O defesa central João Afonso é uma cara bem conhecida da Ericeira, tanto dos que partilharam com ele ondas e fintas durante a adolescência (e o chamam pela alcunha, que é uma segunda pele dos jagozes) como daqueles que, mais recentemente, o vêm nos estádios ou na televisão a defender a camisola do Belenenses.

Formado no Sporting, passou por clubes como Estrela da Amadora, Torreense ou Mafra antes de chegar ao histórico clube lisboeta – com o qual alcançou o escalão principal do futebol português aos 31 anos, após uma época a todos os títulos memorável para os rapazes da Cruz de Cristo. Conversámos após a jornada em que a turma do Restelo causou sensação ao empatar na Luz com o Benfica, num jogo em que João Afonso teve um desempenho muito elogiado. Nas linhas seguintes fala-se dessa noite especial e do actual momento do Belenenses, clube que tem bastantes adeptos na Ericeira, terra de adopção do futebolista e onde este pondera vir a terminar a sua carreira.

Foi a primeira vez que jogaste no estádio do Benfica?

Não, esta foi a segunda vez. Na época passada perdemos 6-0 contra a equipa B. Foi uma experiência fantástica e, muito sinceramente, não deu para sentir o famoso inferno da Luz uma vez que o estádio não estava muito cheio. Mas nota-se claramente um ambiente muito diferente dos outros estádios. Por exemplo, a comunicação entre os jogadores é impossível, porque não nos conseguimos ouvir.

Qual foi a estratégia que usaste para defender jogadores como Lima e Cardozo?

Estamos a falar de jogadores com muita qualidade e, por vezes, não existe estratégia para os conseguir parar. Temos que estar muito concentrados e não facilitar. Essa È a única estratégia possível com jogadores de elevada qualidade.

A tua comemoração no fim do jogo, num misto de raiva e júbilo, foi filmada pela Benfica TV e ficou na retina de muita gente. O que estavas a exteriorizar naquele momento?

A sensação de dever cumprido pelo excelente resultado . Alcançámos um objectivo colectivo que, à partida, seria muito difícil. Estava feliz e orgulhoso do nosso trabalho, pois ninguém acreditava que fosse possível, excepto nós.

Os meus amigos benfiquistas perdoaram-me porque são mesmo meus amigos.

Os teus amigos benfiquistas moeram-te muito o juízo nos últimos dias? E qual foi a reacção dos sportinguistas e portistas?

Como é lógico, os sportinguistas e os portistas ficaram muito contentes. Os meus amigos benfiquistas perdoaram-me, mas só porque são mesmo meus amigos. As felicitações chegaram de todas as cores clubísticas.

Jogas no Belenenses, clube com muitos adeptos fervorosos na Ericeira. Sentes apoio dos jagozes?

Sinto muito apoio dos jagozes do Belenenses. Muitos têm ido ao estádio ver os jogos e foi uma surpresa o número de pessoas do Belenenses na Ericeira. Acabei por conhecer muitos através do Gigi [ndr: Egídio Jorge, filho dos proprietários do restaurante Mar díAreia], o adepto mais ferveroso da vila. E estou a adorar sentir este apoio.

Sinto muito apoio dos jagozes do Belenenses.

O Belenenses ocupa o último lugar da tabela, na companhia do Paços de Ferreira, com apenas 4 pontos, após ter sido campeão da Segunda Liga. O nível da Primeira Liga é muito mais alto? E pensas que podem manter-se na divisão principal?

Depois de uma época perfeita e uma subida de divisão em que batemos todos os recordes, estávamos muito optimistas para o início deste campeonato. Tal não aconteceu, revelou-se difícil, pois não tínhamos experiência de Primeira Liga. O futebol é mais rápido e mais técnico, totalmente diferente da Segunda Liga. Com o passar das jornadas e depois de alguns erros cometidos, assimilámos processos e os resultados estão a aparecer. Logicamente que outra coisa não nos passa pela cabeça que não seja a manutenção. E temos equipa para conseguir algo mais.

Os dois últimos resultados são a motivação que precisavam para mostrarem o vosso valor? Segue-se a recepção ao Olhanense, que só tem mais um ponto que vocês. … um jogo para ganhar?

Obviamente que os últimos dois resultados levantaram a moral da equipa. A vitória contra o Marítimo foi o ponto de viragem e o empate na Luz foi muito bom, mas só faz sentido se ganharmos ao Olhanense. Todos os jogos são para ganhar.

Consideras ter agarrado a titularidade com estes dois últimos jogos, que renderam uma vitória em casa com o Marítimo e este empate fora com o Benfica?

Quem sabe e quem tem que decidir é o treinador. Eu sou mais um para trabalhar e ajudar o Belenenses a atingir os seus objectivos. Funcionamos sempre em prol do conjunto e nunca individualmente. Mas não escondo que agora estou mais próximo de jogar e manter a titularidade.

O Mitchell [Van der Gaag] pediu-nos para disfrutarmos o jogo na Luz, e felizmente pudemos dedicar-lhe um empate.

O que aconteceu com o treinador Van der Gaag enfraquece-vos ou dá-vos mais força para lutarem por um melhor lugar na tabela? Tens alguma mensagem para ele?

O que aconteceu foi muito complicado e só nos pode dar mais força para ganharmos os nossos jogos. Apercebemo-nos na altura que era muito grave, mas tínhamos uma tarefa para cumprir, principalmente por ele. O Mitchell pediu-nos para disfrutarmos o jogo na Luz, pois era um jogo diferente e felizmente pudemos dedicar-lhe um empate. É o nosso líder, é quem dá a cara por nós nos bons e maus momentos e a mensagem que gostaria de transmitir-lhe é que se restabeleça o mais rapidamente possível, pois a sua presença é essencial para o sucesso da equipa.

Pelo que sabemos, o presidente do Grupo Desportivo União Ericeirense (GDUE), filial do Belenenses, alimenta o sonho de te ver a vestir a camisola do clube da terra. Isto faz parte dos teus planos?

Claro que gostava de terminar a minha carreira de jogador no GDUE. Curiosamente, o presidente Mano Silva manifestou essa vontade, da mesma forma que eu já tinha falado com alguns amigos sobre esse desejo. Seria uma forma bonita de encerrar este ciclo da minha vida.

Fonte: http://www.ericeiramag.pt/sonhos-em-tons-de-azul/