumento do Pepe e, depois, no Pavilhão Acácio Rosa, atingiram-se novos picos de sentimento azul de Belém. A taça erguida no ar, primeiro pelo capitão Jardel, depois passada de mão em mão, os cânticos, as bandeiras e os cachecóis, o mar de gente, as fotos sem fim revigoraram a alma belenense, num tempo de grande tristeza no futebol. Foi uma noite longa, intensa e inolvidável!

JMA