Neste dia (mais propriamente nesta noite), ao vencer o Sp. Braga por 2-1, no Restelo, a equipa do Belenenses proporcionava aos seus adeptos uma grande alegria: dezoito anos depois, conquistávamos o direito de voltar ao Jamor, para a final da Taça de Portugal!
Vale a pena relembrar os antecedentes desta noite inesquecível. O último jogo da época anterior desaguara num mar de lágrimas. Veio depois o longo “caso Mateus”, com todas as suas incertezas e reviravoltas, que levou inclusivamente ao adiamento do início do Campeonato. No primeiro terço desta competição, o Belenenses foi irregular. Mas, a partir de certa altura, uma série de muito bons resultados colocaram-nos numa rota agradável. Fomos subindo até ao 4º lugar, de que só descaímos (uma posição) na última jornada.
Na edição da Taça de Portugal, desde cedo muitos de nós “pressentimos” que o Belenenses podia fazer algo de bom. E assim foi. O percurso foi curioso: favorável, por um lado, porque até aos quartos-de-final, inclusive, jogámos sempre contra equipas de escalões secundários; difícil, em contrapartida, por jogarmos sempre fora. Começámos por ganhar 4-2 em Paredes (após prolongamento); triunfámos 4-1 em Gondomar; vencemos 1-0 em Odivelas; enfim, impusemo-nos em Bragança por 2-1 (também após prolongamento).
Estava-se agora na meia-final. O Belenenses vinha somando vitórias atrás de vitórias nas últimas semanas, apresentando-se em excelente forma e com elevados índices de confiança, mas nem por isso a tarefa se adivinhava fácil, dada o recheado plantel e a excelente equipa do adversário que defrontávamos. Assim foi: tratou-se de um jogo muitíssimo intenso e de grande dificuldade.
Havia uma grande expectativa no ar. Não obstante a assistência ter deixado um pouco a desejar – cerca de 9.000 pessoas, das quais umas 1.800 afectas aos bracarenses –, o ambiente foi vibrante nas bancadas durante toda a partida.
Dificilmente o jogo podia ter começado melhor para o Belenenses, pois logo aos 5 minutos, Dady, num excelente chapéu ao guarda-redes adversário, colocou-nos em vantagem. O Restelo explodiu de alegria!
No entanto, a reacção do Sp. Braga pouco se fez esperar e foi fortíssima. A nossa equipa estava montada de modo muito ofensivo e, em contrapartida, com pouca capacidade de recuperação de bola. Jorge Jesus, ao tempo nosso treinador, terá possivelmente hesitado se devia reforçar o meio campo com tanto tempo ainda para o jogar. Não o fez… e a verdade é que, no fim, acabou bem (para as nossas cores). Em todo o caso, já depois de ter visto (bem!) dois golos não validados por fora de jogo, o adversário chegou ao empate, aos 35 minutos. Sentiu-se então alguma angústia e bastante preocupação. A verdade, porém, é que após o empate, e até ao intervalo, a partida entrou numa toada de equilíbrio.
Foi assim também que se iniciou o segundo tempo; mas, a pouco e pouco, o Belenenses foi adquirindo o domínio do jogo, procurando mais insistentemente o golo. Apesar disso, até aos 90 minutos, o resultado não se alterou, embora tivesse sido (e bem) considerado ilegal um golo do Belenenses e ficado uma grande penalidade a nosso favor por assinalar.
No prolongamento, a nossa equipa pressionou mais e mais. A certa altura, o adversário ficou reduzido a dez jogadores. Foi então uma corrida contra o tempo para evitar o desempate por grandes penalidades e resolver o jogo dentro dos 120 minutos.
A menos de dez minutos do fim, veio o momento culminante: há mão (braço…) de um defensor bracarense na sua grande área, sendo assinalado o consequente penalty.
O estádio está todo de pé, é um momentum, um instante que vale 18 anos. Zé Pedro olha o guarda-redes e tem a superioridade nos olhos. Parte para a bola, remata, está lá dentro!
Foi a loucura total! Homens, mulheres, velhos, jovens, todos exultam e grande parte tem lágrimas nos olhos. É um abraço colectivo. O grito “Belém! Belém! Belém!” ressoa no estádio, impetuoso e rejubilante. E já não se canta “até ao Jamor” mas “estamos no Jamor”! Até a bancada superior dos sócios está toda de pé. É um mar de cachecóis azuis a agitar-se. Acaba. É a festa, linda, saída bem de dentro. Toca o hino, como nas grandes vitórias. Há alegria em cada rosto. Cá fora, abraços e mais abraços. Fora do estádio há um concerto de buzinas que depois, foram por Lisboa fora, pela Marginal, atravessando o Tejo, pela noite fora…
JMA