Nesta data, ao final de um jogo emocionante e extraordinário, o Belenenses assegurou pela sétima vez a sua presença na Taça de Portugal, que, mês e meio depois, ganharia pela terceira vez.
A Nossa equipa, que tinha iniciado a época de forma magnífica, liderando o Campeonato nas cinco primeiras jornadas e eliminando da Taça UEFA o seu detentor (Bayer Leverkusen), teve depois um abaixamento de forma, que levou ao afastamento do treinador John Mortimore (que tinha sonado com o título). Com o regresso de Marinho Peres (que no ano anterior nos conduzira ao terceiro lugar), a nossa equipa voltou a subir de forma e acabou a temporada de forma notável.
Na Taça de Portugal, elimináramos o Sintrense por 3-0 (Fora), o Estrela de Portalegre (Casa) por 7-2 e o Sp. Covilhã (Casa) também por 3-0, ainda com John Mortimore a treinador. Depois, já com Marinho Peres, nos oitavos de final, vencemos o F.C.Porto, no Restelo, por 1-0, com um golo de canto directo, apontado por Mladenov, já no prolongamento. Com alguma displicência e sorte, ultrapassámos o Sp. Espinho por 2-1, também no Restelo, nos quartos de final. O sorteio ditou um Belenenses-Sporting e um Benfica-Braga para as meias-finais.
Estiveram mais de 30.000 pessoas no Restelo, numa tarde de quarta-feira, com grande presença de adeptos sportinguistas.
Num primeiro tempo equilibrado, intenso e quezilento (com um jogo muito disputado mas sem grande beleza futebolística), o Sporting foi mais objectivo e, mesmo em cima do intervalo, aos 42 minutos, pôs-se em vantagem! Foi uma autêntica facada no peito para os adeptos do Belenenses!
E que eternidade pareceu o intervalo que se seguiu! Parece, contudo, que foi fundamental para o Belenenses: os nossos jogadores vieram a declarar que o treinador os incentivou dizendo que estavam a jogar bem e, num golpe de mestre em termos psicológicos, disse-lhes que só precisavam de fazer dois golos – pois não queria levar a decisão para Alvalade (o que aconteceria em caso de empate)!
Na segunda parte, embora pressionando o rival, o Belenenses conseguiu assentar jogo durante uns minutos; mas, depois, foram vagas sucessivas de assalto à baliza do Sporting, numa cavalgada portentosa e empolgante.
O querer e a garra da nossa equipa foram verdadeiramente impressionantes e exemplares. Sentía-se o golo eminente e, por volta dos 20 minutos, acabou em frustração a nossa explosão de alegria, quando foi anulado o golo do empate, num cabeceamento de Baidek.
Mas não haveria que esperar muito (embora o tempo já parecesse voar e fugir). O domínio era agora do Belém, dentro do campo e no clamor que vinha das bancadas. A bola tinha que entrar! Tinha que entrar!!!
E entrou mesmo, aos 24 minutos, outra vez desviada pela cabeça de Baidek, que se elevou pujante e, correspondendo a um canto apontado, do lado direito, por Mladenov, restabeleceu o empate!
Foi o alívio e a galvanização para os azuis – equipa e adeptos – que continuaram o seu assalto à baliza do Sporting. Quatro minutos depois, Mladenov, agora na esquerda, marcou um livre e surgiu uma cabeçada magnífica do angolano Saavedra, à altura do estômago, fazendo a bolar descrever um arco magnífico! Um grande golo, os belenenses em delírio, o sofrimento volvido em alegria! “Está ao nosso alcance! Não vamos deixar escapar!”…
A equipa do Sporting reagiu mas algo desconexamente, sentindo-se perdido. O jogo era nosso. A sete minutos do fim, foi colocada a cereja no cimo do bolo: Saavedra lançou Mladenov, este foi mais rápido do que Venâncio (defesa verde-branco), ficou só com o guarda-redes leonino e, quando este saiu fora da área, picou-lhe a bola por cima, a uns 25 metros da baliza: era o 3-1! E era a vitória certa! Era a euforia, o regresso ao Jamor, a Cruz de Cristo novamente forte e altaneira, o triunfo sobre rivais históricos, o cheiro de vitória, Belém de novo a chegar-se ao topo!
A equipa do Belenenses, nessa tarde memorável, foi esta:
Jorge Martins; Teixeira, Baidek, Sobrinho e Zé Mário; Juanico e Carlos Ribeiro (ao intervalo, Saavedra); Chiquinho, Macaé e Mladenov; Chico Faria (aos 88m, José António).
Entretanto, o Benfica, já campeão, venceu o Braga, pelo que garantimos nesse dia a participação na Taça das Taças da época seguinte.
Foi a nossa estreia nessa prova que – mais outra ironia! – se tinha iniciado justamente em 1961, ou seja, no ano a seguir à nossa vitória na Taça de Portugal de 1960.
Na edição de 16 de Abril de 1989 do Século Desportivo, com o título “Belém, à Conquista da Taça 29 Anos Depois”, podia ler-se: “Na memória de todos, uma segunda parte de grande nível – feita de arreganho e vontade de vencer – que permitiu aos ‘azuis de Belém’ passarem de vencidos a vencedores folgados (…) ‘Belém! Belém! Belém!’ – um urro uníssono, impressionante de pujança e vitalidade, ecoou pelo estádio inteiro assim que Vítor Coreia deu o encontro por terminado. O ‘velhinho’ e prestigiado Belenenses tinha acabado de ‘salvar’ a época. Uma festa”.
No entanto, a festa maior ainda estava para vir: a do jogo final!