Caros Belenenses,

Neste dia de Natal, gostava de agradecer o apoio que sentimos durante todo o ano, tanto nos momentos fantásticos que vivemos como nos mais difíceis – até dramáticos.

Tivemos um início de primeira liga difícil, o que já tinha antecipado no dia em que subimos de divisão, embora todos tenhamos a certeza que vamos fazer melhor.

Tomámos duas decisões que, neste momento, muitos podem dizer que nos estão a penalizar muito.

A primeira foi assumir o risco de ter como base do plantel quem participou na brilhante temporada passada. Não por agradecimento. Se fosse o caso, Nelson, Desmarets, Ruizinho, Si Salem, Paulo Roberto, Zazá, Zambujo e o Eridsson tinham continuado, visto que foram tão bons profissionais como aqueles que aqui continuaram. Neste dia, queria saudar todos estes oito atletas.

Não tivesse sido assumido esse risco, e como exemplo, o Matt Jones, o Duarte, o João Meira, o João Afonso, o Kay e o Filipe Ferreira, não podiam ter sido a base da nossa defesa nestes primeiros 14 jogos – todos somados, tinham zero jogos na primeira liga quando este campeonato começou.

A segunda decisão foi terem sido definidos jogadores como primeiras prioridades a serem contratadas, e terem entrado no Belenenses quando a pré-temporada estava a acabar (Miguel Rosa, Helgi Danielsson e Eggert Jonsson) ou o campeonato já tinha começado (João Pedro). Se o critério tivesse sido terem de estar cá no primeiro dia da pré-temporada, não estariam cá hoje, mas sim outros. Preferimos assim, e não nos arrependemos. Mas reconhecemos que o atraso na adaptação e no entrosamento da equipa, prejudicaram o rendimento nesta primeira fase.

O fim deste período de adaptação e a chegada dos reforços Fernando Ferreira (que esteve lesionado) e Tiago Silva (que apenas começou a temporada em Agosto, devido ao Mundial de sub20) serão os alicerces do nosso crescimento.

Sinto a preocupação dos adeptos com a actual classificação.

E compreendo a angústia de quem sentiu o receio da descida de divisão, em dada altura, em 4 das 5 últimas épocas. Não vai acontecer. Têm a nossa palavra.

Não tem de ter esse receio a equipa que tem o apoio dos adeptos depois de uma derrota por 6-0 (como tivemos no jogo com a Naval na época passada), depois de perder em casa o terceiro jogo seguido na liga (Nacional), desde o início no jogo com o Marítimo (depois de perder 4 jogos seguidos) e durante um jogo que nos corre francamente mal (Estoril).

Não tem de ter esse receio a equipa composta por profissionais de tanta qualidade e carácter que depois de termos zero pontos em quatro jornadas, massacrados na imprensa com sentenças definitivas de falta de qualidade (que não de experiência) que, numa prova de personalidade e força que muitos não reconheciam ao Belenenses, nas dez jornadas seguintes faz 12 pontos. Sabem em que posição estaria o Belenenses se estas tivessem sido as 10 primeiras jornadas? Sabem quantos pontos fizeram o Arouca, Paços de Ferreira e Olhanense nestas 10 jornadas? Já agora, também o Braga, Rio Ave, Marítimo ou Académica?

Não tem de ter esse receio a equipa que a tem a liderar uma equipa técnica das melhores em Portugal. Com um líder, Mitchell Van der Gaag, que não hesitou, apesar das múltiplas sondagens para outros clubes, em continuar apesar da época brilhante do ano passado, e que, apesar do problema de saúde que todos recordamos continua a fazer exemplarmente o seu trabalho, apenas com a única limitação que o seu médico lhe impõe. Já passaram três meses do seu período de recuperação total. Com um treinador adjunto com a competência do Marco Paulo, e cujas qualidades humanas e amor ao Belenenses fizeram com que desde o início parecer que estava cá desde Julho de 2012.

Não tem de ter esse receio a equipa que tem um dos melhores departamentos médicos em Portugal.

Não tem de ter esse receio a equipa que tem uma estabilidade financeira que permite, infelizmente ao fim de muitos anos, acabar 2013 sem uma única notícia de salários em atraso ou de penhoras (não foi fácil, para quem tinha em 1 de Julho de 2012 um passivo de 10 milhões de euros e um défice mensal de 100 mil euros).

Gostaria de terminar o ano com os adeptos do Belenenses mais felizes. Também porque me fizeram tão feliz, desde o primeiro dia.

O Belenenses começou por ser a minha SAD, hoje é o meu clube.

Aqueles que sempre nos apoiaram, aqueles que nunca nos apoiaram, os que deixaram de apoiar, os que passaram a apoiar, somos todos Belenenses. Partimos de pontos diferentes, de momentos diferentes, mas o nosso destino vai ser o mesmo.

O objectivo no longo prazo do Belenenses só pode ser um – voltar a ser campeão de Portugal.

Não poderemos ter esse objectivo antes de resolvermos o nosso passivo e termos um centro de estágio.

Mas, o mais importante, será sermos 10 mil a apoiar todos os jogos no Restelo. É o mais difícil, o maior desafio que todos temos. Sem o conseguirmos, não voltaremos a ser campeões.

Com um abraço azul,
Rui Pedro Soares