Miguel Andrés di Pace nasceu na Argentina, na capital Buenos Aires, em 1926.
De família abastada, foi rodeado de uma educação esmerada. Em Di Pace, todavia, essa cultura não foi um polimento de verniz: foi um Senhor, no melhor e verdadeiro sentido da palavra.
Aos dez anos, apaixonou-se pelo Futebol e passou a ter como objectivo tornar-se naquilo que viria a ser: um grande, um enorme jogador.
Aos 15 anos, chegou ao prestigioso Racing de Buenos Aires. Permaneceu ali seis anos, subindo as diversas categorias até se impor na equipa principal.
Em 1948, transferiu-se para outro grande clube argentino – e de Buenos Aires -, o Huracán, onde continuou a brilhar. O seu prestígio ultrapassou fronteiras e, em 1951, transferiu-se para o Universidade do Chile.
O seu grande compatriota Alejandro Scopelli, outra figura imensa do Belenenses, estava então em Barcelona, a treinar o Espanhol, mantendo frequente correspondência com um conhecido adepto nosso de então, Calisto Gomes. Este procurava um bom jogador e Scopelli, sabendo da disponibilidade de Miguel Di Pace, indicou-o para representar o Belenenses. Chegou a Lisboa em 5 de Abril de 1953. O Belenenses tinha acabado de ficar em 3º lugar no Campeonato Nacional.
A estreia, ocorrida em 10 de Maio seguinte, não foi auspiciosa: o Belenenses perdeu com o Barreirense para a Taça de Portugal e Di Pace não deixou grande impressão.
A verdade, porém, é que, nas épocas seguintes, Di Pace impôs-se em Portugal como um dos jogadores de maior classe que já pisou os nossos rectângulos de jogo. De fina técnica, magistral a guardar a bola ou a colocar colegas de equipa em situação de marcar, foi considerado – e chamado – “o rei dos dribles”.
Permaneceu no Belenenses desde o fim dessa época de 52/53 até 57/58, como jogador e, inclusive, na última época a coadjuvar Fernando Vaz a treinar a nossa equipa. Foi alvo de uma festa de homenagem em 1 de Setembro de 1958.
Regressou depois à Argentina mas nunca esqueceu nem deixou de amar o Belenenses. Voltou a Portugal e à nossa casa pelo menos duas vezes, em 1984 e em 2004. Foi recebido como merece um dos grandes emblemas do nosso clube.
Durante os anos que representou o Belenenses, Miguel obteve um 2º lugar, dois 3ºs lugares e dois 4ºs lugares.
Como toda uma outra geração de grandes jogadores do Belenenses – Matateu, Vicente, José Pereira, Dimas, Castela, Perez, Carlos Silva, Pires, para já não falar de Serafim (que fora campeão em 46)… – Di Pace tinha um (des)encontro marcado com o destino no dia 24 de Abril de 1955. Era esse o dia em que o Belenenses estava para voltar a ser Campeão Nacional e viu o título escapar-se-lhe a quatro minutos do fim. Di Pace chorou com Belém inteiro…
De resto, parecia ser estigma do grande Miguel. Já nos outros clubes onde jogou, os 2ºs e 3ºs lugares, com o título a escapar-se, foram uma constante.
Seja como for, para nós, belenenses, Miguel Di Pace será sempre um grande campeão
JMA