O Belenenses tem um historial relativamente longo de confrontos com o Barcelona e, embora o saldo seja favorável ao potentado catalão, a verdade é que sempre ou quase sempre (com uma única excepção) lhes fizemos frente com muita dignidade e com muito valor. O saldo global de 2 vitórias, 3 empates e 5 derrotas é indiscutivelmente honroso.

Lembremos que, por caprichos da sorte – ou, antes, do azar, que sempre nos assistiu nos sorteios das provas europeias – encontrámos por 3 vezes aquele clube espanhol na Taça Uefa (e sua antecessora Taça das Cidades com Feira): 1962/63, 1976/77 e 1987/88. Da primeira vez, empatámos os dois jogos e só cedemos, por um golo, no jogo de desempate realizado em Barcelona (opção que aceitámos por causa da situação financeira que vivíamos com o problema do estádio); da segunda vez, consentimos o empate, no Restelo, a quatro minutos do fim e sofremos o golo da derrota tangencial, em Barcelona, também ao terminar do jogo; na terceira vez, perdemos 2-0 na Catalunha, com golos nos descontos, e ganhámos 1-0 em nossa Casa. Em resumo: caímos sempre mas sempre o fizemos de pé, discutindo a eliminatória, palmo a palmo, até ao último segundo.

De qualquer forma, a primeira ocasião em que defrontámos o Barcelona foi em 7 de Maio de 1958, no Restelo. E começámos auspiciosamente o historial dos confrontos com a poderosa equipa espanhola, ganhando-lhe por 2-1.

Nessa noite extraordinária, no nosso belo estádio, o Belenenses alinhou com: José Pereira; Pires, Raul Figueiredo e Mário Paz; Moreira e Vicente; Milton (depois Miguel Norte), Matateu, Carlos Silva (depois, Bezerra), Yaúca e Tito.

Com uma defesa seguríssima e investidas atacantes rápidas e incisivas, o Belenense chegou ao triunfo com golos de Carlos Silva e Matateu. Moreira, Paz, Vicente e Yaúca, além dos autores dos golos, brilharam a grande altura – segundo testemunham os relatos da época.

Exactamente 4 meses mais tarde, o Belenenses devolveu a visita, indo jogar a Barcelona. Perdeu pelo mesmo resultado com que ganhara em Lisboa: 2-1. Mas esteve a ganhar por 1-0 (resultado ao intervalo) e até o jornal catalão “La Prensa” reconheceu que o Belenenses “é uma excelente equipa, que superou o Barcelona em jogo global e revelou grande classe”.

Já escrevemos antes, mas vamos repetir: tivessem as provas europeias começado mais cedo uns escassos anos que fosse, e o Belenenses poderia dispor nelas de um palmarés invejável. E isso teria trazido mais receitas, adeptos, sócios e projecção, que facilitariam o enfrentar das tremendas crises que temos vivido desde 1961.

Note-se que aquele Barcelona, a quem o Belenenses venceu brilhantemente, ganhou, nesse mesmo ano, a 1ª edição da antecessora da Taça Uefa (a Taça das Cidades com Feira), triunfo que repetiu na edição seguinte. Foi Campeão de Espanha em 58/59 e em 59/60. Não era, pois, uma equipa em crise: era um grande Barcelona, como o é hoje em dia.

Quanto ao palmarés global do Barcelona, refira-se que, em Espanha, foi 22 vezes Campeão (e 23 vezes Vice-Campeão), ganhou 26 Taças do Rei, 2 Taças da Liga e 11 Supertaças; a nível internacional, venceu 4 Ligas/Taças dos Campeões Europeus (sendo 3 vezes finalista vencido), 4 Taças das Taças (sendo 2 vezes finalista vencido), 3 Taças Uefa/das Cidades com Feira (sendo uma vez finalista vencido), 4 Supertaças (perdendo uma) – ou seja, esteve presente em 22 finais europeias, das quais venceu 15! –, 2 Campeonatos do Mundo de Clubes e, ainda, 2 Taças Latinas.

Mas, em 1958, o Belenenses foi mais forte que o Barcelona!

JMA