Carlos Silva, que nos deixou há poucos anos, foi um exemplo de uma vida consagrada ao Belenenses.
Em miúdo costumava dizer aos amigos, dando expressão ao seu maior sonho que, um dia, os jornais ainda haviam de trazer com todas as letras “Carlos Silva, jogador do Belenenses”. Não se enganou. Às Salésias chegou com 17 anos, referenciado como jogador de andebol de onze, vindo do Benfica, clube que representara levado pelo seu professor de Educação Física no Liceu Gil Vicente. Mas os olhos de lince de Augusto Silva e Rodolfo Faroleiro (treinador vencedor da Taça de Portugal de 1942), duas velhas glórias azuis, conduziram-no à equipa de futebol. No Belenenses, foi Campeão de Lisboa de Juniores em 1952/53 (na finalíssima, o Belenenses venceu o Atlético por 3-0). Na mesma época, o Belenenses foi Vice-Campeão Nacional, perdendo a final com o F.C.Porto, por 2-0.
Subiu na época seguinte ao escalão sénior, embora nunca tenha chegado a ser utilizado no Campeonato Nacional.
Em 1954/55, sim, começou a ser presença mais regular na equipa principal. Jogava tanto a médio como a defesa.
Foi Vice-Campeão Nacional, tendo sido um dos que viveu a dramática tarde de 24 de Abril de 1955. Esteve presente na Taça Latina, em que defrontámos o Real Madrid e o Milão.
Durante a sua carreira, averbou ainda mais quatro 3ºs lugares (55/56, 56/57, 58/59 e 59/60), um 4º lugar (57/58) e um 5º lugar (60/61) em Campeonatos Nacionais. Conquistou a Taça de Portugal de 1960 (embora não tenha alinhado na final) e as Taças de Honra de 1959 e 1960. Esteve no Belenenses até ao fim da época de 60/61. Depois ainda jogou na CUF e no Sintrense.
Não era um virtuoso mas impunha-se pela sua natureza lutadora. Era de uma coragem ilimitada a disputar qualquer lance. Tinha uma enorme amizade pelo grande Vicente: quando alguém tocava no famoso companheiro (de inexcedível correcção), perdia a cabeça, fazia questão de assumir o assunto como seu e tudo podia acontecer em seguida…
Desempenhou várias outras funções no Belenenses. Por exemplo, foi treinador dos juniores e, mais tarde, na época de 76/77, treinador da equipa principal. No Campeonato, as coisas não correram bem, ficando o Belenenses num decepcionante 10º lugar (em parte, fruto da sangria que a equipa, 3ª classificada no ano anterior, sofreu no defeso e também, recordamo-nos perfeitamente, de arbitragens deploráveis). Lembramo-nos de, no final de um jogo em que, nessa época, vencemos o F.C.Porto, no Restelo, por 2-0, Carlos Silva chorar de comoção e alegria. Na Taça Uefa, nessa mesma época, a nossa participação foi muitíssimo digna. Defrontámos o Barcelona, dos grandes Cruyff e Neeskens, empatando 2-2 no Restelo e perdendo 3-2 em Espanha. Em ambos os encontros fomos azarados, sofrendo golos a terminar o jogo.
Mais tarde, em 1986 e 1987, Carlos Silva chefiou o Departamento de Futebol. Depois, na época de 90/91, esteve ligado ao Juventude de Belém. Em 1997, assumiu o cargo de director desportivo e coordenador do futebol jovem.
Durante toda a sua vida, foi presença assídua em jogos no Restelo e em Assembleias-Gerais.
Entretanto, a sua actuação fora do Belenenses revestiu-se igualmente de grande prestígio, quer pelas funções que desempenhou no Sindicato dos Treinadores de Futebol (note-se que, além do Belenenses, treinou clubes como o Atlético, o Olhanense, o Farense, o Barreirense, a CUF ou Nacional da Madeira), quer pelas importantes funções na estrutura de apoio à Selecção Nacional.
JMA